Autor: Jordi Quixano

Conquistadora dos últimos louros supremos no futebol - Euro 2008 e Mundial 2010 - a seleção espanhola parte para esta Europeu como favorita, algo que acontece pela primeira vez na sua história. Uma novidade que não perturba a «roja», que de há um tempo a esta parte guarda os seus melhores desempenhos para jogos oficiais e não para particulares. Aí, tem sido posta em causa por rivais menores, como Costa Rica e México, ou derrotada, de forma mais ou menos expressiva, por seleções mais poderosas como Itália, Portugal, Argentina ou Inglaterra.

Apesar disso, a solidez do grupo espanhol não oferece dúvidas, para lá das suscitadas pela ausência de David Villa (fratura da tíbia em dezembro) e dos ajustes táticos que Del Bosque possa fazer na defesa. A maior incógnita, em todo o caso, passa por ver se a Espanha jogará de acordo com a imagem do Barcelona, aplicando a ideia de que o futebol ofensivo pertence aos médios, uma frase que define a ideologia de Guardiola, ou se, pelo contrário vai manter as particularidades da fórmula que lhes deu tanto sucesso nos últimos anos.

Del Bosque recebeu o testemunho de Luis Aragonés, com uma proposta de jogo liderada por jogadores do Barça, e que exigia a posse de bola, o passe como estandarte, e o recurso ao remate apenas na área adversária. O sistema, imutável, partia do 4-3-3, com Busquets, Xabi Alonso e Xavi no meio, com Villa à esquerda, Iniesta à direita e com Torres como ponta de lança. O Mundial, porém, custou o lugar a Torres, realojou Villa no centro do ataque e passou Iniesta para a esquerda, abrindo uma vaga para Pedro na direita. Agora, por certo, o arranjo precisará de novo ajuste. Com Villa fora de combate e Torres posto em causa porque no Chelsea nunca conseguiu ser o finalizador que brilhou no Atlético e no Liverpool, a Espanha não deverá ter alternativa se não reforçar a aposta nos médios. Dando como adquirido que a aposta no 4-3-3 não será posta em causa, e que Iniesta vai manter o lugar na esquerda, fica sem saber-se quem vai ocupar os lugares na direita e no eixo do ataque.

Mata e Silva, esquerdinos que jogam como interiores, podem atuar no flanco trocado, para aproveitar os movimentos para dentro, com um passe de rotura ou um remate de pé esquerdo. No meio, porém, Llorente parece mais uma solução de emergência do que uma aposta permanente, já que é mais um finalizador, sem os argumentos de construção que a equipa habitualmente exige na fase ofensiva. E assim emerge a figura de Cesc (ou do preterido entre Mata e Silva, no flanco) que no Barcelona já tem desempenhado um papel semelhante, de falso avançado, à la Cruyff, quando Messi não joga. A ser assim, o onze inicial, para além do guarda-redes e dos quatro defesas, teria seis médios e nenhum avançado de raiz.

No pólo oposto, sendo certa a titularidade de Casillas, resta uma pequena dúvida na defesa: o crescimento de Jordi Alba parece ter convencido Del Bosque na lateral-esquerda, no lugar que foi de Capdevila. Mas com a ausência de Puyol e a temporada do Real Madrid a confirmar que Sergio Ramos é um central notável,capaz de pressionar em zonas adiantadas, equilibrando a equipa e as movimentações do parceiro graças à sua velocidade, Del Bosque poderá arrumar a dupla de centrais, fazendo-o jogar ao lado de Piqué, e abrindo uma vaga na lateral direita.

*Jordi Quixano é jornalista do El País. Este artigo está integrado na Euro2012 Network, uma cooperação entre alguns dos melhores meios jornalísticos dos 16 países participantes na competição.