O jogo do título (que acabou por não o ser) ficou marcado por contrastes.

1.Estratégia e abordagem de cada uma das equipas

2.Substituições

3.Reacções e imagens

O último ponto foi o resultado dos dois primeiros. A alegria e a tristeza espelhada nas reacções dos jogadores mas principalmente em Vítor Pereira e Jesus. Costuma-se dizer que as imagens valem mais que mil palavras e no lance do golo de Kelvin as imagens disseram tudo.

Foi na estratégia e na abordagem que VP definiu para o clássico que, do meu ponto de vista, residiu a vitória. Com felicidade, é certo, mas com justiça e merecimento. Foi a equipa que assumiu as despesas do jogo (era a sua obrigação) e que mais fez para ganhar. Apesar de não ter havido muitas situações de golo, teve iniciativa, foi pressionante, sempre na procura do golo.

Por outro lado, o Benfica foi uma equipa que quis controlar, de contenção, a jogar com os dois resultados que o colocavam na rota do título. O posicionamento e a boa organização defensiva que apresentou revelavam isso mesmo. A estratégia da equipa passava por gerir a vantagem que trazia e fechar a baliza.

Uma das características deste Benfica é a profundidade, a capacidade ofensiva que os seus laterais colocam no jogo. Maxi e Melgarejo (gostemos ou não) têm desempenhado com qualidade esse papel estratégico. Jesus preferiu mais consistência defensiva e colocou André Almeida na lateral esquerda. Esteve bem mas faltou o resto.

Gaitan no apoio a Matic e Enzo, mas também a Lima, dizia (como noutros jogos) que Jesus procurava o equilíbrio de forças no meio-campo, queria controlo e domínio do jogo. Não aconteceu mas os melhores para mim foram Enzo e Matic e ficaram aquém do que podem dar. Enzo, se tinha alguma limitação física, não vi. Correu quilómetros, foi agressivo na disputa de bola, soube conservá-la e tentou colocar a equipa sempre no controlo do jogo.

Matic é para mim um exemplo do que o Benfica foi. O que fez, fez bem mas foi curto para quem tem maior dimensão. Não é apenas um jogador para marcar posição e ser o ponto de equilíbrio. Ele não é um Javi, é muito mais e o Benfica tem beneficiado com o seu jogo, em que assume passes em profundidade e dinâmica, pensamento ofensivo. A estratégia delineada por Jesus cortou-lhe os movimentos, o Benfica ressentiu-se.

O Benfica não sabe ser uma equipa que espera, que tenta controlar o jogo mas sim uma equipa que imprime intensidade e velocidade nas acções, com transições rápidas criando desequilíbrios. Sábado não se viu. Podemos dizer que no clássico o Benfica não teve sorte, porque tudo estava a correr bem até aos 92 minutos. Mas não. O Benfica não fez por merecer mais que o empate, que era o que estava na cabeça de todos e sofreu por, no meu entender, ir contra aquilo que é a filosofia e identidade que criou.

O Porto foi melhor e apesar de poucas situações de golo superiorizou-se nos diversos domínios. Uma posse de bola de 62 por cento ajuda a compreender o posicionamento das duas equipas. Uma palavra para o bom rendimento da estrutura central de Helton a Jackson passando por Mangala e Fernando.

As substituições foram ao encontro da abordagem de cada treinador. VP tinha de ganhar, fez o que estava ao seu alcance, acabou feliz. Jesus continuou na mesma linha de pensamento. Gerir e segurar o resultado e Kelvin deitou por terra o que estava previsto.

O próximo fim-de-semana garante final da Liga com emoção e imprevisibilidade até ao fim. Fantástico. Uma palavra para Pedro Proença. Boa arbitragem, ainda bem que a bola de James aos 84 minutos foi ao poste. Num jogo intenso, de qualidade e com a emoção presente até final, o árbitro foi apenas mais um elemento (como deve ser) e não o principal protagonista.

P.S. Amanhã o Benfica joga a final. O que está para trás não interessa nem resolve nada. Recuperar física e animicamente é fundamental. Olhar e jogar esses 90 minutos com a convicção de que é para ganhar.