Mais do que um salto, um voo. Em classe executiva. Dos distritais de Bragança e do pequeno Vila Flor SC, cuja história já mereceu alargada reportagem no nosso jornal, ao imenso Brasileirão e ao histórico Figueirense FC. A vida de Rafael Santana no futebol é tudo menos comum.

Como é que um jogador passa de um modesto emblema transmontano para o maior representante do Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil? Nada melhor do que ouvir as respostas do próprio protagonista.

Há um ano, Rafa dividia o balneário com Marito e Chico Ló, apenas dois dos muitos desconhecidos no plantel do Vila Flor SC; nos dias que correm, é treinado por Argel e tem ao lado Thiago Heleno e Ricardo Bueno, os nomes mais famosos do emblema de Florianópolis.

«Saí do Vila Flor no final de 2013 e não voltei a ter clube. Tentei a minha sorte na Suíça [Lugano] e na Albânia mas, por um ou outro motivo, não arranjei clube. Voltei em maio ao Brasil e nas últimas semanas treinei com o Figueirense. O técnico gostou e já assinei contrato», explica Rafa Santana ao Maisfutebol, do outro lado do Atlântico.

Travão a fundo. Cassete rebobinada. Mais uma dúvida: como e quando chega Rafa Santana a Portugal?

«Comecei a jogar nos sub15 do Grémio de Porto Alegre. Nos sub17 fui para o Figueirense. Fiquei até aos sub20, altura em que me mudei para o Puebla, no México», conta o defesa central, agora novamente zagueiro.

«Entretanto, um empresário convenceu-me a jogar na Europa e levou-me para Portugal. Assinei contrato com o Trofense numa manhã e à noite o empresário tinha fugido e rompido a responsabilidade que tinha comigo, com o clube e outros jogadores. Fiquei sem nada».

Aos 20 anos e com pouco dinheiro no bolso, Rafa foi salvo por um convite de última hora. Arriscado, sim, mas ao mesmo tempo tentador.

«O Vila Flor ouviu falar da minha situação difícil. O presidente André Morais falou comigo, explicou-me que o clube queria subir do distrital de Bragança ao CNS e eu aceitei o desafio. Tenho muito orgulho em ter passado pelo clube».

Rafa Santana subiu de divisão com o Vila Flor e continuou no clube para a época 2013/14. «Adaptei-me bem. Eu sou de Floripa, uma cidade maravilhosa, de praias lindas e agitação, e de repente estava numa pequena vila do interior português, de seis mil habitantes», recorda.

A «simpatia das pessoas», a «seriedade da direção» e os «bons resultados» tornaram a experiência de Rafa em Vila Flor «muito valiosa».


«Fiz nove jogos e mais um para a Taça de Portugal. Saí à procura de uma oportunidade maior, na Suíça, e não correu bem. O melhor, nesta altura, era voltar a casa. O Figueirense reabriu-me a porta».

Em Floripa, Rafa Santana aguarda a estreia na Série A do Brasileirão. Por ora, aprende com alguém que sabe do ofício. «O Argel também foi zagueiro. Já falámos sobre Portugal, o FC Porto e o Benfica. Ele é um cara explosivo e exigente no trabalho, mas fora do campo sabe ouvir e conversar».

O Figueirense está no 13º lugar do Brasileirão e procura a manutenção. No balneário está outro jogador que passou por Portugal. «Sim, o Mazola esteve no Portimonense [7 jogos, 2 golos na II Liga]. Bem, se eu voltar será certamente para um clube grande».

No Brasil, o salário de Rafa Santana é «dez vezes superior» ao que auferia em Portugal. Ficou o carinho e a admiração por um clube onde reaprendeu «a ter amor» pelo futebol.

«Nunca esquecerei o jogo da subida, contra os Africanos de Bragança, e a estreia no CNS, frente ao Freamunde. Obrigado Vila Flor».