Duelo de estreantes no Parque dos Príncipes, em Paris. De um lado País de Gales, do outro a Irlanda do Norte, equipas que nunca antes tinham chegado a uma fase final de um Europeu, quanto mais aos oitavos de final.

Quis o destino que ambos se defrontassem num momento histórico para a Grã-Bretanha e para o Reino Unido, momento que, de resto, até deu contornos mais interessantes a uma partida que se antevia algo combativa, mas de pouca qualidade.

Deu também um novo nome. O dérbi do «Brexit», em alusão à saída do Reino Unido da União Europeia. Mas a questão política ficou lá, a cerca de 500 quilómetros de distância.

Em Paris jogava-se o apuramento para a próxima fase do Europeu, e aí nenhuma das equipas queria ficar de fora seguramente.

Nas horas que antecederam o encontro, ambas as seleções trocaram galhardetes nas redes sociais, indicando uma rivalidade saudável entre ambas, ou não fosse este um momento de glória para o futebol britânico.

A verdade é que em campo a história foi diferente.

FILME DO JOGO

A Irlanda do Norte entrou em campo disposta a tudo para anular o teórico favoritismo dos galeses.

Na ideia dos norte-irlandeses estava esta ideia: roubar aos galeses a alma e o talento, anulando as principais estrelas da equipa, Joe Allen, Ramsey e Bale. Sempre que a bola tocava nos pés destes, havia sempre alguém a cair em cima deles para travar de imediato as pretensões destes criativos.

Michael O’Neill ordenou à equipa para pressionar alto, com marcação cerrada às individualidades galesas, e sempre que possível aproveitar a força de Lafferty, o homem mais avançado, para criar espaços na defesa adversária.

E foi com essa audácia que os norte-irlandeses conseguiram criar as únicas oportunidades de perigo na primeira parte, por Ward e Dallas. Em ambos os casos, o guarda-redes Hennessey brilhou e conseguiu evitar o golo da Irlanda do Norte.

O País de Gales ia insistindo, mas as já poucas iniciativas esbarravam invariavelmente na muralha defensiva montada pelos norte-irlandeses.

Ou entra ou estamos fora!

Muito provavelmente foi esta a palestra dada por Coleman ao intervalo. Os galeses estavam muito longe de convencer pela primeira parte efetuada, e era preciso uma injeção de confiança para a segunda metade.

Nos primeiros instantes notou-se maior fulgor ofensivo por parte de Gales, e Vokes teve na cabeça a melhor oportunidade de golo até então, aos 53 minutos, mas foi demasiado perdulário.

O susto acordou os norte-irlandeses, que procuraram tomar conta do jogo novamente. Sempre com mais físico do que cabeça, a Irlanda do Norte controlava as investidas dos galeses.

O único suspiro de Gales saiu dos pés de Gareth Bale, de livre direto ganho até de forma algo duvidosa. Um pontapé à Bale que encontrou o sempre inspirado McGovern a desviar para fora das redes.

Eles queriam «in» mas McAuley votou «out»

Na reta final do encontro prevaleceu a teimosia feliz dos galeses sobre o controlo pouco sagaz dos norte-irlandeses.

Numa altura em que o jogo parecia relativamente controlado por parte da Irlanda do Norte, foram os galeses a chegar ao golo, ou, na realidade, ao autogolo.

McAuley, aos 75 minutos, teve um daqueles momentos azarados. Bale cruzou com força da esquerda e o central, na tentativa de tirar a bola, acabou por introduzi-la na própria baliza.

E ao sétimo, a bola entrou

Eles não queriam sair, mas a decisão de um «tramou» o destino dos restantes.

No dérbi do «Brexit», os galeses foram «in» (curiosamente) e garantiram um lugar nos quartos-de-final.

Will Grigg diz adeus sem nunca ter jogado sequer, a Irlanda do Norte está «out», mas sempre, sempre, «on fire»!

Vamos ter saudades vossas…