Vladimir Putin é um confesso admirador de futebol. Tanto que conseguiu mexer os cordelinhos para levar o Mundial para a Rússia. Vai acontecer em 2018: o presidente russo sobreviveu a escândalos de votos alegadamente comprados no processo de candidatura à organização da maior de competição de futebol do planeta e, ao que parece, as obras também estão a decorrer dentro dos prazos estipulados.

Terá, por isso, o líder supremo do maior país do mundo motivos para olhar para o próximo Mundial com otimismo? Nem por isso. Falta à Rússia uma seleção competitiva e dificilmente resolverá esse problema em tão pouco tempo.

FILME E FICHA DE JOGO

Não há eufemismo que suavize a prestação da Rússia no Euro 2016 e que acabou com uma derrota confrangedora aos pés do País de Gales por 3-0. Confrangedora não por se tratar de Gales (estreante num Europeu), mas pela imagem que a equipa de Leonid Slutsky deixou na competição.

E o pior estava mesmo guardado para o fim. Bale e companhia arrasaram o bloco (de esferovite?) de leste e apuraram-se para os oitavos de final na condição de líder do grupo B. E, não fosse um inspirado Akinfeev, o volume do marcador podia ter sido pior.

Bem organizada defensivamente, os galeses apostaram essencialmente em transições rápidas para explorar a velocidade de Bale e as (gigantes) debilidades defensivas da Rússia. Receita simples e que cedo provou ser eficaz.

Aos 11 minutos, Joe Allen aproveitou uma fenda na defesa adversária para isolar Aaron Ramsey, que picou a bola sobre Akinfeev para colocar os galeses na frente do marcador e na liderança provisória do grupo.

Perdidos no espaço, qual cosmonauta, os jogadores russos não só não encontraram o caminho de regresso à nave como se desintegraram por completo fora de órbita. Um sonho para Bale, Ramsey e companhia, que chegaram ao 2-0 aos 20 minutos. Perda de bola da Rússia no ataque, bola nos pés de Bale e Shirokov, na tentativa de cortar a bola, acabou por assistir involuntariamente Taylor. Akinfeev ainda travou o primeiro remate, mas Taylor ainda teve tempo para uma segunda tentativa, perante a passividade dos defesas russos.

Burn-out em andamento, catástrofe anunciada. Não houve poção que resolvesse os problemas nem que, pelo menos, os amenizasse. Slutsky tentou: ao intervalo deixou Vasili Berezutski no banco e lançou o irmão gémeo em campo. Em dia de aniversário dos centrais, nenhum deles foi poupado aos raides galeses.

Onde deixou o coração, senhor Slutsky?

Aos 56’, Gareth Bale esteve perto do terceiro a passe de Ramsey. Jogo enorme do médio do Arsenal, que abriu o marcador, assistiu para o segundo e entregou nova prenda a Bale aos 67’ minutos. Só com Akinfeev pela frente (era quase sempre assim), o extremo do Real Madrid não falhou e apontou o terceiro golo neste Europeu: saltou para a lista dos melhores marcadores da prova e juntou-se a um grupo de gente ilustre.

Da Rússia só duas finalizações de Dzyuba, uma em cada parte. Muito pouco para disfarçar uma campanha medíocre concluída com apenas um ponto e muitos episódios negros fora das quatro linhas.

A pena suspensa de desqualificação do Euro passou agora a efetiva.