Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências.

Em entrevista ao Maisfutebol, Amaury Bischoff, hoje com 30 anos, recordou os tempos de formação no Werder Bremen, onde treinava regularmente com a equipa principal, cheia de talento: «Com 17, 18 anos é muito bom jogar com jogadores como Mertesacker, Klose, Frings, Borowski, Özil e Diego. Eram todos internacionais. Foi uma oportunidade incrível».

Não singrou na equipa principal do vice-campeão alemão (2005/06), mas chamou a atenção de outro gigante: o Arsenal. «É incrível quando o Arsène Wenger te liga e diz que quer que jogues pelo Arsenal», recorda o português, que reservou somente elogios ao treinador francês, mesmo em tempos de crise nos Gunners

«Sei que tem sido criticado. É difícil. O Arsenal não tem tanto dinheiro como o Chelsea, Manchester United e Manchester City, mas está lá há muitos anos, é fantástico», adicionou.

«É o melhor treinador do mundo para os jovens. Sabe falar com eles e trabalhá-los», acrescentou. «Sempre que o Arsenal vem cá jogar à Alemanha, vou falar com ele. Foi muito importante para mim, é uma excelente pessoa».

Bischoff recordou com saudades os quatro jogos que somou com a camisola do clube do norte de Londres, incluindo um jogo na Premier League, numa vitória por 3-0 frente ao Portsmouth, onde substituiu o internacional Theo Walcott. 25 minutos de glória para Bischoff. «Para mim o Arsenal é dos melhores clubes do mundo, ao lado de outros como o Real Madrid e Barcelona».

Mesmo não conseguindo encontrar o seu lugar na equipa principal, Bischoff diz que «tudo correu bem». Ainda hoje mantém contacto com muitos colegas da altura, como Sagna, Clichy, Wilshere, Coquelin e Djourou.

Depois de um ano no reino de Wenger, chegou a altura de decisões. «O Wenger queria que eu ficasse, mas não garantia que ia jogar, então saí».

A necessidade de jogar regularmente também surgiu de mãos dadas com o conselho de Carlos Queiroz, num treino com a seleção A nacional: «O selecionador disse que eu era um jogador muito interessante, mas que tinha de jogar ao mais alto nível regularmente». 

Surgiu então a oportunidade de estrear as chuteiras em território luso, depois de passar pela Alemanha e Inglaterra. Com os olhos postos na seleção principal (que acabou por não acontecer), Bischoff assinou com a Académica na época de 2009/10, mas não correu bem.

«Na Académica foi muito difícil, estive lá um ano e meio e tivemos uns seis treinadores nesse período. Para um jogador não é fácil: um gosta de ti, outro já não gosta». Sempre otimista durante toda a entrevista com o Maisfutebol, Bischoff diz ter gostado «muito de ter jogado em Portugal», não fechando as portas a um possível regresso no futuro.

Seguiu por empréstimo para o Desportivo das Aves, onde depois assinou em definitivo para a época de 2011/12, com o objetivo de subir à primeira liga, que falhou por pouco. O Aves, treinado por Paulo Fonseca, ficou em terceiro na II Liga, atrás do Moreirense e Estoril.

«Hoje ainda acompanho a primeira e segunda liga, vejo os resultados. Quando são jogos entre os três grandes vejo os jogos». Questionado sobre a preferência clubística, Bischoff foi claro: «Académica e Aves sempre. O Aves agora está muito bom, clube de primeira liga, até pode ir à final da taça. Mas clube grande não apoio nenhum», disse.

Bischoff completou o ciclo e regressou ao país que o lançou, novamente no norte da Alemanha, mas bem mais a sul na hierarquia do futebol germânico. Assinou pelo Preussen Munster, da terceira divisão. 

«No Werder Bremen conheci o Pavel Dotchev, e quando o meu contrato com o Aves acabou, surgiu a oportunidade de ir jogar com ele». Na terceira divisão alemã, o português sentiu-se como um peixe na água, e desde então, nunca mais saiu. «Logo no primeiro ano fui o melhor médio da liga. Tive propostas para ir para a segunda divisão, mas quis ficar com o Munster, com o Dotchev. Estive lá cinco anos, fui capitão», contou.

Hoje joga noutro clube, também da «3. Liga», o FC Hansa Rostock, e novamente treinado pelo búlgaro Dotchev. O objetivo «é tentar subir à segunda liga». Para já, o Rostock é 6º, seis pontos atrás do líder, e a um ponto do terceiro, que garante o play-off de subida.

O português comparou ainda o futebol português e alemão: «O futebol aqui na Alemanha é diferente, é mais físico, bola no ar. Em Portugal é mais rápido e técnico. E aqui os estádios estão sempre cheios, é futebol profissional mesmo na terceira divisão. No último fim-de-semana estavam 23 mil pessoas no estádio. Deve ser a melhor terceira divisão do mundo.»

O médio tenta não pensar no futuro, apesar de ter mais um ano e meio de contrato com o Rostock. «Um dia se calhar quero voltar a jogar em Portugal. Primeira ou segunda liga. Mas não tenho planos.»

Cresceu em França, e pouco tempo viveu em Portugal. Ainda assim insistiu conversar com o Maisfutebol na língua de Camões, que completa com algum vocabulário francês e alemão. Curiosamente, foi no país de Beethoven e Schumacher, da Bratwurst e do Sauerkraut que Amaury Bischoff encontrou o seu lugar no futebol europeu.