* enviado-especial a Sevilha

Um pé esquerdo sublime. Gentil e, paradoxalmente, venenoso. Davor Suker era assim, passeava classe na forma como ameaçava. O croata foi um dos príncipes do futebol mundial na década de 90, um príncipe regente.

Fez três golos no Euro96, seis no Mundial98 (melhor marcador da prova) e foi eleito o terceiro melhor do mundo pela FIFA em 1998, atrás apenas de outros dois fenómenos: Zinedine Zidane e Ronaldo Nazário de Lima.

Aos 46 anos, Davor Suker é presidente da federação croata e um eterno cavalheiro. A forma como atende o Maisfutebol para uma entrevista descontraída e descomplexada confirma a imagem deixada em 2003, ano em que decidiu dar descanso às chuteiras. Jogava, então, no modesto TSV Munique.

O que realmente importa, porém, está mais para trás. Osijek e Dínamo Zagreb no país natal, quatro temporadas e meia no Sevilha FC (adversário do FC Porto na quinta-feira), três no Real Madrid e depois a mudança para a Premier League e Londres, onde jogou no Arsenal e no West Ham.

Para quem não se lembra deste futebolista notável, vale a pena fazer uma pausa na leitura. Deleitem-se com este chapéu com que presenteou Peter Schmeichel no Croácia-Dinamarca (3-0) do Europeu de 1996:



Em Sevilha, Suker esteve 1991 e 1996. E basta andar nas calles empedradas da zona histórica para perceber que permanece um mito. Suker é a mais bela personagem na riquíssima vida do clube ( Maradona é um alienígena, qualquer comparação é injusta) e autoridade máxima no Bairro do Nervión.

A partir de Zagreb, Suker fala ao nosso jornal sobre o decisivo Sevilha-FC Porto de quinta-feira. E não só, naturalmente. Tudo num castelhano perfeito. O dele e o nosso.

Representou o Sevilha no início da década de 90. Ainda segue a vida do clube?
«Sempre, sou um adepto fervoroso. Estive na cidade a assistir ao dérbi contra o Bétis, na Liga Europa. E dei sorte. Infelizmente não poderei estar no Sánchez Pizjuán para o jogo diante do FC Porto, mas verei tudo pela televisão».

Quais são as memórias mais fortes desses anos em Sevilha?
«O meu golo ao Bétis em 1996. De pé direito (risos), nem eu acreditava. Um golo em Atenas, ao Olympiakos, e a temporada 1992/93, na qual tive o melhor do mundo, Maradona, como colega de equipa. O ambiente no estádio era maravilhoso, sempre, e na cidade também. Os adeptos do FC Porto vão adorar Sevilha. Mesmo que percam (risos)».

Homenagem a Davor Suker no Sánchez Pizjuán:



Por jogar nesse estádio que tão bem conhece, o Sevilha é favorito?
«Tenho dúvidas. Habituei-me a ver o FC Porto na Liga dos Campeões e até é estranho tê-lo na Liga Europa. É um clube de prestígio e cheio de experiência europeia. Se o Sevilha não marcar cedo terá muitos, muitos problemas. Bem, se me permite vou pela aposta mais lógica para o meu coração: em Sevilha o Porto não passa».

Há um jogador croata no Sevilha, Ivan Rakitic. Está a fazer uma bela época…
«É o jogador mais influente deste Sevilha. Fico feliz e orgulhoso por ver um compatriota meu a ser feliz numa cidade que eu amo. É o meu jogador favorito no atual Sevilha e pode decidir a qualquer instante. É, juntamente com o Mandzukic (Bayern) e Modric (Real Madrid), o jogador-chave na seleção da Croácia».

No FC Porto há algum jogador de que goste especialmente?
«Toda a gente fala em Jackson. Não pode jogar? Bem, o FC Porto tem aí um problema. Quem joga no lugar dele? Ghilas? Conheço mal. Se não há Jackson, vou por Quaresma, um avançado de talento puro, um jogador de rua».

De Portugal tem boas memórias? Recordo-me de uma derrota croata no Euro96.
«Só entrei ao intervalo e já perdíamos por 2-0 [3-0 no final]. Os meus amigos Vítor Baía e Luís Figo não nos deram hipóteses, mas Portugal e Croácia seguiram em frente. Seria fantástico que pudesse acontecer o mesmo no Sevilha-FC Porto mas, perdoem-me os amigos portugueses, só o Sevilha estará nas meias-finais da Liga Europa. Com o Sevilha até à morte, digo sempre isso».

«Ah, por favor envie um abraço meu a todos os meus amigos de Portugal. Vemo-nos no Estádio da Luz para a final da Liga dos Campeões».

Momentos de Davor Suker: