O Estoril parou pela primeira vez o campeão nacional esta época. Para isso teve de fazer um jogaço e de beneficiar do mais grave erro da equipa de arbitragem. Comecemos por aqui.

O intervalo deve ter sido um alívio para o árbitro, Rui Silva. Não exatamente o intervalo, que depois do último apito dos 45 minutos teve de conviver com a pressão de Paulinho Santos (sim, esse) e Nélson Puga, o médico do FC Porto. Helton também andou por lá, mais o diretor geral da SAD portista, Antero Henrique. Mais à frente, gente do Estoril. Acabava a primeira parte mas já se jogava a segunda.

Lamentavelmente, Rui Silva estava a ser o pior em campo, o que o tornava pressionável. Numa primeira parte equilibrada, o resultado estava a decidir-se em acidentes.

Aos 12 minutos Luís Leal discute um lance com Otamendi. Cai e pede falta. Ia para a área, seria livre perigoso e vermelho para o defesa argentino. No estádio pareceu choque entre quem genuinamente disputa a bola. Deve ter sido isso que o árbitro viu. A televisão mostra mais. O acidente seguinte poupa o árbitro. Lance de Varela, passe para Babanco. Sim, não é erro. A bola saiu do extremo portista para o lateral esquerdo do Estoril que no centro da área tinha de escolher: mando para longe ou domino e depois mando para longe? Escolheu a segunda opção. O domínio saiu tosco. Licá, ocasionalmente a ir da direita para o meio, aproveitou. E, coisa bonita, não festejou. Estavam 25 minutos bem passados.

O outro acidente foi o maior. Aos 33 minutos, Otamendi toca a bola com a mão. Sim, mas fora da área e com Sebá fora-de-jogo. Rui Silva e o auxiliar decidem grande penalidade. Evandro (que início de época!) não deixa para depois. Empate.

A seguir, antes de os elementos do FC Porto se dirigirem ao árbitro, Rui Silva mostra duas vezes o amarelo a homens do Estoril. Pelo meio, o campeão pensou mais vezes em marcar, foi agradável à vista mas sem grande capacidade criativa, com Defour pouco à vista. E quase sem oportunidades. A coisa só desequilibrava quando a bola chegava perto de Babanco, que clamava por ajuda a cada instante. O Estoril mandou uma ao poste (Bruno Miguel). O resultado ao intervalo, mais acidente menos acidente, estava bem.

A segunda parte foi mais aberta. O FC Porto entrou mais forte. Subiu Defour, tentou soltar Danilo. Mas o Estoril aguentou os golpes, muito por causa da excelência de Evandro no meio campo e de Luís Leal na frente. Muito sólidos, ameaçavam inclusive chegar à vantagem. No banco, Paulo Fonseca assustou-se.

Quintero já aquecia. Dirigiu-se para a linha de meio campo, 66 minutos. Está pronto para entrar, mas a bola não para. Recebe indicações, põe água no cabelo. Enquanto isso a bola rola. Lucho ainda joga. Mas a bola ainda mexe. Alex Sandro descobre-o. O capitão toca de primeira, como só ele. Quintero era uma boa ideia, o jogo está partido, há espaço, a velocidade do colombiano pode decidir. Mas por enquanto é Lucho quem joga. Um toque, Jackson isolado, golo. A subsituição pode esperar, apesar de nas bancadas os adeptos gritarem «Quintero! Quintero!».

Marco Silva acaba por mexer primeiro. O Estoril estava muito bem antes do 1-2. Sofreu a seguir e esteve à beira de encaixar o terceiro. Quintero acaba mesmo por sair, mas já não por Lucho, esse continua. Varela, o melhor da frente, vai embora. Minuto 75. Teria o Estoril ainda mais uma vida?

Tinha! Grande cruzamento de Balboa, Sebá ganha de cabeça e Luís Leal (merecido!) faz o empate (um golo duvidoso, parece fora-de-jogo, mais um acidente em que participa a equipa de arbitragem). Dois minutos depois isola-se e remata para Helton defender. A cinco minutos do fim bate Mangala mas o remate sai ao lado! Apenas três dias depois de um jogo europeu, o Estoril mostrava incrível alma.

É verdade que Marco Silva marcou pelo menos um golo ilegal. Mas o empate é justíssimo. Não derrotou o FC Porto, como sonhava, mas parou-o. E muito bem.