Esta é a história de Fábio Lopes que chegou a ser apontado como um dos jogadores mais promissores do futebol português depois de uma formação sempre em ascenção até aos séniores. Deu os primeiros passos no Estoril, jogou no Sporting com João Mário, Ricardo Esgaio e João Carlos Teixeira e depois no Benfica com Varela, Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro e Hélder Costa. Ainda na formação, esteve com um pé no Valencia, com dois pés no Bétis, foi campeão em Espanha e quase deu passo de gigante para o Milan, onde chegou a ser apontado como o «novo Rui Costa». Mas com a aproximação da idade de sénior, os sonhos do jovem começaram a desmoronar-se de azar em azar. Passou ainda por vários clubes em Portugal, voltou a tentar procurar a sorte lá fora, em Inglaterra, e acabou por fraturar uma perna. Esteve quase dois anos sem jogar, mas foi recuperado por Mariano Barreto para uma nova oportunidade na Lituânia. Aos 25 anos, Fábio Lopes começou uma nova vida no Stumbras.

Uma história que começa em Caparide, ali para os lados do Estoril, onde o pequeno Fábio começou a dar os primeiros pontapés na bola. «A primeira memória relacionada com o futebol que tenho é jogar à bola com os amigos na rua». Foi também através dos amigos que com apenas oito anos chegou ao Estoril. «Naquela altura não ligava muito aos clubes, queria era jogar à bola, não tinha muitas opiniões, queria era ir para os treinos jogar à bola e ficava contente só por isso. O meu primeiro ano foi de pré-escola, com a idade que tinha não podia ainda participar em competições. Jogávamos apenas em torneios e jogos particulares. No ano a seguir é que já entrei no campeonato. Jogava com os colegas que eram mais velhos do que eu, foi aí que comecei a jogar mais a sério».

Mais a sério, Fábio deu logo nas vistas. Tinha talento e os olheiros marcaram-no cedo, ainda antes dos dez anos. «Foi uma história engraçada. Na altura fiz um torneio pelo Estoril-Praia, joguei bem, mas o primeiro clube que apareceu foi o Belenenses. Entraram em contato com o meu pai e as coisas estavam praticamente fechadas para ir para o Restelo, mas um dia, estava a jogar à bola, na rua em frente à minha casa e a minha irmã desceu com o telefone a dizer que o meu pai queria falar comigo. Era para falar sobre uma oportunidade para ir para o Sporting, eles falaram com o meu pai que me deu opção de escolher. Escolhi o Sporting».

Até aqui, Fábio não pensava propriamente numa carreira, continuava a «querer jogar à bola», mas o Sporting começou a moldá-lo. «Os primeiros tempos foram enraçados. Eu via o Estoril não como um clube, mas como um grupo de amigos que jogava com a mesma camisola. Ia para lá para jogar à bola, não via as coisas de uma forma mais séria. Quando chego ao Sporting deparo-me com jogadores de muita qualidade, muito novos, mas já com algumas ideias e objetivos definidos. Apesar de sermos ainda muito novos, percebi que as coisas iam ser mais sérias do que tinham sido no Estoril. Tive sorte porque apanhei um grupo de uma geração muito boa. Os quatro anos que lá estive foram anos muito bons», recorda.

Um grupo que se foi formando, à medida que Fábio subia de escalão. «Na altura ainda treinávamos em Pina Manique, no campo do Casa Pia, só fomos para a Academia nos iniciados. No meu primeiro ano de Sporting, o João Mário ainda jogava no FC Porto, cheguei a jogar contra ele. O Ricardo Esgaio entrou com a idade de infantil, o João Carlos Teixeira entrou com o João Mário nos iniciados. A minha base era a do ano de 1993, nas escolinhas, com o Afonso Figueiredo, que estava a jogar em França [agora está no Levski, na Bulgária}, e mais tarde jogou comigo no Boavista. Apanhei também o Eric Dier, que agora está no Tottenham, e o Matheus Fonseca que, para mim, era o grande craque da altura e agora está no Casa Pia. Essa era a minha geração nas escolinhas. Depois, nos infantis, já entrou o João Mário, o Esgaio, o Ricardo Pereira».

Ao longo de quatro anos, Fábio foi fazendo novos amigos, mas um dos mais próximos era Martim Águas, filho de Rui Águas, que o acabou por arrastar Fábio para o Benfica. «Naquela altura não era assim tão polémico, as coisas não eram como são agora. No meu primeiro ano de iniciados não estava a jogar tanto como achava que podia jogar, mas normalmente até era opção. Na altura eu jogava com o Martim, eramos bons amigos e quando o pai [Rui Águas] passou a diretor do Benfica, ele sabia que eu não estava muito contente no Sporting e convidou-me. Quando o Martim foi para o Benfica, eu também fui», conta.

Mudança de camisola e os antigos «eternos» adversários passaram a ser os novos companheiros. «Estava lá Ivan Cavaleiro, Hélder Costa, Bernardo Silva, Varela... Era um grupo bastante engraçado também. Foi estranho, porque a maior parte dos meus colegas tinham sido meus adversários nos dois ou três anos anteriores. Havia sempre uma grande rivalidade no campeonato, havia muitos torneios, havia sempre uma grande disputa entre Sporting e Benfica. Mas foram dois anos muito bons também. Na altura já treinávamos no Seixal, na academia do Benfica, e também tive a sorte de apanhar uma geração boa. Foram dois anos fantásticos», recorda.

Bernardo Silva, como acontece agora no Manchester City, também era uma espécie de coqueluche da equipa, sempre disposto a entrar em brincadeiras. «Era muito miúdo, muito engraçado, andava sempre com uma bola debaixo do braço. Acabávamos os treinos, íamos tomar banho e, enquanto estávamos cá fora, à espera dos pais, estávamos sempre a jogar. Enquanto não íamos embora, estávamos sempre a trocar bolas. Havia muitas brincadeiras. Não é como agora está a acontecer ao Bernardo no City, ele agora está a apanhar com jogadores com mais dez anos do que ele e têm outro tipo de brincadeiras, mas fazíamos muitas partidas entre nós».

A verdade é que o talento de Fábio Lopes começava a extravasar fronteiras. Num torneio internacional, atraiu a atenção do Valencia. «Tive a possibilidade de ir para Espanha, estive lá duas semanas a treinar, mas na altura em que me dizem que querem ficar comigo, houve um conflito na direção, o clube não estava nas melhores condições, houve alterações na estrutura técnica e a pessoa que me convidou para ficar acabou por ir embora. Fiquei sem saber o que havia de fazer, se ia voltar para Portugal ou não». Nesta hesitação, o Bétis, também bem informado sobre o talento que ali estava, deu-lhe uma mão.

«Aceitei, achei que ia ser uma experiência boa para mim. Foi tudo completamente diferente em muitos aspetos. Por exemplo, em termos de academia, o Bétis não tinha metade das condições que tinha em Alcochete ou no Seixal, mas na forma de trabalhar o Bétis estava, sem dúvida alguma, à frente do Sporting e do Benfica em termos de treinos. Eu tinha 16 anos, mas o profissionalismo como tratavam os miúdos era diferente. Agora as coisas mudaram muito. Hoje em dia, um miúdo com 16 anos no Benfica já pode ter contrato profissional, mas na minha altura um miúdo com 16 anos era apenas um miúdo com 16 anos. Era visto como um bom jogador e, quanto muito, talvez como uma promessa para o futuro. Hoje em dia, qualquer um que se destaque um pouco mais do que os outros já é um craque e mais do que uma promessa. No Bétis achavam que um jogador aos 16 anos tinha de estar mais do que preparado para o futebol profissional. Foi fantástico para mim».

Fábio já era, nesta altura, mais do que uma promessa. Já tinha mostrado o seu valor no Sporting e no Benfica, com a conquista de quatro títulos, e agora no Bétis também foi campeão de juvenis e juniores em Espanha ao mesmo tempo que era convocado para a selecção nacional de sub-18. «Não posso dizer que tinha um grande estatuto, mas tinha alguma coisa. Tinha tido a oportunidadae de jogar no Sporting e no Benfica e, tanto um como o outro, são escolas fantásticas. Quando se sai de um clube desses, sai-se com alguma bagagem. Quando cheguei ao Bétis, apesar de eles serem espanhóis, conhecem bem o futebol português e reconheciam-me algum estatuto».

Era a primeira vez que Fábio estava sozinho no estrangeiro, mas adapta-se rapidamente a Sevilha com a ajuda de um antigo jogador do Benfica que, na altura, jogava na equipa principal do Bétis: Nélson, lateral que, aos 34 anos, ainda joga, no AEK Larnaca, no Chipre. «Deu-me uma grande ajuda, tive muita sorte em ter o Nélson lá. Era a primeira vez que estava fora de casa e passei muitos fins-de-semana na casa do Nélson. Na altura vivia numa residência do clube com cerca de quarenta outros jogadores. O Bétis não tinha muitos estrangeiros, mas tinha muitos jogadores provenientes de toda a Espanha. Andávamos todos na escola, depois íamos treinar».

«Novo Rui Costa em Milanello»

No Bétis, Fábio completa o último ano de juvenis, na primeira época, e faz o primeiro ano como júnior, na segunda. Estava determinado a ficar por Sevilha quando surge um convite inesperado do Milan. «Foram dois anos no Bétis muito bons para mim, mas quando aparece um gigante como o Milan interessado, a maior parte dos jogadores aceitaria, tens de largar tudo e ir». O Fábio largou tudo e foi. Viajou para Itália, fez exames no Centro de Treinos do clube rossonero e até já era solicitado para dar entrevistas. Os jornais italianos anunciavam, na altura, a chegada do «novo Rui Costa» a Milanello. «Houve uma certa comparação. O Rui Costa tinha jogado no Milan por muitos anos, as posições eram relativamente parecidas. Que eu me lembre, na altura, o Rui Costa tinha sido o último português a jogar no Milan. Quando chego a Itália e faço exames médicos, a imprensa fez todas essas comparações. A posição, o estilo de jogo, o facto de ser português e de vir do Benfica, fizeram essa associação ao Rui Costa», recorda.

Mas o sonho italiano não chegou a materializar-se, pelo contrário, esfumou-se em dois tempos. «As coisas já estavam basicamente encaminhadas para eu ficar, até que recebi uma chamada a dizer que tinha de voltar. Ninguém me explicou as razões. Depois, mais à frente, percebi que a pessoa que estava a tomar conta da situação, por uma questão de ganância, interrompeu as negociações e eu acabei por pagar por isso».

Na altura, Fábio Lopes era um jogador cobiçado por vários emblemas. Também se falava no interesse de outros clubes, como Juventus, Parma, Ajax e PSV Eindhoven. «Os jornais falavam nisso, mas a verdade é que a única coisa que tive em concreto depois do Milan, foi o Parma que, na altura, passava por dificuldades financeiras tremendas. Tinha lá um antigo colega que fazia parte do grupo da pessoa que me levou para Itália, estava na equipa Primavera do Parma e contou-me que os jogadores estavam com salários em atraso de cinco ou seis meses. Chegou a falar-se num contrato e em valores, mas as coisas no Parma não estavam bem e decidi voltar a Portugal. Fui prejudicado por um empresário, por ganância».

A carreira ascendente de Fábio sofria aqui uma travagem brusca. A partir daqui, o caminho seria mais árduo. «Fique abalado por esta situação não ter dado certo, até porque estava muito bem no Bétis. Fiquei sem saber o que havia de fazer à minha vida. Recebi algumas propostas para continuar em Espanha, não do Bétis, mas achei melhor voltar a Portugal. Na altura achei que ia ser bom, mas depois acabei por me arrepender». Fábio tinha ainda um ano como júnior para cumprir e aceitou um convite do Nacional da Madeira, já a pensar no futuro como sénior.

É na Choupana que faz um novo amigo, Lucas João, atualmente a jogar no Sheffield Wednesday, mas as recordações não são nada positivas. «Foi completamente diferente do que estava à espera. Foram só cinco meses na Madeira, mas foram complicados. Para quem vinha de Lisboa, o clima lá é um pouco diferente. Nós vivíamos no estádio, nas instalações do clube que é muito acima da zona central do Funchal. Na zona onde estávamos fazia um tempo horrível, muito vento e frio. Depois descíamos lá abaixo ao Funchal e estava um sol incrível, as pessoas a passear de t-shirt. O tempo lá é assim, em cinco minutos, passamos do oito para o oitenta. Até o ar na Choupana era diferente. Tínhamos de fazer um pouco de preparação porque o oxigénio não é suficiente por causa da altitude», recorda.

Num espaço de poucos meses, Fábio Lopes passa pelo Milanello, Choupana e, no início da época seguinte, estava no Tondela que, na altura, jogava na II Divisão. «Era o meu primeiro ano de sénior e ter a oportunidade de começar na II Liga era muito bom. A maior parte dos meus colegas que não estavam em clubes grandes estavam a jogar na II Divisão B ou na III Divisão. Tive a oportunidade de começar na II Divisão». Uma boa oportunidade, mas com poucas possibilidades de jogar num plantel de jogadores mais velhos, dirigido por Vítor Paneira. «Os primeiros anos de sénior são sempre muito complicados, tinha apenas 18 anos, era altura de ganhar experiência, ganhar maturidade para entrar no futebol profissional. É muito diferente de jogar nos juniores. Na altura achava que podia ajudar a equipa, mas o mister Vítor Paneira tinha outras opções. Apesar de ter mais um ano de contrato, preferi sair para poder jogar do que ficar e não ser opção». Seguiu-se o Famalicão, no Campeonato Nacional Seniores. A ideia era descer um degrau para depois subir dois. «Cheguei um pouco mais tarde, já no final da pré-época, o plantel do Famalicão já estava fechado. Nos primeiros tempos não fui opção, mas depois houve uma mudança na equipa técnica, os resultados eram maus, e comecei a jogar com mais regularidade».

No final da época, Fábio tinha um convite para voltar à Madeira, para jogar pelo Marítimo B, mas pelo meio apareceu o Boavista que, na altura, tinha acabado de voltar à I Liga. «Disse logo que sim, aceitei e assinei contrato». Fábio chegava ao primeiro escalão, mas não conseguiu convencer Petit. Ainda fez a pré-época, mas depois foi cedido ao Farense, numa primeira fase, antes de voltar ao Porto para acabar a época no Salgueiros. Na primeira fase da época, no Algarve, Fábio Lopes encontra um Farense renovado por investidores chineses. «Era um plantel com muitas nacionalidades, incluindo dois chineses. Também joguei pouco, quando já estou a sair, chegou o Abel Xavier. Ainda treinei uns dias com ele, o primeiro impacto que tive com ele não foi bom, mas os nossos caminhos tiveram rumos diferentes». Seguiu-se, como já dissemos, Paranhos. «Precisava de jogar, as coisas não me eram favoráveis no Farense, decidi mudar para poder jogar com regularidade».

Em Inglaterra à procura da sorte…fratura no perónio

Nacional, Boavista, Farense e Salgueiros. De regresso ao Bessa, Fábio percebe rapidamente que não ia ter oportunidades de jogar e, em janeiro, ruma a Inglaterra, à procura da sorte e reconhecimento que já lhe escapava entre os dedos. «Fui para Inglaterra, estava a treinar numa equipa amadora para manter a forma e ia fazendo alguns jogos onde estavam olheiros dos clubes ingleses. Tive a oportunidade de ir para o Port Vale, à experiência, fiz dois jogos e, no segundo, lesionei-me com gravidade». Diagnóstico: fratura no perónio. Paragem prolongada. «Fui operado duas vezes. Fui logo operado em Inglaterra, logo a seguir à lesão, mas as coisas não correram da melhor maneira e, quando regresso a Portugal, fui ver um médico da minha confiança. Faltava ali um detalhezito que não estava a contar. Se não fosse uma pessoa que praticasse desporto, se não fosse um atleta de alta competição, não ia ter impacto, mas para a minha vida de jogador, podia vir a ter problemas. Então fui operado outra vez e fiz uma recuperação um pouco mais longa». Entre 2015 e 2017, Fábio deixa de jogar.

Tempos de angústia, no pior momento, sem o apoio de qualquer clube, uma vez que estava em conflito com o Boavista. «Foi um período bastante difícil. Não estava a jogar, estava em diferendo com o Boavista em ternos de contrato e em termos de salários. Fui para Inglaterra sem certezas que ia assinar, mas com algumas garantias. Tive o azar e o tempo que veio a seguir foi muito complicado. Sempre fui um jogador sem muitas lesões e estar parado, com uma lesão daquelas, quando não estava a jogar, foi duro, muito duro». Mas a verdade é que Fábio nunca pensou em desistir. Pelo contrário, com os meses a passar, reforçava a ideia de que ia acabar por voltar. «Não pensei em desistir. Houve certos dias que ficava mais triste do que outros, mas sempre tive grande força de vontade e concentrei-me na recuperação. Queria voltar a jogar, que era o mais importante. Estava por minha conta, com o apoio dos amigos, da família e do meu empresário na altura. Foram eles que me ajudaram a sair daquela fase menos boa».

Totalmente recuperado, Fábio recebe um convite que lhe volta a abrir as portas do futebol. Uma segunda vida podia começar ali, em Kaunas, na Lituânia, onde o professor Mariano Barreto liderava um novo projeto, o Stumbras, um clube fundado em 2013 onde tudo é ainda novo. «Nunca tinha lidado com o professor Mariano, nem sequer sabia que ele estava com um projeto destes na Lituânia. Quando recuperei, as propostas que tinha em Portugal eram mais de clubes do CNS, não estava tão interessado. Achei melhor voltar a sair de Portugal e procurar a minha sorte outra vez. Uma das oportunidades que surgiu era vir para a Lituânia, o que vi com muitos bons olhos porque o professor Mariano [Barreto] é conhecido por ser um antigo preparador físico que trabalha muito esse aspeto. Eu estava a pensar mais na minha recuperação do que noutras coisas. O meu objetivo era recuperar para voltar a jogar e voltar a ganhar confiança».

A Lituânia era longe, mas Fábio Lopes sentiu-se logo em casa num plantel que, além de toda a equipa técnica, contava com mais quatro jogadores portugueses: André Almeida, Jardel Nazaré, Agostinho Cá e António Belo. «Quando cheguei a equipa técnica era toda portuguesa e havia vários portugueses no plantel, tanto na equipa principal como na equipa B. Isso facilitou a minha integração porque o país era muito diferente do nosso, o clima também. Chegar aqui e encontrar vários portugueses, com grandes amigos em comum, foi tudo mais fácil». Além dos portugueses, havia ainda quatro brasileiros e um angolano. A língua portuguesa estava quase em maioria no balneário do Stumbras. «Fala-se muito português. Neste momento, além dos cinco portugueses, tenho quatro colegas brasileiros e o Kuagica que é angolano e tem dupla nacionalidade portuguesa. Os lituanos acham piada à nossa língua e vão tentando apanhar, até já sabem dizer algumas coisas em português. É muito engraçado», conta.

O Campeonato começa no final de fevereiro e acaba em finais de novembro. «No início da época ainda apanhamos muita neve, as temperaturas ainda são muito negativas», conta. Logo no primeiro ano, o Stumbras, com uma equipa muito jovem, quase desce de divisão, mas acaba a temporada a festejar uma surpreendente conquista da Taça da Lituânia. «O meu primeiro ano aqui foi um pouco controverso, tivemos muitas lesões de jogadores importantes no plantel que complicaram um pouco a nossa situação. É uma equipa muito jovem que está ainda em fase de ganhar maturidade, enquanto a maior parte das equipas com que disputamos o campeonato têm jogadores mais maduros, e muito mais experientes. Tivemos um pouco de azar no campeonato, não começamos tão bem, mas depois na fase final estivemos melhor. Tivemos a sorte de ganhar a taça, o que foi muito bom para nós». Uma final, em setembro de 2017, que surpreendeu o país inteiro diante do favorito Zalgiris. A equipa comandada por Mariano Barreto entrou em campo com três portugueses, incluindo Fábio Lopes, e bateu o gigante lituano, por 1-0.

«Foi totalmente contra as expetativas. Na final fomos jogar com o Zalgiris que é uma equipa que nos últimos oito anos tinha ganho tudo, a taça e o campeonato. Não estava nada favorável para o nosso lado, apesar de estarmos bem mais fortes do que no início do campeonato. Estávamos mais coesos, mais maduros e foi com essas armas que fomos disputar a final. Graças a Deus ganhámos o título». Fábio Lopes conquistava o primeiro título como sénior. «Foi uma festa boa, ninguém estava à espera que fossemos ganhar, principalmente pela posição em que estávamos no campeonato. As pessoas que estavam dentro do clube sempre sentiram que podiam ganhar, mas para quem estava de fora foi uma surpresa gigantesca. Ganhámos, foi uma boa festa, mas jogámos a um domingo e na quarta-feira tínhamos jogo para o campeonato. Portanto, também não festejámos muito».

Agora em fevereiro começou uma nova temporada na Lituânia e Fábio Lopes até já marcou um golo na goleada ao Jonava por 4-0. «No ano passado fiz um golo na taça e outro no campeonato, este ano também já marquei. Sempre fui um jogador de fazer mais assistências do que golos, mas o ano passado tive a sorte de marcar dois o que dá sempre confiança. Ainda por cima para mim, que vinha de lesão, foi ótimo. Há uma semana voltei a marcar, o que motiva sempre», conta ainda.

Um campeonato com um calendário diferente do resto da Europa em respeito ao rigoroso inverno que se vive no país. Fábio Lopes vai-se adaptando à fria Kaunas. «É uma cidade bem diferente do que estamos habituados. Vê-se pouco o sol, os dias são curtos. A cidade é escura, o frio também não ajuda, as pessoas são um pouco mais frias. Saem de casa para o trabalho e do trabalho vão para casa», conta.

A vida de Fábio Lopes não é muito diferente, mas a verdade é que está a recuperar a alegria de jogar. A mesma alegria com que deu os primeiros pontapés em Caparide. O resto vem depois. «Como não é a primeira vez que estou fora do país, tenho noção que as pessoas dão mais valor a quem está fora do que a quem está em Portugal. Às vezes é preciso sair um pouco do nosso espaço para tentar conquistar algo. Fiz um pouco isso, tenho contrato com o Stumbras, mas obviamente que tenho objetivos. Se surgir alguma coisa de Portugal que seja do meu agrado talvez possa voltar».

Boa sorte Fábio!

Artigo original: 23h50, 16/04