A ‘Euro 2016 Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Max Kern

Parceiro oficial na Suíça: Blick Sport

Revisão: João Tiago Figueiredo

O selecionador nacional, Vladimir Petkovic, adora uma defesa de três homens e usou-a com bons resultados num sistema de 3-4-3 quando esteve no Young Boys (de 2008 a 2011). Contudo, na seleção suíça tem optado por quatro defesas, com dois ou três médios defensivos à sua frente. Isto resulta num 4-2-3-1 ou num 4-3-3.

O capitão, Gokhan Inler, perdeu o lugar desde a mudança para o Leicester City, onde pouco jogou, e as cartas do meio campo foram dadas novamente. Quem mais lucrou foi o reforço do Arsenal Granit Xhaka que, mesmo tendo jogado na seleção muitos anos, está agora no papel central que era de Inler. Xhaka teve uma época tremenda no Borussia Monchengladbach e será, desde que as lesões assim o permitam, apoiado por um trabalhador como Valon Behrami. Se Petkovic decidir jogar com três médios defensivos, então estará ainda Blerim Dzemaili naquela zona, o que significa que a Suíça alinharia com dois guerreiros a apoiar Xhaka, o playmaker.

O guarda-redes será Yann Sommer, do Borussia Monchengladbach, mas os dois suplentes também estão bem quotados: Roman Burki (Borussia Dortmund) e Marwin Hitz (Augsburgo). Os defesas laterais, mais uma vez desde que as lesões o permitam, também estão confirmadíssimos. Escritos na pedra.

À direita estará o novo capitão, Stephan Lichtsteiner, da Juventus, que chega como pentacampeão italiano. À esquerda estará o antigo campeão do mundo sub-17 Ricardo Rodriguez. No centro, é esperado que Petkovic jogue com Johan Djourou e Fabian Schar, pois Timm Klose está lesionado. Philippe Senderos, agora no Grasshoppers, é outra opção.

A estrela da equipa é Xherdan Shaqiri, o jogador que consegue fazer o inesperado e ganhar jogos sozinho. Por isso, naturalmente, estará no onze inicial. A única questão prende-se com a posição em campo: joga na direita? Atrás do avançado? Ou terá a liberdade para ser o homem solto num ataque de três homens?

Haris Seferovic pode ser uma alternativa já que é um número 9 mais clássico. Porém, não teve a melhor das temporadas. Na verdade, antes do golo que assegurou a manutenção do Enitracht Frankfurt na Bundesliga, não marcava desde novembro. Além disso, foi expulso no amigável pré-Euro com a Bélgica, por palavras, o que enfureceu Petkovic a ponto de este dizer que «atitudes como aquele podem arruinar as esperanças de toda uma geração».

Onze provável: Sommer; Lichtsteiner, Schär, Djourou, Rodriguez; Behrami, Xhaka, Dzemaili; Shaqiri, Seferovic, Mehmedi.

Que jogador pode surpreender no Euro 2016?

Depois de Gokhan Inler (89 internacionalizações) ficar fora da equipa, é tempo de Granit Xhaka mostrar o que consegue fazer num grande palco. Não é um perfeito desconhecido, claro, mas as pessoas podem ficar surpreendidas e perceber que é mesmo muito bom. Ter fechado a mudança para o Arsenal antes do torneio também será um incentivo extra.

Que jogador pode desiludir?

Haris Seferovic. Apesar do golo no playoff com o Nuremberga não dá para disfarçar que está foi uma época pobre para ele. Será que ele tem o poder mental de ignorar isso e jogar bem pela Suíça no Euro? Dificilmente, mesmo ignorando o cartão vermelho contra a Bélgica, recentemente.

O que seria um cenário realista para a Suíça no Euro 2016 e porquê?

Vladimir Petkovic que que a equipa esteja apurada para a fase a eliminar logo após os primeiros dois jogos do grupo, contra Albânia e Roménia. Mas assumimos que a Suíça ainda vai precisar de pontos no último jogo, contra França. Oitavos de final, por que não? A partir daí, sonhar é legítimo.

Os segredos dos jogadores

Valon Behrami

Em abril de 2015, com o Hamburgo intensamente envolvido na luta pela manutenção e a equipa em dificuldades contra o Wolfsburgo, Behrami envolveu-se numa confusão de balneário com nada menos do que o seu colega de seleção Johan Djourou. De acordo com o jornal alemão «Bild», os dois internacionais começaram a discutir em francês antes de se agarrarem e acabarem no chão, com sapatos a voar por todo o balneário. O diretor desportivo do clube, Dietmar Beiersdorfer, disse na altura: «Foi uma disputa emocional. Temos regras disciplinares e aqueles que as quebrarem serão punidos.»

Haris Seferovic

É um jogador que não tem medo de seguir o seu caminho. Ao contrário de muitos jogadores que cada vez mais aumentam a sua presença nas redes sociais, ele fechou a sua conta no Facebook recentemente. O motivo? Estava farto dos comentários negativos que recebia. «Não tenho paciência para os comentários de algumas pessoas. Nessas situações é preciso continuar a pensar positivo e manter a cabeça erguida». Acabou por ser uma boa decisão já que, semanas depois, foi desnecessariamente expulso num amigável com a Bélgica. Foi algo que não agradou ao público, nem ao seu selecionador.

Johan Djourou

Nasceu na Costa do Marfim, como resultado de um caso extraconjugal do seu pai em 1986. Quando voltou à Suíça, Joachim Djourou contou à sua esposa Daniéle o que aconteceu. E ela não reagiu como seria expectável, contou Johan Djourou à Blick em 2014: «A minha mãe na Suíça não tinha filhos naquela altura e mesmo tendo ficado triste com o que o meu pai fez, perdoou-me e nem hesitou em adotar-me.»

Fabian Schar

Em 2010 poucos achariam que chegaria a internacional. Ele próprio o sabia e foi precisamente por isso que estudou para ter uma alternativa, trabalhando num banco em Wil, quando jogava pelo clube local, na segunda divisão. «Trabalhava todo o dia no banco, depois ia treinar e voltava ao trabalho no dia seguinte às 10 horas», contou, quando assinou pelo Basileia. Quando estava no Wil chamou a atenção de todos quando marcou ao FC Aarau, com um remate arriscado do seu próprio meio campo.

Breel Embolo

Foi muito elogiado em novembro de 2015 quando, num jogo em que o Basileia perdia 3-2 com o Grasshoppers, disse ao árbitro que se enganou ao dar canto para a sua equipa. O árbitro agradeceu, o defesa do Grasshoppers Harun Alpsoy até lhe deu um beijo e os companheiros apoiaram-no. Michael Lang disse: «Aquilo disse muito sobre o Breel e o seu caráter. Conseguir manter a calma e fazer aquilo num jogo tão importante explica muito.»

Perfil de uma figura da seleção: Valon Behrami

Na Suíça chamamos «Guerreiro» a Valon Behrami e há um bom motivo para isso. Ele nunca desiste. Nunca. Não há melhor descrição para que tipo de jogador (e pessoa) é Behrami do que o minuto 93 do Suíça-Equador do Mundial 2014. O jogo estava 1-1 e Behrami bloqueou um remate na sua própria área, atirando-se para a bola como se fosse jogador de hóquei no gelo. Bloqueou o remate, recolheu a bola e arrancou – mesmo cheio de dores.

Muitos ficaria a rodar e a sentir pena de si próprios. Mas Behrami não. Ele nem parou naquela busca pelo golo da vitória, começando por entregar a bola a Ricardo Rodriguez, que continua o movimento que termina com o golo de Haris Seferovic, ao segundo poste. 1-2 tornou-se 2-1 em 30 segundos. E tudo por causa de Behrami. Não admira que Vladimir Petkovic o tenha tornado capitão.

«Se a minha forma de jogar não magoasse, estaria a fazer algo errado», afirmou Behrami no dia a seguir àquele jogo. «As lesões fazem parte de mim», disse, acrescentando: «O meu corpo estará desfeito quando a minha carreira acabar.»

Behrami nasceu a 19 de abril de 1990 em Titova Mitrovica, na antiga Jugoslávia. A sua família (originária do Kosovo) fugiu da Guerra para a Suíça nesse ano. O seu pai Rafip e a sua mãe Halime, juntamente com o irmão de cinco anos encontraram abrigo em Tessin, no sul da Suíça, perto da fronteira com a Itália. Moraram lá por cinco anos, até que as autoridades suíças decidiram que tinham de deixar o país. Ficaram devastados e a comunidade local ficou indignada. Felizmente, o clube fronteiriço onde o irmão, já com 10 anos, jogava, o Ligormetto, fez uma petição com duas mil assinaturas que teve muita adesão. Acabou por ser suficiente: a família Behrami pôde ficar e, dois anos mais tarde, tornaram-se cidadãos suíços de pleno direito.

Ainda assim, Behrami tem muito orgulho nas suas raízes kosovares. Tem uma tatuagem da águia do Kosovo na sua perna direita e no braço esquerdo tatuou as bandeiras do Kosovo e da Suíça. Jogar pelo Kosovo, porém, nunca foi uma opção. Nem antes, nem agora, mesmo que o país se tenha tornado um membro da FIFA e até vá disputar a qualificação para o Mundial 2018 (os jogadores que já representaram outros países como seniores podem, ainda assim, jogar pelo Kosovo).

Sobre isso, Behrami falou antes do jogo de apuramento para o Mundial, contra a Albânia: «Decidi jogar por um país e vou sempre jogar pela Suíça». Questionado se celebraria um golo contra o Kosovo, respondeu: «Festejar faz parte do jogo. Quando marco, quero celebrar. Acho que o futebol tem de ser divertido.»

Teve a primeira internacionalização em outubro de 2005 – há onze anos – entrando durante um jogo de apuramento para o Mundial contra França. Três semanas depois, no playoff com a Turquia, entrou ao minuto 83 e marcou o golo que levou a Suíça para o Mundial, apesar da controversa derrota por 4-2 em Istambul.

O Europeu de França será o seu quinto torneio (depois de 2006, 2008, 2010 e 2014) e com isso quebra o recorde de Tranquilo Barnetta, que disputou quatro. Mas nem tudo foi fácil para Behrami na seleção, com o seu pior momento a acontecer no segundo jogo da fase de grupos do Mundial 2010, quando foi expulso, depois de uma cotovelada num jogador do Chile logo aos 32 minutos. A Suíça apenas empatou nesse jogo, depois de jogar com dez quase uma hora e foi eliminada nessa fase, mesmo tendo ganho aos futuros campeões, a Espanha, no primeiro jogo.

Behrami não esteve na vitória frente a Espanha – um dos momentos de maior sucesso do país – por causa de uma lesão. Não é uma surpresa. Aliás, é mais surpreendente que ainda jogue ao mais alto nível. Foi já duas vezes operado à virilha, em 2006 e 2008, rasgou os ligamentos cruzados em 2009, sofreu ainda outra lesão no joelho dois anos mais tarde e partiu um metatarso em 2014. E estas são apenas as lesões mais graves. Tem sofrido muito com a cartilagem do joelho nos últimos anos. Para muitos jogadores isso seria o fim, mas Behrami aguenta e é costume vê-lo terminar os treinos com gelo no joelho.