José Mourinho e Paulo Bento. Dois nomes que se juntaram na semana passada, dois treinadores apontados à selecção, duas figuras do futebol português da última década, dois homens condenados ao desencontro: a federação não conseguiu juntá-los, o Sporting também não.

A frase em título serve de pretexto à história. O protagonista não é Gilberto Madaíl, embora tenha tentado José Mourinho e contratado Paulo Bento. Há dez anos, outro homem, Luís Duque, fez o mesmo percurso, pela ordem contrária. O ex-presidente da Associação de Futebol de Lisboa, homenageado nesta quinta-feira pela entidade, recordou que também quis o «special one». Terá tido o desejo certo no momento errado: Mourinho não foi para Alvalade e o resto é história.

São curiosas as palavras que tem sobre o escolhido para o cargo de seleccionador, oferecido a Mourinho, ocupado por Paulo Bento, num processo em que chegou a falar-se na hipótese de o primeiro supervisionar o trabalho do segundo. «Quando estava no Sporting fui buscá-lo, é um homem de grande carácter. Se calhar nesta altura, pela sua personalidade, frontalidade, seriedade e capacidade de liderança, é a pessoa indicada», disse Luís Duque, ex-presidente da SAD leonina. Só faltou a famosa «tranquilidade» na caracterização de Paulo Bento.

Duque lembra a chegada de Paulo Bento, ainda jogador, ao emblema de Alvalade: «Não me esqueço de que, quando lhe telefonei, ele tinha um compromisso a prazo com outro clube e disse-me: "Vou com certeza, desde que corra o prazo para o qual fui contactado." No dia a seguir estava a ligar-lhe e dois dias depois estava no Sporting.»

Em Dezembro de 2000, Paulo Bento estava no Sporting, José Mourinho na Luz. O agora treinador do Real Madrid iniciara a carreira há pouco tempo, quando fez um «ultimatum» ao presidente do Benfica, Manuel Vilarinho. O técnico acabou por bater com a porta. Abria-se outra, em Alvalade, mas não chegou a entrar, num processo que deu muito que falar.

É por essa história de 2000 que Luís Duque considera que Madaíl fez bem em ir a Espanha conversar com o treinador do Real Madrid: «Vale a sempre a pena falar com José Mourinho, eu também falei quando foi preciso. Também não consegui trazê-lo, mas acho que é uma personalidade do futebol com quem vale a pena falar e, quanto mais não seja, pedir conselhos.»

Assim, num relâmpago de palavras e quase sem dar por isso, o antigo presidente da SAD leonina recordou que esta não é a primeira vez que José Mourinho e Paulo Bento se desencontram. Daqui para a frente, vamos saber o que vem desses destinos desalinhados. Daqui para trás, só podemos questionar como tudo teria sido, se Mourinho fosse para Alvalade.