Estávamos em 1924. Um grupo de amigos de Barcelos tinha por hábito reunir-se no Largo do Teatro Gil Vicente, no centro da cidade. O país começava a despertar para o foot-ball e Barcelos queria um clube que representasse a cidade. Nasceu o Gil Vicente.

Na semana em que disputa a primeira grande final da sua história, o Maisfutebol percorreu os seus quase 90 anos. À procura de história e de estórias. Pela voz de João Trigueiros, antigo dirigente do clube ao longo de quase 50 anos, recordamos as melhores passagens. Uma história que mete tragédia, religião, polémicas, treinadores míticos e até Pinto da Costa...no Benfica.

João Trigueiros, em discurso direto.

Adelino Ribeiro Novo

«Era um grande guarda-redes. Eu tinha 12 anos e ele 24. Em 1946, salvo erro, num jogo com o Aves, um jogador entrou na área, ele saiu-se e acabou por levar um pontapé num rim. Não se levantou mais. Hoje se calhar não havia problema, mas na altura não era fácil fazer uma operação aos rins. Nunca mais me esqueci. Olhe, já estava contratado pelo F.C. Porto para a próximo ano.»

Os padres presidentes

«Foram um bom apoio para o Gil. O padre Linhares e o padre José Maria Furtado foram presidentes do Gil Vicente. Não se via muito, acho que na altura mais nenhum clube tinha um padre como presidente. Isto na década de 70, talvez.»

Quando o Gil ganhou...na secretaria

«Em Espinho, um jogador nosso entrou duro sobre um deles. Bem, começaram a saltar todos para dentro de campo...Ainda me meti, mas vieram dois jogadores ajudar-me a sair. Estava a chover, um deles pegou no guarda-chuva e deu tanta porrada no nosso jogador que acabámos o dia com ele no hospital. Estávamos a perder 3-1...ganhámos na secretaria.»

O património (qual?)

«O Gil não tem nenhum. Ou melhor, tem a sede. O estádio é da Câmara, o Adelino Ribeiro Novo...nem é bom falar. É uma história longa. Não tem campos de treino, não tem nada. Treina nos campos dos outros clubes do concelho. Vive da boa vontade deles.»

Os prémios de jogo (quais?)

«Levávamos os jogadores para os jogos nas carrinhas que arranjássemos, levávamos um garrafão de vinho, uma sande de marmelada para cada um e era o prémio de jogo. E eles iam todos contentes. Antigamente vivia-se mais o clube. Em Barcelos, no Largo da Porta Nova, estava sempre muita gente a falar dos jogos.»

O mítico Joaquim Meirim

«Se há coisa de que me orgulho é de ter trazido o Meirim para o Gil Vicente. Era o melhor treinador português. Foi o primeiro a fazer o aquecimento no relvado, antes dos jogos. Toda a gente aquecia no balneário. Era um visionário. Não achava possível que ele viesse mas fui a Lisboa tentar. Peguei num carro de alta velocidade, que ainda hoje tenho num museu, e fui. Convenci-o e passou a ser o treinador mais caro que tivemos. Fiz uma direta e ele chegou a Barcelos no outro dia de manhã. Parecia o Presidente da República. Foi uma festa enorme.»

O 25 de Abril quase custou 500 contos

«O Guimarães deu-nos 500 contos pelo Pedrinho, um brasileiro. Muito dinheiro. Fechámos o acordo no dia 24 de Abril de 1974. No dia seguinte foi a revolução. Tivemos de ir a correr ao banco levantar o dinheiro, antes que fechasse. Porque depois da revolução os jogadores deixaram de estar presos aos clubes e podíamos não ganhar nenhum. Antigamente um jogador era de um clube para toda a vida, a não ser que pagassem por ele. Não havia contratos.»

O elogio a Pinto da Costa



«Eu não sou portista, tenho até uma costela de benfiquista, mas simpatizo muito com o senhor Pinto da Costa. Ele gosta do Gil. É um grande presidente. Fez do F.C. Porto um clube conhecido a nível mundial. Mas como eu tenho aquela costela benfiquista um dia disse-lhe: Eu muito gostava que você fosse presidente do Benfica. Fazia do Benfica o melhor clube do mundo!. Sabe o que é que ele me disse? Eu também gostava...em 24 horas dava cabo daquilo