Tonya Carpenter teve alta hospitalar na sexta-feira para ser transferida para uma clínica de reabilitação onde vai dar seguimento à sua «excelente recuperação». As avaliações anteriores já davam esperanças ao seu restabelecimento quando tinha evoluído para os estados clínicos «estável» e «bom». Mas, uma semana antes, quando deixou Fenway Park, o estádio dos Boston Red Sox, esta espectadora saiu em «perigo de vida» no relato das autoridades.

O jogo de beisebol de dia 5 colocou em campo a equipa da casa e os Oakland Athletic’s (ou A’s). Brett Lawrie bateu uma bola e o acidente aconteceu. O taco do jogador da equipa visitante partiu-se em duas partes e uma delas saiu disparada a alta velocidade em direção às bancadas. Tonya Carpenter foi atingida pelo que já era um projétil de madeira.

A mulher de 44 anos foi atingida na cabeça e sangrou muito. Foi assistida e retirada de imediato do estádio.

Estas imagens que mostram a jogada do acidente podem ferir a suscetibilidade de leitores por alguns gritos de dor de Tonya Carpenter enquanto é transportada para fora de Fenway Park.



O taco partiu quase pela base, Brett Lawrie não terá ficado com mais do que com 30 centímetros do bastão de beisebol nas mãos.





Um taco de beisebol mede cerca de um metro e tem um diâmetro máximo à volta dos seis centímetros. Quando é movimentado para bater com força, o bastão acerta numa bola atirada, em estimativa generalizada, a cerca de 150 kms/h. É, também assim, mais fácil concretizar o pedaço de madeira que saiu projetado (e a velocidade a que terá seguido) em direção às bancadas.

Veja-se este outro exemplo do que pode acontecer quando um taco de beisebol parte ao bater-se numa bola:



Num acidente destes, um espectador pode ser atingido por um pedaço pequeno ou grande do taco, a pequena ou grande velocidade, com uma superfície menos ou mais afiada... as variantes vão existindo. E os casos de bastões partidos no beisebol também. Os jogadores ainda não foram incluídos como vítimas numa discussão deste teor, mas, agora, depois do acidente que deixou Tonya Carpenter em risco de vida, a proteção dos espectadores nos estádios de beisebol deixou os Estados Unidos em estado de debate.

O comissário da Major League Baseball (MLB) afirmou depois deste caso que é necessário reavaliar a segurança dos espectadores: «Quando há um tema destes, um incidente destes, temos de recuar e reavaliar onde é que estamos em todas as questões de segurança.» E acreditem que vamos fazer isso. Temos de responder de forma veemente a um incidente destes», garantiu Rob Mafred, em declarações veiculadas pela AP. À mesma agência, a MLB também assumiu que «irá reexaminar a segurança dos adeptos nos estádios» prometendo uma participação «em pleno nesse processo».

Tonya Carpenter estava a ver o jogo com o filho, Aidan, de 8 anos, e com um amigo ex-colega de trabalho. Ela estava na segunda fila (a contar de baixo – entre o centro do campo e o banco da equipa da esquerda: a visitante).



A agência Bloomberg refere que, só em relação a bolas perdidas, há uma média de 1.750 adeptos feridos por ano. O «Boston Globe» concretiza que, no Fenway Park, em 45 bolas perdidas, 30 vão parar às bancadas. O mesmo «Globe» refere que, nos anos 1990, a média de pessoas atingidas foi aumentando de 36 para 53. Em 2003, o assunto voltou a ser mais falado quando se colocaram mais bancadas junto ao nível do relvado e sem redes.

A maior parte dos estádios da MLB tem uma rede na parte da bancada atrás dos jogadores que batem e apanham as bolas, mas essa rede presa ao teto não tapa os lugares mais junto ao campo. Em Fenway Park também não.



O estádio dos Boston Red Sox ficou no centro da questão porque foi onde aconteceu o acidente com Tonya Carpenter. Segundo a Sociedade para a investigação do Beisebol Americano, referida pela agência noticiosa de Boston «wbur», Fenway Park, é o estádio mais antigo da MLB e é o recinto com a mais reduzida zona «morta» entre o campo de jogo e as bancadas.



Pode comparar-se Fenway Park com o Oakland Coliseum, onde jogam os A’s.


Dá para ver que há diferenças. Mas que não serão suficientes quanto ao que ficou, agora, em aceso debate: a segurança dos adeptos. A AP escreveu que, nos três dias seguintes ao acidente com Tonya Carpenter, houve tacos partidos a voarem para as bancadas em pelo menos três outros estádios.

No Fenway Park, há uma dúzia de sinais a dizer «Esteja alerta – Bolas perdidas e tacos magoam». «As pessoas vêm cá e aceitam o facto de que podem ser atingidas por um bastão ou uma bola. É um perigo implícito quando se vai a um jogo», disse no domingo seguinte G. G. Kelly, de 61 anos, de Boston, ao «Globe». Já Nicole Schall, de 40 anos, de Phoenix, pensa o contrário: «Nós vimos a um jogo de beisebol para nos divertimos, não para ficarmos feridos. Não vimos cá a pensar que é uma coisa perigosa, disse.

No verso dos bilhetes para os jogos dos Boston Red Sox pode ler-se que o portador do ingresso «assume voluntariamente todos os riscos e perigos de (...) ferimentos pessoais decorridos de incidentes do jogo de beisebol (...) incluindo (...) os perigos de ser ferido por objetos vindos pelo ar ou arremessados, incluindo tacos e bolas».

O que está aqui em causa é uma regra muito antiga do beisebol. A «Baseball Rule» data desde o início do século XX e dispõe que os donos dos estádios e promotores dos jogos não são responsáveis por ferimentos causados por bolas perdidas ou pedaços de bastões partidos, desde que haja uma certa quantidade de lugares protegidos por redes ou com visionamento por televisão. O ónus de acidentes é atirado para os adeptos.

A jurisprudência dos EUA tem sido nesse sentido, mesmo que já haja casos com queixosos a ganharem à Baseball Rule, segundo o «Globe». Mas o debate está agora em que o jogo mudou, é muito mais rápido do que há dezenas de anos. As pessoas estarão com atenção no jogo, mas, ao mesmo tempo, este é um entretenimento e elas não estão com o que está no verso do bilhete na cabeça. Pensam é que vão a um divertimento. E mesmo que estejam atentos, podem não ter tempo de fazer o que quer que seja...

Brett Lawrie, pelas imagens que já se viu, percebeu logo que não estava tudo bem quando o seu taco se partiu – pois a probabilidade de ir para uma bancada é real. No domingo seguinte, o jogador dos A’s lembrou ao «USA Today» que é necessário «perceber que faz parte do jogo e [que], quer atinja alguém quer não», é preciso ter presente que uma bola perdida ou um pedaço de taco a voar «acontece numa base diária». «É uma daquelas coisas que fazem parte do jogo. Quando nos sentamos lá atrás tudo está muito perto. Esperamos sempre que tudo esteja OK».

Naquela sexta-feira anterior, em Fenway Park, todos ficaram a saber, incluindo Lawrie, que não estava. O jogador dos A’s não deixou de desejar as melhoras a Tonya Carpenter.
 


Uma das medidas agora em cima da mesa é preencher as zonas mais sensíveis dos estádios aos objetos voadores com as redes de proteção, aumentando-as na sua extensão, colocando-as em toda a parte de trás do círculo dos batedores, de um banco ao outro das equipas. Lawrie manifestou-se «cem por cento a favor» e deu mesmo o exemplo estreito de Fenway Park:«Devia ser uma coisa a ter em conta, definitivamente, e uma coisa que deviam estar a tratar de implementar. Sem dúvida.»

Lawrie não foi o único jogador a falar deste modo ao «USA Today»: «Quando chego à zona de bater a bola há sempre miúdos aos gritos. Eu estou sempre a dizer-lhes olhem para o batedor. Porque eu não quero ver alguém atingido por uma bola perdida ou algo do género. Sei quanto isso magoa. Eu não quero ver uma criança magoada.» «Se pudesse, colocava rede a toda a extensão entre os bancos das equipas», disse David Ortiz dos Red Sox.

Craig Breslow também joga na equipa de Boston e é representante da associação de jogadores da MLB e diz que «desde há algum tempo que os jogadores estão a favor de se proteger os adeptos», mas aponta que esta «é mais uma questão com as equipas». «Eu não vejo por que razão os jogadores iriam opor-se» às redes a toda a extensão entre bancos, referiu o atleta dos Red Sox ao «USA Today».

Esta discussão não está em estreia, apenas ficou reavivada. O sentimento latente é o de que os donos das equipas têm dúvidas sobre se os adeptos pagarão o mesmo por bilhete se ficarem a ver o jogo com uma rede à sua frente. A «Fox» refere fontes, inclusivamente, para dizer que os donos das equipas recusaram a extensão das zonas com rede em negociações laborais com os jogadores em propostas apresentadas quer em 2007 quer em 2012.

E o debate não deixa de fora os próprios adeptos, que Breslow frisou ser necessário proteger e cujo acidente com Tonya Carpenter os deixou no centro da questão. Chad LeBlanc foi ao jogo do outro domingo com o filho de 12 anos e prefere um lugar sem rede à frente: «Compreendo as objeções de ter algo à nossa frente.». Também à AP, Jeremy Welford contou como faz quando, pelo menos, leva a filha de 9 anos: «Se estivermos com uma criança, é muito perigoso. Eu sento-me atrás das redes e não me chateia.»