*Enviado-especial ao Euro 2016

A FIGURA

Renato Sanches

A sua entrada (para o lugar do esgotado  André Gomes) serviu para deslocar Nani para o flanco direito, onde Strinic estava a chegar com vontade para fazer estragos. Completou o triângulo do meio-campo com Adrien e William, e foi importante no crescimento da equipa no final da segunda parte. Ficará por algum tempo na memória a facilidade como bloqueou duas vezes Rakitic com o corpo e se virou para a baliza croata, obrigando o jogador do Barcelona a fazer faltas. Uma boa combinação com João Mário pecou apenas pelo remate, muito torto, em posição frontal. E terminou com a corrida desenfreada que partiu a defesa croata para o golo do triunfo, num movimento vertical que é muito seu. Como senão, continua a abusar nas cargas nas costas dos adversários, um vício que não conseguiu anular, e que originaram dois livres perigosos. Algo a corrigir.

MOMENTO

O contra-ataque perfeito
Perisic acerta de cabeça ao poste, com Patrício a desviar depois, permitindo o contra-ataque português. Bola em Renato Sanches que parece hesitar antes de colocar na esquerda em Nani. O avançado terá falhado o remate, mas apanha Ronaldo em posição legal ao segundo poste. Subasic ainda evita o golo, mas já não está para anular a recarga de Quaresma.

POSITIVO
Os gritos de sempre allez, Portugal, allez, agora pontuados ao ritmo de um bombo, e desta vez a primeira sensação em todo o Euro 2016 que os adeptos portugueses formavam finalmente uma claque e não um conjunto de pessoas que se juntou apenas para ver a bola. Não pararam o jogo todo, foram eles que muitas vezes acordaram os croatas adormecidos pelo jogo.

OUTROS DESTAQUES

Raphäel Guerreiro
Mais uma excelente exibição do novo lateral-esquerdo do Dortmund. Teve de lidar com Brozovic e com Perisic, quando esteve tentava libertar-se um pouco da atenção de Cedric, e respondeu sempre de forma acertada, ganhando quase todos os duelos. Pjaca, já numa altura bem adiantada do desafio, deu-lhe um pouco mais de trabalho, mas ainda assim conseguiu ir controlando o jovem croata. Um jogo cheio de pormenores deliciosos do outro lado do campo, em saídas para o ataque em apoio.

Quaresma
Estava lá quando foi mais preciso, para marcar o golo que vale os quartos de final. Entrou e mexeu com o jogo, obrigando Strinic a recuar – o primeiro a ter essa missão foi Nani, que com a saída de João Mário passou depois para a esquerda – e criou alguns desequilíbrios no início do prolongamento, que depois não tiveram consequências para a equipa. É o rosto que fica do contra-ataque perfeito português – a equipa estava a guardar-se há muito para isto no encontro –, acompanhando a jogada pelo meio e percebendo onde tinha de atacar o espaço. Numa vitória coletiva de grande sacrifício foi ele que colocou a cereja no topo do bolo.

Cédric
Marcação impiedosa a Perisic, que nunca teve espaço para respirar e não conseguiu fazer os movimentos de assalto à baliza de que tanto gosta. Raramente foi apanhado fora de posição, fosse sobre a linha ou quando tinha de fechar os cruzamentos ao segundo poste. Exibição irrepreensível no plano defensivo, esteve apenas desastrado em dois ou três cruzamentos que foi chamado a fazer.

William
Importante na contenção da criatividade de Rakitic, e na cobertura de alguns movimentos de Badelj e de Brozovic, quando surgiam pelos seus terrenos. Foi um dos responsáveis pelo pouco que a Croácia conseguiu criar, comandando o setor, e obrigando a uma saída de bola mais longa por parte do rival, sobretudo como o acumular do tempo.

Fonte
Performance muito acertada do central português, muito atento às sobras de Mandzukic e a movimentos interiores dos extremos croatas. Tem um corte fundamental a um cruzamento da esquerda de Strinic ainda na primeira parte, e outro já no prolongamento fechando a porta a novo centro perigoso. Errou um corte nesse período, numa bola metida para Kalinic (mais rápido), mas o ponta de lança, já apertado por Pepe, atirou ao lado.

Modric
Espera-se sempre muito mais dele do que dos outros. É um fora de série, nota-se como toca na bola, como impõe os ritmos, como toda a seleção croata se mexe à sua volta. Não conseguiu fazer entrar a maior parte dos passes verticais, mas não falhou um longo, tentando também queimar etapas na construção face aos obstáculos levantados por Portugal.

Corluka
Ronaldo não teve praticamente espaço. Não teve uma bola para rematar, uma nesga para assistir, exceto na jogada do golo, em que uma transição rápida lhe deu esse espaço. Isso deve-se ao bom gigante Corluka, o patrão da defesa. Sempre muito concentrado, foi importante na saída de bola, com bolas longas com acerto.

Vida
Teve três oportunidades de golo, e falhou-as todas. As três em bolas paradas, numa das quais já sem Patrício sobre a linha de golo e a última nos descontos do prolongamento, que podia levar a discussão para os penáltis. Uma má noite junto à outra baliza.