O nome na camisola não deixa indiferente quem o defronta no Campo da Mata. No meio-campo, com o número 13 nas costas, Tiago carrega consigo o apelido da família, mas também o sonho de um dia poder alinhar ao lado do irmão.

Assim se resume a ainda curta carreira de Tiago Esgaio. Aos 20 anos, o irmão mais novo do sportinguista Ricardo Esgaio é rei do meio campo do Caldas, equipa que partilha o nome da localidade que representa, Caldas da Rainha.

Depois de uma experiência falhada no Rio Ave, o «Pirlo dos Arcos» desceu até à zona oeste e ao Campeonato de Portugal para poder mostrar o seu futebol aos grandes clubes.

Após a eliminação da Taça de Portugal, diante do Estoril, o Maisfutebol falou com o jogador. Uma curta viagem ao passado, analisando o presente e perspetivando o futuro do mais novo dos Esgaio.

 
Apesar da boa resposta do Caldas frente ao Estoril, isso não foi suficiente e foram eliminados. Significa isto que o Tiago perdeu a hipótese de alguma vez vir a defrontar o Ricardo?
«Estou triste pelo resultado, mas foi uma boa experiência, só temos de estar orgulhosos do que fizemos. Era um sonho meu passar esta eliminatória e jogar contra o meu irmão. Quem sabe se para o ano que vem isso poderá acontecer. Vou continuar a acreditar que é possível».

Foi formado no Nazarenos, depois passou alguns anos na União de Leiria. Antes de chegar ao Caldas ainda teve uma curta passagem pelo Rio Ave. O que correu mal no Estádio dos Arcos?

«No princípio era para ter assinado pelo Rio Ave, mas não aconteceu. A passagem pelo Rio Ave não foi fácil, porque tive de deixar família e amigos para trás. Como era para jogar no Campeonato Nacional de Seniores decidi que era melhor ficar perto de casa».

Tinha alguma alcunha no Rio Ave, por ter o nome que tem?
«No Rio Ave chamavam-me o João Moutinho, por causa do estilo de jogo. Tenho uma boa visão de jogo, consigo adaptar-me bem em qualquer posição. Diziam-me que também era parecido fisicamente. Outros chamavam-me o Pirlo dos Arcos, porque no primeiro jogo (um dos melhores que tive) estava a fazer muitos passes e estavam a sair todos bem».

O apelido Esgaio traz uma pressão adicional?
«Sim, mas é uma pressão boa. Por vezes há adeptos que me tentam picar só por ter o nome do meu irmão, mas isso dá-me ainda mais vontade e prazer no jogo».

Que objetivos traça para esta época no Caldas?
«Ajudar a equipa a ir à segunda fase é o nosso objetivo. Depois, procurar o melhor para tentar fazer uma gracinha em ano de centenário. Podemos sonhar com a subida».

Dar o salto está dentro dos planos?
«Tenho os pés bem assentes no Caldas mas estou sempre a pensar no futuro. O meu objetivo é dar o salto já esta época, mas sei que ainda sou novo e tudo pode acontecer».



Acha que este jogo com o Estoril abriu as portas para que isso aconteça?
«Estou à espera que algum clube da I Liga ponha os olhos em mim. Os clubes já não têm tanto dinheiro para investir e são obrigados a vir buscar jovens ao Campeonato de Portugal. Este jogo com o Estoril, se não abriu portas, pelo menos, algumas pessoas ficaram a conhecer-me, nem que seja só pelo nome. Mas acho que sim, abriu as portas para mim e para os meus colegas de equipa».

Não tem receio que esse salto obrigue a ser adaptado a outra posição no campo, tal como aconteceu com o Ricardo?
«Sinceramente nunca pensei muito sobre o assunto, porque posso ocupar as três posições do meio campo. Não tenho receio nenhum, porque se tiver de dar o salto vou dar sempre o meu melhor».

Gostava de jogar com o seu irmão?
«Claro, é o meu maior sonho. Cheguei a jogar com ele no Nazarenos. Há cerca de quatro anos joguei contra ele, num Leiria-Sporting, eu era juvenil (foto). Gostava de jogar com ele numa competição maior. Ele diz que sou um grande jogador (risos) e que tenho condições para chegar lá acima, mas pediu-me para desfrutar o momento. Gostava de um dia representar o Sporting, por ser o meu clube do coração, e com o meu irmão ainda ficou mais».



Costumam ver-se com regularidade?
«Sempre que vou a Lisboa tento estar junto com ele. Ele raramente consegue vir ver jogos, porque tenho jogado ao fim-de-semana, mas liga-me sempre a perguntar como correu o jogo. Agora, para o encontro com o Estoril, tinha-me dito para jogar com naturalidade e desfrutar».

Quando é que sentiram que queriam fazer do futebol a vossa vida?
«Desde crianças que, onde estávamos, estava também uma bola de futebol. As nossas brincadeiras eram sempre jogar à bola na rua ou até em casa. Partimos muitas coisas em casa a jogar à bola (risos). Quando [o Ricardo] foi para fora [para o Sporting] senti muito a falta dele porque era o meu apoio, mas ao mesmo tempo fiquei contente, porque ele foi atrás do sonho dele e sei que posso contar com ele para tudo».



O que vos distingue enquanto futebolistas, para além da posição que ocupam em campo?
«Eu prefiro um futebol com mais posse e mais calma, como o do Barcelona. Ele gosta também, mas prefere um futebol mais objetivo, mais como o do Real Madrid. Eu gosto de estar sempre em contacto com a bola, ele gosta de um futebol mais cerebral».

Havia algum outro jogador com quem gostasse de jogar?
«Para além do meu irmão, o meu ídolo é o Iniesta. Acho que é o melhor médio centro que existe, é uma referência para mim e para todos e acho que se tivesse de escolher alguém para roubar umas características era a ele. Roubava-lhe a visão de jogo claramente. Tenho de acreditar que ele me podia roubar alguma coisa também (gargalhadas)».