Arranca esta quarta-feira mais um desafio na carreira de Zinedine Zidane. Um dos melhores jogadores de futebol de sempre vai estrear-se na Liga dos Campeões como técnico, tentando levar o Real Madrid à conquista do 11º troféu do seu historial.

Com cinco vitórias em seis jogos à frente do Real Madrid, e ainda invicto, Zidane tentará dar seguimento a esse interessante pecúlio em Itália, país onde escreveu algumas das mais belas páginas da sua carreira desportiva, enquanto jogador da Juventus.

O AS Roma-Real Madrid é o prato forte do segundo dia dos oitavos de final da Liga dos Campeões e vários holofotes estarão apontados para o banco «merengue», mesmo que a equipa seja a constelação de estrelas que se conhece.

Zidane começa em Roma um caminho que o poderá levar a entrar no estrelato também como técnico, depois de o ter feito enquanto jogador. São seis os treinadores que, até ao momento, conseguiram vencer a Liga dos Campeões jogando e treinando, sendo que só um o fez no Real Madrid.

Falamos de Miguel Muñoz. Famoso, mais recentemente, por ter sido o selecionador espanhol no México 86, além dos Europeus de França e Alemanha, venceu as três primeiras edições da Taça dos Campeões Europeus, entre 1956 e 1959, enquanto jogador do Real Madrid.

Miguel Muñoz, uma lenda em Espanha

Quando o argentino Luis Carniglia deixou a equipa, no final da quarta conquista seguida, Muñoz, que deixara os relvados um ano antes, pegou nela e levou-a à conquista do quinto troféu. Era ele, também, o treinador do Real Madrid que, em 1962, perdeu a final para o Benfica de Eusébio, no segundo e último troféu dos portugueses.

Depois de Muñoz, foi preciso esperar até 1985 para que um outro jogador que venceu a prova, ganhasse, agora, como técnico. Giovanni Trapattoni, que festejara em 1962/63 e 1968/69, pelo AC Milan (a primeira contra o Benfica) venceu ao serviço da Juventus, na famosa, pelos piores motivos, final do estádio do Heysel, frente ao Liverpool.

O terceiro da lista é, também, o que mais se aproximou de Zidane em talento nos relvados. E o «aproximou» é capaz de não ser a palavra certa. Dois génios à sua maneira, naturalmente, cada qual com os seus defensores. Falamos de Johan Cruyff.

O craque holandês era a figura maior do Ajax do início dos anos 70, que venceu três vezes seguidas a prova, e montou, também, a famosa «dream-team» do Barcelona que chegou ao topo da Europa, pela primeira vez na sua história em 1992.

As várias faces de um génio

Cruyff e Trappatoni venceram como jogador e treinador mas em clubes diferentes. Quem repetiu na perfeição Muñoz foi, primeiramente, Carlo Ancelotti. O que o espanhol conseguiu no Real Madrid, foi imitado pelo italiano no AC Milan.

Aliás, no total, Ancelotti tem tantas Taças como Muñoz: cinco. Como jogador venceu duas (1988/89 e 1989/90), como treinador já tem três. Duas no Milan (2002/03 e 2006/07) e uma no Real Madrid (2013/14), na final do estádio da Luz.

Há, depois, mais dois casos, ambos ligados ao Barcelona. Frank Rijkaard, o holandês que orientou a equipa de Ronaldinho e Deco até à glória em Paris, em 2006, já tinha erguido o troféu na carreira como jogador por três vezes, curiosamente, duas delas enquanto companheiro de Ancelotti, no final dos anos 80, no Milan. A outra foi em 1995, ao serviço do Ajax.

O outro exemplo e o último dos três que venceram Champions como jogador e treinador pelo mesmo clube é Pep Guardiola, naturalmente. Integrava a equipa de Cruyff em 1992 e venceu a prova duas vezes com os catalães (2008/09 e 2010/11)

Guardiola é único do grupo que pode impedir Zidane de lá chegar....

Ganhar logo à primeira?

Além de integrar o tal restrito grupo dos que venceram no relvado e no banco, Zinedine Zidane pode entrar num outro que tem duas versões. Uma mais alargada: os treinadores que venceram a Taça dos Campeões na primeira época em que a disputaram. Outra mais reduzida: os treinadores que venceram a Taça dos Campeões na primeira época da carreira.

O segundo grupo contudo, obriga a ignorar a passagem de Zidane pela equipa B do Real Madrid, o que, naturalmente, levará a uma divisão de opiniões. O francês já esteve no banco da equipa B em quatro jogos da temporada passada, pelo que é difícil considerar que esta seja a primeira época da carreira.

Aliás, ao fazê-lo estaremos também a reconhecer que Pep Guardiola venceu a Champions na primeira temporada da carreira, sonegando, lá está, a passagem pela equipa B do Barcelona, no ano anterior. Não é pacífico, portanto.

Assim sendo, há apenas dois treinadores na história que venceram a prova em ano de estreia no banco. O inglês Tony Barton teve uma ascensão meteórica e uma carreira curta.

Na época de 1981/82, este antigo avançado de equipas como o Fulham ou o Portsmouth, estreou-se como treinador à frente do Aston Villa. Três meses depois estava a levantar o troféu de campeão da Europa, o único da história do clube.

Barton entrou no Villa como adjunto de Ron Saunders, em 1980, e ficou com a equipa após a saída do técnico, conduzindo-a a uma cavalgada impressionante até à final que se jogou no Estádio De Kuip, em Roterdão, frente ao Bayern Munique. Venceram os ingleses por 1-0.

Tony Barton: uma das maiores surpresas da história da Champions

Ficou mais duas épocas no Aston Villa, assinou pelo Northampton Town em 1984 mas deixou a equipa no ano seguinte, depois de sofrer o primeiro ataque cardíaco. Ao segundo, já em 1993 e depois de uma mal sucedida passagem pelo Portsmouth, não resistiu.

O outro caso de sucesso instantâneo volta a chamar o Benfica à história. Guus Hiddink, atual treinador do Chelsea, venceu a Liga dos Campeões em 1988, ao serviço do PSV Eindhoven, na final de Estugarda frente ao Benfica. Tinha assumido o clube nessa época, depois de quatro temporadas como adjunto.

De referir ainda que Miguel Muñoz só não é tido em conta também porque já tinha orientado o Real Madrid em alguns jogos da época anterior àquela em que venceu a prova, mesmo que nenhum na, então, Taça dos Campeões Europeus.

Treinadores que venceram a Champions no ano de estreia na prova:

1956- Jose Villalonga Llorente (Real Madrid)

1958- Luis Carniglia (Real Madrid)

1960- Miguel Muñoz (Real Madrid)

1961- Bélla Guttman (Benfica)

1963- Nereo Rocco (AC Milan)

1964- Helenio Herrera (Inter de Milão)

1967- Jock Stein (Celtic de Glasgow)

1970- Ernst Happel (Feyenoord)

1975- Dettman Cramer (Bayern Munique)

1977- Bob Paisley (Liverpool)

1982- Tony Barton (Aston Villa)*

1984- Joe Fagan (Liverpool)

1988- Guus Hiddink (PSV Eindhoven)*

1989- Arrigo Sachi (AC Milan)

1995- Louis Van Gaal (Ajax)

1996- Marcello Lippi (Juventus)

2000- Vicente del Bosque (Real Madrid)

2009- Pep Guardiola (Barcelona)

2012- Roberto di Matteo (Chelsea)

2014- Luis Enrique (Barcelona)

*-Também a primeira época como treinador principal