A vitória sobre a Noruega (2-1) neste domingo tornou a Hungria o 21º apurado para a fase final do Europeu. O apuramento assinala o regresso dos magiares aos grandes palcos, 30 anos depois do México 1986. E marca, também, a primeira fase final para Gabor Kiraly, o homem das calças cinzentas. Que, se não tiver problemas físicos daqui até junho, poderá tornar-se o jogador mais velho de sempre a atuar num Europeu.

Ficha do jogo

Completando 40 anos a 1 de abril, o guarda-redes húngaro – figura decisiva nos dois jogos com os noruegueses - está bem colocado para superar o recorde do alemão Lothar Mattäus (39 anos e 91 dias), fixado em junho de 2000, num célebre Alemanha-Portugal (0-3), em Roterdão.



Esta não é a única ligação a Portugal nesta história: em junho próximo, Kiraly pode reencontrar a seleção portuguesa 18 anos depois de um primeiro cruzamento de bom augúrio. O ciclo virtuoso da Seleção Nacional – com nove fases finais consecutivas a partir do Euro 2000 - começou a 6 de setembro de 1998. Nessa tarde, em Budapeste, dois golos de Sá Pinto, regressado de uma longa suspensão, abriram caminho à vitória portuguesa sobre a Hungria (3-1), confirmada perto do fim num livre direto de Rui Costa, com culpas para o guarda-redes.

O dono da baliza húngara era um jovem de apenas 22 anos, recém-transferido para o Hertha de Berlim, que tinha acabado de conquistar a titularidade. Nessa altura, como as imagens abaixo ilustram, Gabor Kiraly ainda não usava as calças de fato treino cinzentas que viriam a celebrizá-lo.



No entanto, apenas 13 meses depois, as calças mais famosas do futebol europeu já apareceram no estádio da Luz, no jogo que confirmou o apuramento de Portugal para o Europeu da Bélgica e da Holanda. A vitória por 3-0 foi conseguida, apesar da expulsão de Pauleta, graças a uma cabeçada providencial de Abel Xavier, na segunda parte.

A história das calças foi explicada pelo próprio, numa entrevista em 2006, e remete para as origens, quando o clube onde jogava, o Haladas, obrigava os jogadores a gerir os escassos recursos: «No início da época davam-nos dois conjuntos de equipamentos. Um preto, para treinar, e outro cinzento, para os jogos. Aos poucos habituei-me a jogar de calças, mesmo depois do inverno, e convenci-me de que o cinzento me dava sorte. E quando conseguiu uma boa sequência de jogos, sempre com essas calças, decidi continuar a usá-las onde quer que jogasse», explicou.

Por essa altura, Kiraly já se tinha tornado um passageiro frequente – e de boa memória - para o futebol português. Nessa mesma temporada 1999/2000 o Hertha cruzou-se com o FC Porto na Liga dos Campeões, com o saldo de duas vitórias (1-0) para os dragões. E em 2002/03 voltou a ser talismã, desta vez para o Boavista, que deixou o Hertha pelo caminho, rumo às meias-finais da Taça UEFA.

Dono de uma respeitável carreira na Bundesliga – 230 jogos pelo Hertha em sete temporadas – o guarda-redes húngaro não aceitou a perda de estatuto e baixa de salário exigida pelo clube em 2004, rumando à Premier League. No entanto, o sonho durou apenas uma temporada, já que o Crystal Palace foi despromovido, e Kiraly nunca mais conseguiu estatuto de primeiro plano, apesar de passagens por West Ham, Aston Villa e Burnley.

De volta à Bundesliga, já com estatuto de veterano respeitável, voltou a jogar com regularidade no secundário TSV Munique 1860, antes de ser dispensado, por problemas disciplinares, no verão de 2014. Por essa altura, já tinha perdido e recuperado novamente o estatuto de titular na seleção, o que lhe permitiu tornar-se, na passada sexta-feira, o segundo jogador na história do futebol húngaro – depois do histórico Jozsef Bozsik - a superar a barreira dos 100 jogos.



Com duas atuações destacadas, Kiraly mostrou por que razão, apesar da idade e de ter regressado ao modesto Haladas, clube da sua cidade natal, Szombathely, onde inicou o percurso sénior - continua a merecer a confiança do alemão Bernd Storck, atual selecionador dos húngaros. E conquistou o direito a exibir as célebres calças cinzentas nos relvados franceses. A paciência é uma coisa bonita…

O que falta decidir nos play-off

Segunda-feira:

Itlanda-Bósnia, (1-1 na primeira mão)

Terça-feira:
Dinamarca-Suécia (1-2)
Eslovénia-Ucrânia (0-2)

Apurados para o Euro 2016:
França
Espanha
Alemanha
Inglaterra
Portugal
Bélgica
Itália
Rússia
Suíça
Áustria
Croácia
Rep. Checa
Polónia
Roménia
Eslováquia
Hungria
Turquia
Islândia
Gales
Albânia
Irlanda do Norte