Chegou em 2010 ao FC Porto, passou por vários empréstimos e foi já desvinculado definitivamente do dragão que Henrique Sereno partiu em busca de um lugar para atuar com maior regularidade, primeiramente na Turquia e, numa fase posterior, na Alemanha. Porém, fustigado pelas lesões que foi contraindo ao longo do trajeto e somadas algumas aventuras inglórias, o defesa de 32 anos considera o término precoce da carreira.

Atualmente Sereno vive a segunda passagem pela Índia. A primeira aconteceu depois de frustrada aquela que define como a sua grande aposta em termos desportivos, a opção pelo Mainz em 2015/16. Não disputou qualquer encontro com a camisola do clube, fruto das lesões que lhe foram atormentando a carreira, naquela que era a sua segunda passagem pela Alemanha, depois de ter vestido as cores do Colónia, ainda por empréstimo do FC Porto, em 2011/12.

«Tinha depositado muitas esperanças em jogar. Larguei o contrato com o Kayserispor e apostei tudo ao nível desportivo, mas acabou por correr mal. No primeiro mês treinei sempre com limitações físicas, depois fui operado, parei outros quatro, e apenas voltei em janeiro. Não consegui acompanhar o ritmo da equipa, que estava muito bem. Fomos à Liga Europa e correu tudo bem. Não foi necessário alterar nada na equipa e, por vezes, é preciso um pouco de sorte. Infelizmente, não a tive, embora considere que foi uma boa experiência», começou por referir.

Terminado o vínculo contratual com o emblema alemão, rumou à Índia por apenas três meses para disputar a Superliga no Atlético de Kolkata, clube onde encontrou o também internacional português Hélder Postiga. Sereno já contou essa experiência ao Maisfutebol, pode recordá-la aqui.

«Rescindi com os alemães e só tive essa oportunidade. Na altura, apenas podia assinar por um país fora do continente europeu e aproveitei. Estava lá o meu amigo [Hélder] Postiga. Tinha-me dito que a liga era organizada e havia qualidade. Fomos campeões e fizemos um bom campeonato. Já tinha quase tudo acertado para voltar este ano, desde essa altura, para o Chennaiyin.»

Ainda antes do regresso ao território indiano, vivenciou uma breve experiência ao serviço do Almeria, emblema do segundo escalão espanhol que evitava a descida de divisão.

«Calhava bem, porque eram só três meses na Índia e depois podíamos assinar por mais dois ou três noutro país. Sabiam que vinha lesionado e, se calhar, não podia sequer efetuar um único jogo, mas, mesmo assim, contrataram-me. Na altura, o Almeria estava muito mal, fiz o meu melhor e acabámos por salvar a equipa. Parecia impossível, mas conseguimos o objetivo e ficamos muito contentes», recordou.

«Fez-me revitalizar a vontade de jogar futebol»

A recuperação da alegria de jogar futebol motivou o regresso à Índia, desta feita para representar o Chennaiyin. «Gostei bastante da experiência no Kolkata, apesar de o Chennaiyin estar numa melhor cidade e ser mais organizado. Não tem nada a ver com a mentalidade europeia, em que toda a gente quer jogar e se pisa mutuamente. É pura diversão. Voltei a divertir-me, que foi algo que me faltou na Alemanha, e fez-me revitalizar a vontade de jogar futebol. Foi um gosto que sempre tive, mas que fui perdendo ao longo deste percurso.», admitiu.

A Superliga indiana está ainda na quarta edição e tem atravessado um processo de melhoria contínuo. «De ano para ano, os donos dos clubes vão ficando mais inteligentes e não querem só grandes estrelas em final de carreira. Querem jogadores que possam dar uma boa dinâmica à prova. A nível financeiro é espetacular, para tão pouco tempo. Está muito bem organizado, os campos são bons, os hotéis onde ficamos são de cinco estrelas… Não falta nada e, por isso, tentamos retirar o máximo proveito da estadia.»

As principais dissemelhanças que encontrou nos planos pessoal e desportivo comparativamente à Europa residem, essencialmente, no lado humano e na qualidade técnico-tática. «Em Portugal, há alguns anos, existia harmonia entre os jogadores, saíamos e jantávamos fora como uma equipa. Aqui ainda há disso. As pessoas são de fácil tratamento e mais humildes, até», reconheceu.

«Há uma grande quebra a nível desportivo. Os jogadores são um pouco mais preguiçosos, principalmente devido ao calor. Continuam a contratar algumas estrelas, como o Berbatov, o Wes Brown, o Emaná, mas não tanto como antigamente. A nível técnico nota-se uma melhoria a cada ano que passa, mas existem muitas falhas no plano tático. Têm grandes limitações e é por isso que a maioria dos treinadores é estrangeira. A Índia é uma grande nação e terão, certamente, uma boa seleção, se fizerem as coisas certas», acrescentou ainda.

O objetivo traçado para a presente temporada pelo conjunto orientado pelo inglês John Gregory passa pela segunda conquista do campeonato. «O Chennaiyn foi uma vez campeão e nas outras duas foi o Kolkata. Por isso, este ano lutaremos para sermos campeões.»

«Desde os 23 anos que não tenho cartilagem no joelho»

Na sequência das alterações promovidas nos moldes da competição, que passou a ter uma duração de cinco meses, torna-se impossível a concretização de uma eventual transferência no atual mercado de inverno.

«Competimos até março. O Mundial sub-17 teve lugar na Índia e todos os campos estavam ocupados, o que motivou um atraso de dois meses no arranque do campeonato. Decidi que este, provavelmente, seria o meu último ano. Desde os 23 anos que não tenho cartilagem no joelho e cada vez me custa mais. Para não ter problemas maiores no futuro, terei de cancelar a minha vida desportiva. Estou a tentar aproveitar ao máximo o último ano. Pelo que já estou a passar, não vale a pena perder saúde. Prefiro ganhá-la do que ganhar mais dinheiro», admitiu.

«Se tivesse jogado e ficado no Mainz, poderia, certamente, ir à seleção»

O defesa sente que, se tivesse permanecido na rota europeia, teria, possivelmente, entrado nos planos da seleção nacional.

«Se tivesse jogado e ficado no Mainz, poderia, certamente, ir à seleção. Conhecia o João Costa, adjunto da seleção, que foi, na altura, meu treinador no Kayserispor e tudo fez para que saísse da Turquia. O Paulo Bento também tinha dito que teria de sair para continuar a ir à seleção. Sabia que estava nos planos deles, mas correu mal e lesionei-me outra vez. Depois de tantas lesões vamos ficando cada vez piores e isso custa-nos, porque fomos uma coisa e estamos a ser outra», revelou.

Ainda assim, não mostra qualquer arrependimento pelas opções de carreira tomadas. «Nunca nos podemos arrepender. Por alguma razão estamos aqui. Há que tentar aproveitar o momento.»

Até ao momento, ainda não teve oportunidade de disfrutar de Chennai, cidade onde habita. «Por agora, ainda não foi uma grande experiência. Inicialmente, tivemos de vir para Pune, devido às cheias. Todos os anos, por esta altura, a cidade fica inundada e o centro de treino impraticável. Não tive muito tempo para conhecer Chennai, mas quero conhecer algumas zonas.»

«Vemos muitas coisas que não são agradáveis aos nossos olhos»

Sente-se privilegiado por usufruir de boas condições de vida num país que enfrenta, maioritariamente, uma realidade totalmente distinta. «Vimos a realidade do país e estamos num hotel de cinco estrelas… Vemos muitas coisas que não são agradáveis aos nossos olhos. Uns estão bem e outros estão mal, mas é assim mesmo. Por vezes, saímos e dizemos ‘olha, em Portugal as pessoas queixam-se’… Todas deviam tentar vir aqui, contactar com esta realidade e ver como é que pessoas com tão pouco são tão felizes. Para nós é um privilégio estar cá.»

Em termos de planos para o futuro, Sereno pretende ingressar no mundo empresarial, embora desligado do futebol. «Gostaria, certamente, de entrar no mundo empresarial e tenho algumas ideias. Quando terminar a carreira, tentarei realizá-las. Quero ficar afastado do futebol. Vamos ver se é possível», rematou.