Diogo Figueiras foi pela primeira vez campeão aos 25 anos na Grécia, ao serviço do Olympiakos, depois de uma carreira vertiginosa que o levou a saltar do Vilafranquense para o Benfica, ainda na formação, depois do Pinhalnovense para o Paços de Ferreira, na passagem para sénior, antes de chegar ao Sevilha onde conquistou três Ligas Europas de uma assentada, com uma passagem pelo Génova pelo caminho. Uma carreira marcada por encontros e reencontros com amigos e treinadores como Jorge Jesus, Rui Vitória, Paulo Fonseca, Unai Emery, Marco Silva e Paulo Bento. Venha daí e prepare-se para uma corrida em alta velocidade para conhecer o impressionante percurso de Diogo Figueiras até à festa do título grego.

Diogo nasceu a 1 de julho de 1991, em Vila Franca de Xira, no Ribatejo, e foi desde cedo que a bola surgiu na sua vida. «Jogava à bola em todo o lado. Na rua jogava sempre com os meus amigos. Comecei no Vilafranquense com seis anos e a partir daí jogava em todo o lado. Andava sempre com uma bola, jogava na escola, jogava na rua», começa por nos contar desde Atenas, no rescaldo da curta festa do título porque, na próxima quarta-feira, há uma meia-final da Taça da Grécia para disputar com o rival AEK.

O futebol estava-lhe no sangue. O pai foi jogador, o irmão também jogou futsal e, além disso, conviveu sempre de muito perto com o primo Tiago Gomes que, depois da formação no Benfica, fez carreira no Estrela Amadora, Belenenses, Estoril e Sp. Braga, antes de emigrar para o estrangeiro. «O meu pai [João Rosário] também foi jogador. Jogou uns bons anos no Boavista, outros bons anos no Torreense e no Vitória de Setúbal, teve uma boa carreira. O meu irmão foi mais à base do futsal, mas o meu primo, vocês sabem quem é, é o Tiago Gomes que joga agora no Apollon Limassol».

Além do estímulo familiar, Vila Franca, além dos touros, também é terra de futebol. Apesar do clube local nunca ter chegado aos escalões profissionais, contribuiu com muitos nomes para o futebol nacional, como são os casos de António Carraça, Rui Vitória, Tiago Caieiro, entre muito outros. «A verdade é essa. Já na minha altura, muitos amigos meus iam fazer treinos ao Benfica e ao Sporting. Havia muita gente a jogar».

Aos doze anos, o jovem Diogo também começa a olhar para os clubes da capital. «Comecei a ir ao Sporting primeiro. Fui com um amigo meu que também jogava comigo. Na semana a seguir fomos ao Benfica que também já nos tinha ligado para lá irmos. Afinal fiquei no Benfica. Fiquei lá seis anos», recorda.

De extremo a lateral num só jogo

Diogo Figueiras é conhecido atualmente no futebol como lateral, mas a verdade é que até perto do final da formação no Benfica jogava como extremo ou mesmo como número dez, no apoio aos avançados. A posição atual ficou definida num jogo marcante na carreira de Diogo Figueiras. Jogava-se a última jornada do campeonato de Juvenis A entre o Benfica e o FC Porto e o título estava em cima da mesa. «Tínhamos um jogo em casa frente ao FC Porto, estávamos a perder por 0-1 e o Sporting, se não me engano, estava a perder com o Boavista. Nesse jogo entrei para jogar como lateral, marquei o golo do empate e fiz a assistência para o golo da vitória. A partir daí passei a jogar mais vezes como lateral. Esse jogo marcou-me», recorda.

No Benfica, Diogo Figueiras jogou com Roderick (atualmente no Rio Ave), David Simão (CSKA Sófia), Nélson Oliveira (Norwich), Danilo Pereira (FC Porto), Luís Martins (Marítimo) e Mário Rui (Roma), entre muitos outros. Alguns ainda chegaram à equipa principal, mas a maioria não ficou. «Na minha geração era mais complicado chegar à equipa principal. A maior parte de nós seguiu outro caminho», recorda. No último ano como júnior, em 2009/10, Diogo Figueiras ainda se cruzou com Jorge Jesus que tinha acabado de chegar ao Benfica de David Luiz, Ramires, Aimar, Javi Garcia e Di Maria e Cardozo que, passado oito anos, é companheiro do nosso protagonista no Olympiakos. «Ainda treinei algumas vezes com eles. Treinei com o Cardozo que está agora aqui comigo, mas tinha 17 ou 18 anos e foi um ano muito bom do Benfica, estava muito forte. Hoje em dia nota-se bem quem é o Jesus, para mim é o melhor treinador português, tirando o Mourinho claro».

Primeiro encontro com Paulo Fonseca e os elogios de Villas-Boas

Na passagem para sénior, não há espaço para Diogo no «grande Benfica». «Quando acabei a formação no Benfica sabia que tinha de dar um passo para trás para depois poder dar dois à frente, felizmente foi isso que aconteceu». O passo atrás foi o Pinhalnovense onde começam as muitas coincidências na carreira de Diogo Figueiras. O treinador era Paulo Fonseca que mais tarde iria encontrar no Paços de Ferreira. No plantel também estava André Martins que, tal como Oscar Cardozo, também foi campeão este ano no Olympiakos. «Já conhecia o André desde a formação. Ele estava no Sporting e eu no Benfica e, apesar de ele ser um ano mais velho, jogámos muitas vezes um contra o outro. Nesses jogos ficam sempre aquelas amizades com alguns. A amizade com o André começou aí e dura até hoje», comenta.

Mas é este primeiro encontro com Paulo Fonseca que marca mais Diogo Figueiras. «Ajudou-me muito nessa altura. Foi a primeira vez que o encontrei e foi com ele que, mais tarde, cheguei à I Liga. É uma pessoa importante na minha carreira». Apesar das limitações, o Pinhalnovense, nesse ano, chega aos quartos de final da Taça de Portugal depois de afastar o Leixões. O sorteio colocou o super-FC Porto de André Villas-Boas no caminho da modesta equipa de Pinhal Novo. Os comandados de Paulo Fonseca fizeram a vida difícil às «estrelas» de André Villas-Boas, mas no final a equipa do Dragão seguiu em frente, com dois golos do «incrível» Hulk. Na conferência de imprensa que se seguiu ao jogo, André Villas-Boas confessa que ficou surpreendido com a exibição de um jovem lateral. «Lembro-me muito bem disso porque ainda hoje tenho o recorte do jornal com essas declarações. Nessa altura, tudo o que saía nos jornais sobre mim guardava. Guardava tudo».

A verdade é que nessa mesma época se fala no interesse do FC Porto em Diogo Figueiras. Um interesse que mais tarde se repete com Paulo Fonseca e, depois, com mais convicção, com Julen Lopetegui. «Nessa altura não sei se chegou a haver contatos, mas sei que os jornais falaram muito nisso. Mais tarde chegou mesmo a haver contatos com o FC Porto, mas já estava no Paços de Ferreira».

A capital do Móvel é precisamente a próxima paragem. Com apenas vinte anos, Diogo chegava a um clube da Liga e o treinador era nada mais, nada menos, do que Rui Vitória. Lá estavam os dois saltos para a frente, mas Diogo teve de voltar a apanhar balanço. Com apenas vinte anos, era difícil ter espaço frente a jogadores com mais tarimba. Nesse primeiro ano, Figueiras é cedido ao Moreirense que jogava na II Liga. O regresso ao escalão principal foi feito a partir de Moreira de Cónegos. «Tínhamos um grupo muito bom, muito divertido, almoçávamos muitas vezes juntos. Foi com essa harmonia que havia entre nós que conseguimos por o Moreirense na I divisão».

Com as boas exibições que levaram o Moreirense ao primeiro escalão, Diogo é resgatado pelo Paços por um treinador que já o conhecia: Paulo Fonseca. Desta vez, Diogo Figueiras tinha de mostrar que tinha valor. «Só comecei a jogar com regularidade quando saiu o Antunes. Comecei a jogar no lado esquerdo, mas depois agarrei o lugar», recorda.

Sevilha ou FC Porto?

Diogo Figueiras acaba a época em alta e no final o empresário diz-lhe que tem propostas do Sevilha e do…FC Porto. «Estávamos na pré-temporada e o meu empresário ligou-me e falou-me em duas possibilidades: Sevilha, mas também o FC Porto. «Estive aí uns dias ou umas semanas em que andava super-ansioso para saber o que ia acontecer. Acabei por preferir ir para Espanha».

No Sánchez Pizjuán, Diogo Figueiras encontra Carriço e Beto para três temporadas que acabam por ficar para a história, do Sevilha, mas também do futebol europeu. «O Carriço chegou no mesmo ano do que eu. O Beto já lá estava, mas foi muito importante para a nossa adaptação ali», recorda. De repente, com apenas 21 anos, Figueiras estava no mesmo campeonato de Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo. «Aconteceu tudo muito rápido. A partir do Pinhalnovense as coisas foram todas muito rápidas. Num ano ou dois já estava na liga espanhola, mas a verdade é que tinha apenas 21 anos». Figueiras não jogava muito, mas andava nas nuvens. «Claro que andava todo orgulhoso, era sinal que tinha feito um bom trabalho, mas também sabia que a partir daí ia ser mais exigente. Sabia que tinha de trabalhar porque estava na maior liga do Mundo».

O jovem lateral ficou encantado com a cidade que o acolheu durante três anos. «É uma cidade grande. Se tivesse praia era uma das melhores cidades para se viver, apesar do muito calor que faz ali no verão». No início não jogava muito, mas, aos poucos, foi encontrando o seu espaço e na segunda época já jogava com regularidade. Uma cidade intensa que vive o futebol como poucas, com muitas semelhanças com Lisboa, com dois clubes rivais, o Sevilha e o Bétis, um mais vermelho, outro verde e branco. «A rivalidade é muito parecida com o Sporting e o Benfica. Quando é dia de dérbi as claques também vão a pé para o estádio porque também é muito perto. É tudo muito parecido com Lisboa».

«O dia mais feliz na carreira continua a sê-lo»

Já perto do final da época, a ironia prega-lhe mais uma partida. O Sevilha chegava à final da Liga Europa e o adversário, na final de Turim, era o…Benfica de Jorge Jesus! Diogo Figueiras não era titular e ficou no banco a roer as unhas. «O que me marcou mais foi estar ali à espera ansioso por entrar em campo. Eu queria é entrar e jogar, era uma final. Ainda por cima com a idade que tinha, era perfeito». Unai Emery deixou o jovem lateral sofrer até ao final dos noventa minutos, mas ainda não havia golos. No tempo regulamentar já tinha entrado Marko Marin para o lugar do ex-benfiquista José Antonio Reyes. No prolongamento, Marin lesiona-se e entra Kévin Gameiro. Só faltava uma substituição e o Benfica carregava por todos os lados com Gaitán, Rodrigo e Lima. Jesus lança ainda Cardozo e o Sevilha treme. É então que Emery, a dez minutos do final, chama o ansioso Figueiras para o «momento mais feliz» da sua carreira. «Foi naquela altura, mas ainda hoje continua a ser o momento mais feliz. Por ser a minha primeira grande final, é a mais especial, ainda por cima contra o Benfica».

O resto já se sabe, Beto cresceu entre os postes, defendeu os pontapés de Rodrigo e Cardozo e foi o herói da primeira conquista do Sevilha. Depois da primeira seguiu-se uma segunda final, desta vez em Varsóvia, diante do Dnipro, com nova festa sevilhana, depois de uma vitória por 3-2. «Se já pensávamos que uma final já era incrível lá chegar, com a segunda era outro sentimento, mas continuava a ser especial. Ganhando a segunda, depois ainda ganhámos a terceira e fizemos história na Liga Europa». Diogo Figueiras quase deixou escapar a terceira, uma vez que no terceiro ano foi cedido ao Génova no início da época. Mas ficou na Série A apenas por seis meses e em janeiro estava de volta a Sevilha e em fevereiro estava a jogar frente ao Molde a caminho da terceira final consecutiva, desta vez em Basileia, frente ao Liverpool (3-1). «Sim a terceira também é minha, claro que sim. Joguei contra o Molde».

Aos 23 anos, Diogo Figueiras tinha um currículo invejável, com três troféus da UEFA. «A verdade é que são três títulos importantes», comenta Diogo Figueiras que no meio de tantos títulos ainda chegou a ser pré-convocado por Paulo Bento [lá estava o destino no caminho], que mais tarde viria a ser treinador do Olympiakos, para a seleção que lutava pela qualificação para o Mundial2014. «Tive sempre essa esperança de ir à seleção. A partir do momento em que o clube me informou que estava pré-convocado, fiquei sempre à espera, acreditei sempre porque também sou ambicioso e claro que queria representar o meu país».

Recuamos uns meses para espreitar a curta passagem de Diogo Figueiras pelo Génova onde fez apenas dez jogos e marcou um golo ao Capri. «É uma liga completamente diferente da liga espanhola a que eu já estava mais ou menos habituado. A adaptação foi mais difícil, apesar de também ter amigos argentinos ali como o Perrotti, mas as lesões obrigaram-me a ficar um bocado para trás», lembra. Em janeiro, antes do regresso a Sevilha, Diogo Figueiras chegou a estar com um pé no Sporting de…Jorge Jesus. «Isso falou-se durante algum tempo, mas acabei por voltar mesmo ao Sevilha».

No final da época, Diogo Figueiras despedia-se definitivamente do Sevilha para uma nova aventura. Aceitou um convite do Olympiakos onde Marco Silva tinha conquistado o título de campeão. «Ainda fiz a pré-época com o Marco Silva. É um grande treinador e, pelo que se tem visto no Hull City, acho que ainda vai chegar mais longe». Saiu Marco Silva e chegou Paulo Bento. Pela primeira vez, como sénior, Diogo Figueiras chegava a um forte candidato ao título. «É como jogar num Benfica ou num Real Madrid ou num Barcelona. Como tu jogas sempre para ganhar, para ser campeão, sentes uma confiança-extra, parece que as coisas saem sozinhas. Foi um bocado o que me aconteceu aqui. Também sabia que que precisava de minutos este ano. Acho que este ano consegui ganhar a confiança de que precisava para começar já a preparar a época que vem», conta.

Uma época em grande, mas conturbada, ou não estivéssemos a falar do campeonato grego. O Olympiakos foi campeão no passado domingo, mas pelo meio teve cinco treinadores e uma mini crise. Com Paulo Bento no comando, o clube do Pireu sofreu três derrotas consecutivas – AEK (0-1), Panionios (0-1) e PAOK (0-2). «Escândalo», gritaram os jornais. A verdade é que o eterno campeão grego não perdia três jogos consecutivos desde 1995/96, há 21 anos! «Foi uma fase complicada. Também tivemos muitas mudanças, tivemos cinco treinadores esta época. As coisas tremeram um bocadinho porque era tudo muito repentino. Mudavam de treinador e tínhamos de nos adaptar a outro treinador e as coisas tremeram um bocadinho», comenta.

A verdade é que o Olympiakos teve sempre uma vantagem confortável no topo da classificação. Diogo Figueiras estava praticamente em casa. Além de Paulo Bento, Diogo Figueiras reencontrou Oscar Cardozo, Seba e, mais tarde, André Martins. «Além desses ainda tinha aqui o Alberto Botía, que também jogou comigo no Sevilha, depois também veio de De la Bella que estava na Real Sociedad e também estavam os argentinos Chori Domínguez e Esteban Cambiasso. Como falávamos todos português e espanhol, a adaptação foi muito rápida. Quando o André [Martins] chegou eu já estava integrado e ajudei a introduzir o André no grupo».

Esteban Cambiasso é uma das figuras desta equipa. Aos 36 anos, o veterano argentino, depois de uma longa carreira no Real Madrid, River Plate e Inter Milão, continua a dar cartas em Atenas. «É um jogador muito experiente, um jogador com currículo. É um bom companheiro, parece que ainda tem vinte anos». A adaptação à Grécia foi, mais uma vez, fácil. Mesmo fora do ambiente do futebol, com uma exceção para a língua, mas mesmo nesse capitulo, Diogo já dá uns toques. «É um idioma complicado, mas já digo algumas palavras. O básico aprende-se rápido. Passa, chuta, bom dia, boa tarde, boa noite. Como estás? Isso já digo tudo. Agora o resto…». Depois de Sevilha, Diogo também encontra semelhanças entre a capital grega e Lisboa. Semelhanças na arquitetura, no clima e até na propalada crise que, tal como em Lisboa, não se nota no dia-a-dia para quem vem de fora. «Sinceramente não sinto isso, pelo menos aqui em Atenas. Os restaurantes estão sempre cheios, há sempre muita gente na rua, não vejo muito isso».

No passado domingo, como já dissemos, o Olympiakos voltou a ser campeão. Uma monotonia para os gregos. Pelo menos, nos últimos dez anos, nove títulos foram para a equipa do Pireu. «Eu acho que para eles, os gregos, já é como se fosse uma coisa normal, mas para mim, para o André, para os estrangeiros, claro que não, fazemos mais festa do que eles». Mas a verdade é que ainda não houve festa nas ruas, apenas uns festejos entre os jogadores no balneário. É que na próxima quarta-feira o Olympiakos joga a segunda mão da meia-final da Taça da Grécia depois de ter perdido o primeiro joigo, em casa, diante do AEK (1-2). «Ainda não fizemos festa, temos jogo na quarta-feira. Fizemos uma festa no balneário, a seguir ao jogo, mas já a pensar no jogo de quarta-feira. Só depois é que vamos celebrar. Depois tem que haver festa, não é todos os anos que somos campeões. Pelo menos nós [os portugueses], vamos fazer uma festa de certeza».

Entretanto, já esta segunda-feira, surgiu a notícia de uma ação em tribunal que pode retirar seis pontos ao Olympiakos. Uma notícia que pode colocar o PAOK na corrida ao título, mas Diogo Figueiras não está preocupado com esse novo quadro. «Ouvimos falar nisso, mas ainda não sabemos nada. Não estamos preocupados, acho que isso não vai interferir. Mesmo assim, na pior das hipóteses, se perdemos seis pontos, acho que no último jogo ainda podemos ser campeões», atirou.

O futuro também não preocupa Diogo que, com apenas 25 anos [sim, tudo isto que contámos foi em pouco mais de cinco anos], tem mais dois anos de contrato com o Olympiakos. «Neste momento não estou preocupado com o futuro. Estou aqui bem, tenho mais dois anos de contrato, vamos ver o que acontece».