«Precisamos de qualidade e resultados. Triunfo sem qualidade é aborrecido; qualidade sem triunfo não faz sentido».

A observação é de Johan Cruyff e serve de farol a um exaustivo relatório sobre o trabalho exercido pelas Academias de Futebol de Formação. O estudo foi levado a cabo pela Associação dos Clubes Europeus, órgão presidido por Karl-Heinz Rummenigge, e revela dados bastante pertinentes.

O único clube português alvo de análise foi o Sporting e o Barcelona é o clube que mais investe nas estruturas de formação: cerca de 20 milhões de euros por ano.

Não é à toa que sete dos 11 jogadores utilizados na final da Liga dos Campeões de 2011 tenham saído dos laboratórios de La Masia. A aposta dos catalães na formatação dos seus aprendizes em futebolistas-tipo é fortíssima e inabalável. Há uma cultura, uma definição, uma cartilha religiosa.

Neste documento a que o Maisfutebol teve acesso, também se pode ler algumas das regras fundamentais de comportamento: usar piercings, brincos, tatuagens e cabelo pintado é absolutamente proibido. Jogar com a camisola por fora dos calções? Nem pensar.

Tudo isto faz sentido se olharmos para Iniesta, Xavi e Messi, por exemplo. Filhos de La Masia, filhos de um código de conduta rígido.

Aqui ficam algumas das diretrizes traçadas pelos catalães:

. Número de campos de treinos: 8 (5 de relva natural, 3 sintéticos);

. Número de scouts: 25;

. Elementos procurados: técnica, velocidade, visão de jogo;

. Números de equipas: 15;

. Número de jogadores: 250;

. Origem dos atletas: 70% da Catalunha; 20% de outras regiões de Espanha; 10% estrangeiros;

. Número de treinadores: 36;

. Tática idealizada: 4x3x3;

. Tipo de exercícios: sempre com bola e em ritmo altíssimo;

«Para nós o Barcelona não é um negócio, é um sentimento», afirma nesta pesquisa o presidente Sandro Rosell.

Luís Gustavo, português no Barça: «Isto é perfeito»

Luís Gustavo é português e joga na equipa B do Barcelona. Está há seis anos nos blaugrana e ajuda-nos a perceber melhor o dia-a-dia em La Masia.

«Cheguei com 13 anos e desde o início avisaram-me que o respeito, a educação e a responsabilidade são tão importantes como a capacidade técnica», diz o esquerdino, internacional sub-19, ao Maisfutebol.



«Temos reuniões semanais com ex-atletas do clube. Incentivam-nos a ter tempo também para os estudos. Eles sabem o que acontece quando o futebol acaba», explica Gugu, realizado por ter feito «a escolha certa» para a carreira.

«É impossível não dar o máximo aqui. Olhamos para o campo ao lado e vemos o Messi e o Xavi a correrem que nem loucos. Eles já ganharam tudo e treinam assim, por isso nós só temos de dar o dobro».

Adriano e Thiago Alcântara são os melhores amigos de Luís Gustavo. A eles juntaram-se Agostinho Cá e Edgar Ié, chegados do Sporting em julho.

«Tenho ajudado em tudo o que é possível. O Agostinho já está a jogar, o Edgar tem estado lesionado. Vieram para uma academia fabulosa, perfeita».

Luís Gustavo nasceu em Braga, mas viveu no Brasil entre os 5 e os 13 anos. O sonho de jogar o Mundial-2014 com a camisola da Seleção Nacional é «enorme».

«Já cheguei à equipa B, falta-me mais um passo para ser jogador do melhor conjunto do mundo. Este ano quero consolidar o meu lugar no plantel secundário, crescer e convencer o treinador Tito Vilanova a apostar em mim».

Os clubes analisados neste estudo foram os seguintes:

Barcelona, Sporting, Ajax, Arsenal, Bayern Munique, Inter Milão, Levadia Tallinn, Dínamo Zagreb, Lens, Standard Liège, Besiktas, Basileia, FC Honka, Schalke 04, Shakhtar, Teplice, Glentoran, Hearts, Helsingborgs e Panathinaikos.