Bruno Fernandes mudou-se para Itália [Novara] com apenas 18 anos, quase por acaso. Hoje, aos 22 anos é visto como uma das promessas do futebol português. Joga no meio-campo e tem sido aposta nas seleções mais jovens, somando 20 internacionalizações entre os sub-19 e a seleção olímpica.
 
Já havia quem o seguisse depois de sair do Boavista, mas as boas exibições nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 despertaram maior interesse. Aos portugueses e a outros clubes: jogava na Udinese e mudou-se para a Sampdoria no último defeso.
 
Também se falou numa possível transferência para o FC Porto, mas em entrevista ao Maisfutebol, o jovem jogador português esclareceu esse interesse. Falou ainda dos três anos em Udine, da mais-valia que foi trabalhar ao lado de Di Natale e sobre outros temas.
Como está a correr a adaptação à Sampdoria? Chegou ao clube com a época já em andamento…
Está a correr bem. Está a ser uma adaptação fácil porque já conhecia alguns jogadores e os que não conhecia já os tinha visto jogar. O ambiente dentro do balneário é muito bom e por isso foi fácil entrar no grupo. Desta vez já não tinha nenhum problema porque já estou em Itália há muito tempo e já falo a língua.
 
Em cinco jornadas soma poucos minutos. Foi a presença nos Jogos Olímpicos que o prejudicou?
Não, é verdade que cheguei já com a primeira semana de competição a decorrer, mas o que me tem prejudicado é o facto de a equipa estar a jogar muito bem. E isso, ainda que não seja benéfico para mim, é positivo porque claro que fico contente por isso. O importante é a equipa estar bem e conseguir bons resultados. 
 
Mas não tem conseguido…
Não, mas tem estado a jogar bem. Defrontámos duas grandes equipas - a Roma e o Milan - e podíamos ter saído com o resultado a nosso favor. Não foi possível, mas a equipa tem estado bem e tem sido essa a causa, talvez, de eu não ter entrado tão rápido na equipa.
 
Porque trocou a Udinese pela Sampdoria? Apesar de muito novo, já era uma figura do clube…
Passei lá três anos muito importantes, acima de tudo porque foi a equipa que me deu a possibilidade de chegar à Série A. Foram anos muito bons e nos quais fui muito acarinhado, em que nunca tive problemas, mas achei que estava na altura de sair. Também a Udinese, face à proposta da Sampdoria, achou que seria benéfico eu sair. Escolhi a Sampdoria porque foi o clube que mais mostrou interesse em mim e que me queria desde janeiro. Foi pelo interesse demonstrado que escolhi.
 
Nesses três anos na Udinese, foi colega do mítico Di Natale. Como era a relação com ele?
Era boa, sempre foi um jogador importante na Udinese. No último ano não jogou tanto, mas no meu primeiro ano joguei muito ao lado dele e foi muito importante para o meu crescimento. Sempre me ajudou e tentou que eu melhorasse. Foi bom para o meu percurso jogar ao lado de um jogador como o Di Natale e partilhar o balneário com ele.
 
Di Natale falou de si há dois anos e ao mesmo tempo que o elogiou, criticou: «O Bruno Fernandes irrita-me porque é jovem e é o que tem mais qualidade entre todos nós. Tem uns pés incríveis, mas às vezes acomoda-se durante os jogos.»
Sim, disse-o publicamente mas já me dizia isso a mim. Dizia-me que tinha de melhorar e insistir em ter mais continuidade no jogo, estar mais presente e sempre dentro do jogo. Não levei a mal e foi com um enorme orgulho que ouvi também essas palavras. Ouvir o Di Natale dizer que eu era o jogador com mais qualidade dentro da equipa, que podia fazer a diferença, é muito positivo. O Di Natale fez a diferença, foi algumas vezes o melhor marcador do campeonato italiano, e ver-me assim é um enorme orgulho. 
 
Fora os elogios, quanto às críticas… acomoda-se mesmo?
Não sinto isso, acho que se devia ao facto de a equipa baixar as linhas quando estava a ganhar. Acho que ele se referia ao facto de eu não pegar mais na bola, ter mais jogo e continuar a levar a equipa para a frente. Ele queria que eu mantivesse esse tipo de jogo do início ao fim e isso nem sempre acontecia. Às vezes por culpa minha, outras pela equipa. Acho que é normal. Ainda bem que me o disse e que me ajudou também a evoluir nesse aspeto, porque sinto que ultimamente tenho estado melhor relativamente a isso.
 
Em que é que o ajudou mais?
Deu-me vários conselhos. Quando cheguei estive algum tempo sem jogar, não estava nas ideias do mister para começar a jogar no início do campeonato, estive para ser emprestado, mas o treinador quis que eu ficasse na mesma. Na altura treinava muito à parte porque o plantel era muito grande e eu era o mais novo, que não fazia parte das ideias. Treinava remates à baliza e gestos técnicos e o Di Natale ajudou-me muito nisso. É um jogador muito técnico e muito bom rematador, é um jogador que tem qualidade e visão de jogo muito boas. Aprendi muito com ele, a postura do corpo, a maneira como apoiar o pé e certas coisas que às vezes não fazemos caso e são muito importantes.
 
Bruno Fernandes nos JO Rio 2016, entre Tomás Podstawski e Gonçalo Paciência
Como foi a experiência nos Jogos Olímpicos?
Foi uma experiência muito positiva em vários aspetos. Pensam que nós achamos que somos melhores do que os outros, mas não. Estar ali no meio de todos foi bom, também por isso. E, claro, para vivermos a experiência de estar entre os melhores de todas as modalidades e conviver de perto com eles. Foi espetacular.
 
E quanto aos resultados? Portugal não podia fazer mais depois da «convocatória surreal»? 
É óbvio que podíamos ter feito mais, mas acho que quem foi convocado esteve bem e respondeu bem à chamada. O mais importante ali era dar o melhor por Portugal e acho que ninguém ligou a essas coisas. Depois de lá estarmos, sendo a primeira ou a última escolha, o importante era representar Portugal e representá-lo ao mais alto nível. Numa competição como os Jogos Olímpicos, numa oportunidade única, acho que não nos sentimos mais ou menos do que os outros. E sinceramente até acho que foi importante a chamada de alguns jogadores que não estavam à espera de ir. 
 
Começaram bem, mas saíram do Brasil goleados pela Alemanha….
Seguramente que poderíamos ter feito mais e melhor. Começámos muito bem, sim, com uma vitória sobre a Argentina, que ninguém acreditava ser possível; no segundo jogo vencemos as Honduras e no terceiro empatamos com a Argélia, mas passámos na mesma em primeiro. Depois encontrámos uma Alemanha que estava a grande nível e nós, se calhar, também não estivemos muito bem. Podíamos ter feito melhor, mas a Alemanha foi melhor e mereceu passar.
 
Agora está nos sub-21 e Portugal já garantiu a presença no próximo Europeu, mas nessa altura vai ter quase 23 anos. Espera já estar nos A ou o foco está nos sub-21?
O meu objetivo é estar no Europeu de sub-21 e ajudar os sub-21 a ir o mais à frente possível. Para já é o meu objetivo, porque foi uma coisa que comecei e que gostaria de acabar. Não tive a possibilidade de participar no último europeu e para o ano gostava muito. É um dos meus objetivos.
 
Mas chegar à equipa principal é um sonho, não?
Claro que como qualquer jogador sonho em chegar à equipa principal, e gostaria de chegar o mais rapidamente possível, mas se não for possível não ficarei preocupado. Se assim não for é porque ainda não é a altura certa e esperarei pela minha oportunidade para poder demonstrar valor.
 
Pelo quem tem vindo a demonstrar, prova que é um dos melhores médios do futebol português atualmente. Há muita esperança em si. Isso pressiona-o?
Não. Vou continuar a dar o meu melhor, no clube e sempre que for chamado à seleção, se um dia for chamado aos A também darei o meu melhor para poder estar e continuar nas opções do mister Fernando Santos. Além disso, continuarei a trabalhar também para mim para continuar a crescer como jogador.
 
Ainda assim, também é uma posição em que a seleção nacional principal está bem servida. Acha que por isso a chegada aos A pode tardar?
Não posso ver isso pelo lado mau, só pode ser bom porque me vai ajudar a querer melhorar sempre mais e a trabalhar ainda mais. Neste momento a seleção tem um meio campo muito forte e acredito que por isso não seja fácil, mas o meu percurso só começou há três anos. Ainda tenho muitos anos de carreira pela frente. É um sonho, mas nunca será uma obsessão. A minha única obsessão é melhorar todos os dias.