A Liga 2004/05 teve imensos casos. Provavelmente, não poderia ser de outra maneira com o título disputado ponto a ponto por Benfica, Sporting, Sp. Braga e FC Porto embora os dragões vivessem um ano de dificuldade no pós-Mourinho. O Estoril-Benfica, o último entre as duas equipas, foi mais uma das muitas polémicas dessa edição do campeonato. A mudança do jogo para o Algarve deu-se num mês pródigo em confusão, conforme recordamos, agora que se aproxima novo confronto entre estorilistas e benfiquistas.

Abril é o mês da Revolução. Em 2005 foi também o mês em que o túnel do Bessa deu que falar, num Boavista-Sporting. Rui Jorge, Sá Pinto, Pedro Barbosa e também William foram suspensos a seguir a desacatos verificados no acesso aos balneários. João Freitas, diretor dos axadrezados, garantiu que foi agredido no túnel. O Sporting venceu 4-0.

Mais tarde, em Vila do Conde, o Benfica perdeu com o Rio Ave: 1-0 golo de Miguelito. Petit falava de «incentivos» aos jogadores de Carlos Brito, para apenas um dia depois pedir desculpa e garantir que não quis «pôr em causa o profissionalismo dos jogadores e treinador do Rio Ave».

Dias da Cunha e Veiga

Entretanto, o presidente do Sporting, Dias da Cunha, vociferava contra a arbitragem, mesmo em cima do apito inicial frente ao Beira Mar. O então diretor-desportivo do Benfica, José Veiga, accionista do Estoril até Outubro de 2004, ripostava: «Já ninguém o leva a sério.»

A 8 de abril, dois dias antes do Sporting-Beira Mar, o Estoril revela que está a ponderar criar uma nova bancada para receber o Benfica, depois de abandonar a ideia de jogar no Restelo ou no Jamor. Horas depois, no Bessa, a Pantera do Boavista aparecia pintada de azul.

Mas é o Estoril-Benfica que marca abril. A 12 desse mês, o Estoril garante que o jogo é na Amoreira. No dia seguinte, o clube e a Liga oficializam que a partida será no Estádio Algarve.

Dias da Cunha reage: «Vou ser absolutamente claro: o Estoril o essencial dos pontos que tem fê-los em casa. Quero acreditar que qualquer dos clubes que está em perigo de descer, está a lutar para que isso não aconteça. Como é que nessa circunstância é admissível que um clube que está a lutar pela sobrevivência despreze o factor casa que teve tanta importância? Acho que por trás disso está uma promiscuidade em termos de interesses de alguém que se não tem já teve interesses na SAD do Estoril e é aparentemente o responsável pelo futebol do Benfica.»

«Até pode ser em Paris...»

A 21 de abril, o Penafiel, presidido por António Oliveira, admite mudar de estádio para receber o Benfica.

Um dia antes do «jogo do Algarve», o treinador encarnado, Giovanni Trapattoni, foi questionado sobre a troca de estádio. Respondeu de forma curiosa: «Quem nunca cometeu pecado, que atire a primeira pedra. Isto para dizer que, pelo meu conhecimento, outra equipa, noutra altura, noutro ano, antes, trocou certamente um jogo sem polémicas e sem problemas. Qual é o problema agora? Em Portugal acontece sempre assim. Num ano uma equipa, noutro ano, outra equipa a mudar. Os clubes decidem assim. Falam desta situação agora, e por que é que não falam de outros alturas, de outras situações?»

A 24 de abril, o Benfica vence o Estoril por 2-1. O treinador Litos não se poupou nas críticas após a derrota: «Dá-me a sensação de que, com tudo o que se passou durante a semana, e eu até fui dos que aceitei de bom grado a troca, viemos para um jogo em que todos os intervenientes [tirando os jogadores do Estoril] deram a sensação que estavam em início de época, num jogo de apresentação do Benfica e em que tudo se fez para que saísse vencedor.»

No feriado de 25, o presidente do Penafiel, António Oliveira, foi questionado sobre se ia mesmo pedir mudança de estádio para obter maior receita. Ao seu estilo, Oliveira terminou a conversa sobre o caso: «Até pode ser em Paris...» A 27 de abril, o Penafiel confirmou que não mudava de recinto.