Uma extravagância só possível nos anos 80 e com uma realidade muito própria chamada New York Cosmos. A 9 de Março de 1980 a fantástica equipa de estrelas mundiais vestia o equipamento branco e entrava no Estádio Vivaldo Lima, também conhecido por Vivaldão, perante 56890 pagantes (relatos falam em 80 mil pessoas presentes no local), para enfrentar o tímido Fast Club de Manaus. O cenário improvável serve, por si só, como momento único.
No meio de tantas estrelas figurava um representante português: Seninho. O ex-jogador do F.C. Porto tinha partido para a América em 78, seduzido pelos dólares e pela oportunidade de partilhar o campo com autênticos mitos, como Carlos Alberto Torres, Beckenbauer ou os holandeses Neeskens e Cruyff.
«Foram tempos fantásticos, uma equipa cosmopolita, que conseguiu reunir jogadores de doze nacionalidades diferentes. Cheguei a jogar com o Pelé, mas por pouco tempo, porque estava mesmo a terminar a carreira, mas mesmo sem ele a equipa tinha muitas estrelas. Aliás, nesse jogo em Manaus o Cruyff e o Neeskens não foram porque a liga americana decidiu que seria melhor distribuir os melhores jogadores por outros clubes para promover o equilíbrio no campeonato. Caso contrário, o Cosmos venceria sempre», recorda Seninho ao Maisfutebol.
Daquele jogo ficam na memória o «muito calor e humidade», para além da beleza natural proporcionada pela vastidão da floresta. Não era a primeira vez que o jogador visitava a Amazónia, pois, anteriormente, já lá tinha estado com o F.C. Porto e nunca mais se esqueceu de um fenómeno natural muito particular: «O sítio onde o Rio Negro se junta ao Amazonas era considerado uma das maravilhas do mundo. De facto, é impressionante e o pôr-do-sol simplesmente único. Nunca mais me esqueci daquela imagem».
O jogo quedou-se por um tristonho 0-0, sinal de que as condições climatéricas limitaram a acção dos craques. Clodoaldo, em final de carreira, foi a estrela do encontro, mas ao serviço do Fast, que tencionava contratá-lo, mas devido à sua boa exibição viria a assinar pelo New York United, o outro clube da «Big Apple». «O Clodoaldo era um grande jogador e, mesmo que já tivesse 30 anos na altura, fazia parte da selecção brasileira campeã mundial em 70. Uma das melhores equipas de sempre, com Pelé, Jairzinho, entre outros», relembra Seninho, a quem ninguém poderá apagar a sensacional passagem pelo Cosmos, que foi extinto em 1985, mas que tem sido alvo de uma campanha de rejuvenescimento, que poderá vir a recolocá-lo nos campos de futebol.
FICHA DO JOGO
Data: 9 de Março de 1980
Estádio: Vivaldo Lima, Manaus
Fast Clube - Miguel; Carlos Alberto, Joãozinho, Marcão e Judelci; Clodoaldo, Zé Luiz e Tauiris (Fabinho); Rogério, Bené (Iranduba) e Orange (Pesado).
Treinador: Juarez Bandeira
Cosmos ¿ Birkenmayer; Eskandarian, Óscar, Carlos Alberto Torres e Wilson; Beckenbauer, Romerito e Rick Davis; Seninho, Chinaglia e Liveric (Nelsi Moraes).
Técnico: Júlio Mazzeri
Acção disciplinar: cartão vermelho a Carlos Alberto Torres (aos 43m),
Resultado: 0-0