A ’Euro 2016 Network’ reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Textos por Lukáš Vráblik

Parceiro na Eslováquia: Dennik N.

«Análise tática e questões chave»

Impressionante numa campanha de qualificação que incluiu uma vitória histórica sobre a Espanha e terminar em segundo lugar à frente da Ucrânia. Não há dúvidas de que a Eslováquia ressurgiu depois da nomeação de Jan Kozak, em 2013, após os fracassos para alcançar os dois principais torneios anteriores [ao Euro 2016]. Difícil de bater e nada fácil de enfrentar, a Eslováquia tem como maior problema estar obrigada a dominar jogos como ficou demonstrado no empate sem golos com a Letónia, em março.

Os eslovacos são muito mais propensos para o papel de underdog e, com um leque reduzido de jogadores para escolher, as principais mudanças de Kozak foram táticas ao invés de individuais. Kozak conseguiu notoriamente tirar o melhor proveito de Marek Hamsik, o craque do Nápoles e o membro mais importante da equipa eslovaca. Hamsik tem tido efetivamente liberdade tática jogando como o médio mais ofensivo num sistema 4-2-3-1.

Atrás de Hamsik há dois médios disciplinados em Juraj Kucka – um típico box-to-box, do Milan – e o mais defensivo Viktor Pecovsky, que ainda não está completamente em forma após uma lesão. Hamsik foi excelente nas eliminatórias, sendo o melhor marcador com cinco golos. Mas a maior força da Eslováquia é também a sua maior fraqueza e uma dependência do jogador de 28 anos significa que há pouco de ameaçador na maneira de atacar se ele for anulado.

Compreensivelmente, Kozak não admite isso publicamente, mas com problemas na posição de ponta de lança o alarme parece soar a verdadeiro. Adam Nemec começou regularmente durante as eliminatórias, mas perdeu gás, enquanto o experiente Robert Vittek está lesionado. Isto deixa Michal Duris como o único avançado em forma – tendo marcado 16 golos pelo Viktoria Plzen.

A Eslováquia sempre foi uma equipa assente numa defesa sólida e rápida no contra-ataque contando com alas velozes como Vladimir Weiss, Miroslav Stoch ou Róbert Mak. No lado direito da defesa, Peter Pekarik também tem velocidade, mas, como ficou evidente frente à Letónia, é um fardo para a Eslováquia ter que mandar no jogo contra uma defesa organizada.

Outra preocupação para Kozak quando o Europeu se aproxima é a forma dos seus defesas – confiáveis na qualificação sofrendo apenas oito golos, mas individualmente fora de forma ou lesionados. E não há melhor exemplo do que Martin Skrtel, do Liverpool. Peter Pekarík, Norbert Gyomber, Jan Durica e Tomáš Hubočan ou estão lesionados ou não jogam regularmente nos clubes.

Embora possa parecer que a Eslováquia tem o seu quinhão de problemas antes do início do torneio, os jogadores têm exibido o seu melhor futebol quando tiveram de desafiar as probabilidades. E, como já vimos, sob gestão da Kozák, tudo é possível. Eles vão estar confiantes e vão lutar até ao final para realizar o objetivo de avançar para a fase a eliminar.

Onze provável (4-2-3-1): Matúš Kozacik; Peter Pekarík, Martin Škrtel, Ján Ďurica e Tomáš Hubočan; Juraj Kucka e Viktor Pečovský; Róbert Mak, Marek Hamšík e Vladimír Weiss; Michal Ďuriš.

Que jogador da Eslováquia vai surpreender no Euro 2016?

Como Kozak é um treinador muito conservador, é muito improvável que ele inclua algum talento escondido no onze. Mas espero que muitas pessoas não tenham ouvido falar do extremo direito Robert Mak. O jogador de 25 anos formou-se na academia do Manchester City antes de se tornar um elemento chave para o PAOK na Grécia. E trouxe a sua boa forma para a equipe nacional também tendo marcado o único golo no jogo de qualificação crucial na Ucrânia. Tecnicamente dotado e rápido, Mak, supostamente no radar de vários clubes italianos, incluindo Milan e Fiorentina, tem uma grande oportunidade de provar as suas qualidades e conseguir uma transferência para uma liga melhor.

Que jogador poderá ser uma deceção?

É difícil prever com tanta antecedência, mas Vladimir Weiss pode ser um homem que pode brilhar ou desiludir. Ele teve alguns muito bons desempenhos na qualificação e tem sido um dos jogadores chave. E até mesmo um treinador tão rigoroso como Kozák deixa-o abandonar as suas funções defensivas de modo a conservar energia suficiente para as suas incursões rápidas no ataque. Aparentemente, é o jogador mais técnico da seleção, mas pode não ter os níveis físicos necessários para jogar 90 minutos depois de passar duas temporadas no Qatar.

Até onde pode chegar a Eslováquia e porquê?

A Eslováquia é uma das seleções mais imprevisíveis na Europa. Eles são capazes de bater qualquer um e, mesmo que pareça um pouco estranho, preferem partidas contra adversários mais fortes em que eles aguardam que o seu opositor tome a iniciativa. É provável que a Inglaterra lidere o grupo, mas a Eslováquia, a Rússia e o País de Gales são três equipas igualmente muito equilibradas e as suas classificações finais dependerão da forma e de lesões de jogadores importantes. Mas a Eslováquia tem qualidade suficiente para avançar para a próxima fase, seja em segundo ou terceiro lugar.

Segredos por detrás dos eslovacos

Martin Skrtel

Antes das eleições presidenciais em 2014, Martin Skrtel apoiou abertamente um dos candidatos: o então (e atual) primeiro-ministro Robert Fico. No vídeo, Skrtel disse: «Como um atleta e, principalmente, um jogador de futebol, eu aprecio de facto Robert Fico. Durante o seu mandato, a construção do estádio nacional começou e isso é muito bom para o futebol eslovaco porque os estádios estavam num estado desolador. Como jogador de futebol, eu gosto de um duelo duro e justo e em Robert Fico vejo um homem que tenta fazer vingar os seus pontos de vista enquanto respeita as regras. Eu acho que ele seria um presidente adequado para a República Eslovaca.» O que se passou foi que Fico perdeu as eleições e o estádio nacional ainda não foi construído.

Marek Hamsik

Hamsik, um grande admirador do antigo médio da Juventus Pavel Nedvěd, é um jogador chave da Eslováquia desde a sua estreia frente à Polónia em fevereiro de 2007. Após o Mundial 2010, Hamsik lançou o seu próprio perfume chamado «Marek SSC Napoli» que, no início, foi um grande sucesso, especialmente no mercado italiano. «Eu não estava envolvido no desenvolvimento da fragrância, eles só colocaram o meu nome lá. Para ser totalmente honesto, eu realmente não sei como cheira. Eu não uso muito perfumes, apenas em ocasiões especiais», admitiu.

Jan Mucha

O ex-treinador Vladimir Weiss apostou fortemente em Mucha como o guarda-redes nº1 e, principalmente graças ao seu excelente desempenho na neve em Chorzow contra a Polónia em 2009, a Eslováquia classificou-se para o Mundial 2010. Mas Mucha escolheu então o clube errado para ir – o Everton, onde ele não jogou regularmente, fez um par de erros e perdeu não só a sua confiança, mas também o lugar de titular na seleção. Após o regresso à Eslováquia para jogar pelo Slovan Bratislava, Mucha tornou-se um rosto da campanha para apoiar a doação de medula óssea. O seu filho lutou com sucesso contra o cancro. «Durante os seis meses de duração do tratamento percebi muita coisa. Um homem descobre imediatamente que um monte de coisas, que anteriormente significaram muito, agora não têm qualquer importância. Estamos a tentar resolver problemas que não são de todo problemas»; disse Mucha numa entrevista ao «Pravda».

Ján Ďurica

Um defensor intransigente que cresceu numa família do futebol (o seu pai e o seu irmão também foram jogadores) tem jogado ao lado de Skrtel no centro da defesa desde 2004. Quando era mais novo foi responsável por erros terríveis ao passar a bola lá atrás, mas depois de ganhar experiência parece muito mais confiante. À parte um breve período em Hannover, passou a maior parte da carreira na Rússia, onde jogou pelo Saturn Ramenskoye e, desde 2009, pelo Lokomotiv Moscovo. No passado, namorou com a atriz e modelo russa Mariya Gorban, mas agora tem um filho com Magdalena Sebestova, Miss Eslováquia 2006 (que também é a ex-namorada de Filip Sebo, um atacante ex-Rangers e bom amigo de Durica).

Miroslav Stoch

Em 2011, Stoch, já depois de passados dois anos no Chelsea, conduziu o carro sob a influência de álcool e foi temporariamente retirado da seleção nacional como consequência. Jogador talentoso, apesar da sua tenra idade, desenvolveu uma propensão para escândalos incluindo o uso de uma linguagem bastante robusta em eslovaco durante uma entrevista em Inglês quando jogou pelo Twente.

A figura Juraj Kucka

Em 2006, Juraj Kucka jogava no ZP Desporto Podbrezova, numa aldeia no meio da Eslováquia, com menos de quatro mil habitantes, fazendo carreira na segunda divisão. Perguntaram-lhe qual era o seu maior sonho no futebol e, aos 19 anos, não escondendo nem um pouco de ambição, respondeu: «Eu gostaria de jogar em algum lugar no estrangeiro, especialmente na Serie A. A melhor equipa que há é o Milan.»

Ele pode ter sido gozado pelos que o rodeavam, mas, nove anos depois, ninguém ficou a rir quando o diretor geral do Milan, Adriano Galliani, pagou ao Génova cerca de três milhões de euros pelos seus serviços. Kucka publicou de pronto a entrevista de 2006 no Instagram e escreveu: «Os sonhos tornam-se realidade. Só temos de acreditar e sacrificar alguma coisa.»

Que Kucka tenha acabado por ir parar ao Milan não é grande surpresa, mesmo se o Inter, cujos olheiros fizeram viagens frequentes à Eslováquia para observar jovens jogadores, tivesse sido o destino mais provável. Ele passou através da malha nessas ocasiões e, mesmo tendo o Inter adquirido 50% dos direitos do médio em agosto de 2011, oito meses após a sua transferência para o Génova, Kucka acabou por nunca ir para o Inter.

A mudança para Génova foi selada pelo desempenho no Mundial 2010 contra a Itália, com uma vitória por 3-2 que garantiu um lugar entre os 16 últimos e deixando os detentores do troféu fora do torneio. Kucka tinha feito a sua estreia internacional em 2008, mas não jogou qualquer partida da qualificação para o Mundial 2010.

Os seus desempenhos pelo Sparta Praga levaram Kucka para um estágio na Áustria. Depois de brilhar num empate 1-1 com os Camarões, preenchendo o vazio deixado pelo lesionado Miroslav Karhan, Kucka estava no avião para a África do Sul. Contra a Itália Kucka fez o jogo da sua vida, naquela que foi indiscutivelmente a mais famosa vitória da Eslováquia desde a sua independência em 1993.

A Eslováquia regrediu depois de 2010 não se qualificando para o Euro 2012 nem para o Mundial 2014. Com Jan Kozak os sinais de melhoria foram óbvios e na fase de qualificação para o Euro 2016 a Eslováquia registou vitórias notáveis sobre a Espanha e a Ucrânia, com Kucka em nove dos seus 10 jogos do Grupo C, fazendo dupla com Viktor Pecovsky no meio-campo e dando liberdade a Marek Hamsik para atacar.

No seu segundo grande torneio, Kucka pode colocar-se de novo na montra. Favorito para jogar como médio box-to-box no 4-4-2 de Sinisa Mihajlovic – o sérvio que foi substituído por Cristian Brocchi comparou Kucka a um panzer –, Kucka pode sair após 12 meses em San Siro se Silvio Berlusconi vender o clube. Mas seu estilo de jogo garante que ele terá uma palavra a dizer.

Olhando para as contratações do Milan no verão passado, Kucka não foi um jogador que se destacou, como Carlos Bacca, Alessio Romagnoli e Andrea Bertolacci – mas todos custaram mais de 19 milhões de euros. Mas durante sua apresentação em San Siro, Kucka prometeu que iria dar o seu melhor e, até agora, ele tem cumprido a palavra, como foi sempre o caso nos primeiros dias de sua carreira.

O Sparta sempre recrutou muitos jogadores na Eslováquia, mas poucos conseguiram provar as suas qualidades na liga checa, que é mais exigente. Mas apesar da sua juventude, Kucka rapidamente se tornou um dos jogadores mais importantes do Sparta e, ao lado de Wilfried Bony, estava no radar de clubes da Europa Ocidental. O Génova acabou por ganhar a corrida para a sua contratação ao mesmo tempo que Kucka continuou a orquestrar o meio-campo da Eslováquia aproximando-se das 50 internacionalizações pelo seu país.