Peças de teatro foram realizadas, construções em lego edificadas, poemas e documentários escritos e inspirados pelo momento.

O pontapé de Eric Cantona num adepto do Crystal Palace - «um hooligan da pior espécie», segundo Le Roi (O Rei) – é um instante icónico do futebol inglês, definidor da atmosfera vivida por esses dias nos estádios e da própria personalidade do antigo avançado francês.

25 de janeiro de 1995: aconteceu há 20 anos e o Maisfutebol não podia esquecê-lo.

«Foi um erro, claro, mas creio ter feito a vontade a muitos adeptos». Cantona, claro, irónico e bem humorado, fala sem drama desse arquétipo perfeito de Kung Fu. Numa declaração à BBC, o francês demonstra até algum orgulho.

«Os jogadores são conhecidos pelos golos. Mas por isto, só eu».
 
Lembra-se de como foi o famoso pontapé de Cantona em Selhurst Park?

 

Eric Cantona chega ao Manchester United em 1992 e ajuda o clube a interromper uma longa seca de troféus. Em Old Trafford celebra quatro títulos de campeão (1993, 1994, 1996 e 1997), além de duas Taças de Inglaterra (1994 e 1996) e três supertaças (1993, 1994 e 1996).

Torna-se amado pelos adeptos do United (já o era no Leeds, anterior clube) e detestado por todos os adversários. A postura arrogante, muitas vezes provocadora, do genial Eric não ajuda à pacificação.

Mas, voltando a essa fria noite de janeiro no estádio do Crystal Palace, é importante dizer que a confusão começa após Cantona ser expulso, após agressão a Richard Shaw.

No meio dos protestos e da confusão, o avançado encaminha-se para perto da bancada, empurrado por um funcionário do ManUtd (Norman Davies) e é insultado violentamente por Matthew Simmons. O jovem de 20 anos desce 11 filas de cadeiras para confrontar o atacante e a coisa acaba mal, muito mal.

Gary Pallister, titular na defesa do United, relembra o incidente: «O Eric era sempre o alvo número um dos insultos. Ele era sempre maltratado porque era o melhor jogador. Nessa noite perdeu a cabeça completamente».

Alan Smith, treinador do Palace nessa altura, tem a sua quota de memórias: «O que mais me marcou foi ver o United a jogar todo de negro. Nenhum deles tinha desfeito a barba. Pareciam ferozes. Pedi, então, ao Shaw para marcar em cima o Cantona. O Shaw era um ótimo rapaz, de cabelo encaracolado, sempre simpático, mas dentro do campo fazia o papel de durão. E bem».

Alex Ferguson, na sua autobiografia, atira as culpas para cima do árbitro Alan Wilkie. «Permitiu aos dois centrais do Palace fazerem as faltas que quiseram. Isso precipitou os eventos seguintes».

Cathy Churchman era a adepta do Crystal Palace que estava ao lado do suposto hooligan, Matthew Simmons. «De repente ele [Cantona] olhou para trás. Pensei que olhava para mim. Nunca esquecerei aquele olhar mortal. Percebi rapidamente que ele iria fazer alguma coisa estúpida».
  

Cantona diz que o pontapé foi «um erro», à BBC:

 

Eric Cantona é suspenso até ao final da temporada de 1994/95. Quatro meses. Em tribunal teve de suportar uma sentença de duas semanas na prisão, rapidamente trocada por 120 horas de serviço comunitário.

Simmons, o agredido, desaparece largos anos, até reaparecer no Big Brother Celebridades, em Inglaterra. Em 2011 volta a ter problemas num estádio de futebol, durante um jogo das camadas jovens do Crystal Palace. Apanha dois anos de prisão, mas a pena é suspensa. E volta ao anonimato.

O Crystal Palace-Manchester United, desse janeiro de 1995, acaba 1-1. David May marca para os visitantes, Gareth Southgate empata para os londrinos, a dez minutos do fim.

Para a memória futura fica apenas o pontapé de Cantona. O pontapé que chocou todos, menos o próprio Eric.

O momento até em lego foi recriado: