A última vez em que o Estoril Open recebeu um número 1 mundial foi em 2010. Na altura, Roger Federer, vencedor da edição de 2008 do torneio então realizado no Jamor, foi afastado nas meias-finais pelo espanhol Albert Montañés, que acabaria por bater o português Frederico Gil no encontro decisivo.

Este ano, a organização tentou convencer o escocês Andy Murray a vir a Portugal através de um vídeo humorístico no qual era prometido todo o conforto ao líder da hierarquia do ténis fora dos courts.

Andy Murray, a regressar de um início de época aos soluços e com uma lesão pelo meio, não vem ao Estoril Open, mas João Zilhão, diretor do único torneio de categoria ATP que se realiza em Portugal, garante que o convite chegou ao destinatário. «Falei com o agente do Andy Murray e com ele próprio e ambos gostaram muito do vídeo. Acharam muita piada», disse ao Maisfutebol durante uma conversa telefónica na sexta-feira, véspera do arranque no torneio de qualificação para o quadro principal do torneio.

Inserido na categoria mais baixa dos torneios ATP (250 pontos), o Estoril Open joga-se até 7 de maio. Termina a três semanas do arranque do Roland Garros e faz parte de uma temporada de terra batida com menos de dois meses de duração e durante o qual se realizam três nos nove torneios de categoria 1000 (Monte Carlo, Roma e Madrid) e um ATP 500, jogado em Barcelona na semana que antecede o torneio português.

Planta do Estoril Open 2017 contempla alterações nas áreas de animação e aumento da oferta na restauração. Torneio custa 4 milhões de euros tem 90 sponsors

É nesses torneios que se concentra a chamada «nata» do ténis mas, apesar da forte «concorrência», pelo Estoril já passaram líderes do ranking mundial. Um cenário utópico para os próximos anos? «É totalmente possível», diz João Zilhão. «Temos um torneio de que os jogadores gostam muito. É um torneio muito acolhedor, temos um hotel excecional, gastronomia, hospitalidade portuguesa e as infraestruturas e serviços que proporcionamos aos jogadores é de grande nível. O torneio já ganhou essa reputação internacional entre os jogadores, que vão falando entre eles, e o ATP também já nos atribuiu alguns prémios. Isso é muito importante e a mensagem vai passando.»

Depois de mais de 20 anos no Vale do Jamor, o Estoril Open mudou-se em 2015 para a localidade que lhe deu nome desde sempre (com exceção ao período entre 2013 e 2014, em que se chamou Portugal Open).

O know-how acumulado na terceira edição com João Zilhão na direção do torneio é uma vantagem, mas nem por isso torna a organização do evento mais fácil. «Todos os anos temos as mesmas dificuldades. Mas temos agora mais certezas e não trabalhamos com o receio de saber se vai ou não funcionar bem.

O Estoril Open tem um custo a rondar os 4 milhões de euros, valor suportado em boa parte pelos cerca de 90 sponsors, mais duas dezenas do que em 2015. «Para conseguir pagar este evento, somos obrigados a correr atrás de muito dinheiro», refere ainda o diretor do Estoril Open.

Juan Martín del Potro pode tornar-se no primeiro tenista a vencer o Estoril Open em três ocasiões

É aqui que entra a «Torre de Tandil» Juan Martín del Potro, antigo número 4 do mundo e vencedor do Open dos Estados Unidos em 2009. Quando foi confirmado no torneio, no último dia de janeiro, a corrida às bilheteiras disparou e antes do arranque oficial do Estoril Open (neste sábado), os últimos dois dias já estavam esgotados. «Del Potro é um grande nome do ténis e é muito acarinhado em Portugal, onde já ganhou duas vezes [2011 e 2012]. Se houve mais procura este ano? Sem dúvida», reconhece João Zilhão, orgulhoso do grupo de tenistas que conseguiu reunir, apesar das desistências de última hora dos dois primeiros cabeças de série: o prodígio australiano Nick Kyrgios e o espanhol Albert Ramos.

«Acho que este cartaz está ao nível das melhores edições. Temos nomes muito carismáticos, todos os naipes de ténis, nomes consagrados, novas gerações e os melhores portugueses. Há um pouco de tudo e este é um ótimo cartaz», conclui.

João Sousa e Gastão Elias, os dois melhores tenistas portugueses do circuito, entraram de forma direta no quadro principal do torneio, onde também estão garantidos mais três portugueses: Frederico Silva, Pedro Sousa (com convites) e João Domingues, que passou a fase de qualificação.

Apesar das ambições legítimas nacionais, nomeadamente de João Sousa enquanto vencedor de dois torneios ATP e finalista noutros seis, os principais favoritos à vitória são outros.

O Maisfutebol apresenta cinco nomes a ter em conta.

Juan Martín Del Potro: vencedor das edições de 2011 e 2012, o tenista argentino busca um inédito terceiro título no torneio português. Nos últimos anos foi operado três vezes ao pulso direito, situação que forçou o vencedor do Open dos Estados Unidos de 2009 a longos períodos fora dos courts. Em 2016 voltou a exibir-se a um nível elevado: foi prata nos Jogos Olímpicos depois de ter deixado pelo caminho Novak Djokovic e Rafael Nadal e já escalou mais de 100 lugares no ranking desde agosto do ano passado. É o quinto cabeça-de-série no Estoril, onde dá início à sua temporada na terra batida.

Pablo Carreño Busta: as desistências de Nick Kyrgios e de Albert Ramos fazem com que o tenista espanhol seja o primeiro cabeça-de-série do Estoril Open. No ano passado esteve muito perto de erguer o troféu, mas acabou por perder a final contra o compatriota Nicolas Almagro. Com uma ascensão notável desde o início de 2016, soma dois títulos ATP, mas nenhum deles na superfície do pó de tijolo, onde perdeu três finais. Ainda assim, é um dos nomes que quase todos quererão evitar.

David Ferrer: dispensa apresentações. Já foi 3.º do ATP World Tour (em 2013) e soma mais de 50 finais na carreira. Durante anos foi um dos tenistas com o calendário mais preenchido, mas os 35 anos já vão pesando a quem sempre dependeu da forma física para conseguir impor-se nos courts. Atualmente está fora do top-30 e no ano passado não ganhou qualquer título ATP, situação que não se verificava desde 2009. Ainda assim, é um nome a ter sempre em conta na superfície de terra batida, onde venceu 12 dos 26 títulos que ostenta no palmarés.

Richard Gasquet: não se dá mal com os ares do Estoril Open. Ganhou aqui em 2015 e foi finalista vencido nas edições de 2012 e 2007. Apesar de estar agora fora do top-20, ranking de onde quase não saiu durante a última década, tem consistência de jogo que lhe dá legitimidade para pensar em mais uma boa campanha. Está a regressar de uma intervenção cirúrgica ao apêndice que o obrigou a falhar algumas semanas de competição, o que levanta alguns pontos de interrogação acerca do momento de forma que pode apresentar durante o torneio.

Nicolas Almagro: voltou recentemente aos courts depois de uma paragem relativamente prolongada por lesão. Já foi top-10 e está agora, aos 31 anos, fora dos 50 melhores do mundo. Apesar do momento que atravessa, não pode ser descartado, quanto mais não seja por duas razões: porque é o campeão em título do torneio e porque soma 13 títulos ATP na carreira e todos nesta superfície.