Helgi Daníelsson terminou a carreira no final da última época. O antigo internacional islandês, tinha saído do Belenenses para joga um último ano na Dinamarca, pelo AGF. Depois, voltou a Portugal. Como estudante. Há dias assinou o seu primeiro contrato profissional não relacionado com o futebol, para trabalhar, aqui em Lisboa, num Centro Europeu de combate às drogas e à sua dependência. O médio aceitou falar ao MAISFUTEBOL sobre as expetativas dos nórdicos num grupo que inclui ainda a Seleção Nacional, a Áustria e a Hungria.

«É um momento muito importante para nós. Estamos na fase final, e toda a gente está muito excitada com tudo isto. Somos um país pequeno, é a nossa primeira vez, é para nós é algo grande. Estivemos perto do Mundial, perdemos no último jogo, no play-off, com a Croácia, e agora voltámos a fazer uma grande qualificação», começou por lembrar o ex-futebolista, que, contudo, tenta combater uma expectativa generalizada: «Estou otimista, podemos continuar em prova. Mas acho que temos de continuar com os pés no chão, e toda a gente está eufórica. É o nosso primeiro Europeu. Podemos ter uma hipótese sim, mas Portugal é claramente o favorito e todos os jogos serão claramente difíceis. Temos de pensar num jogo de cada vez.»

O embate com Portugal, em Saint-Étienne, já está na cabeça dos todos os islandeses, mas por isso mesmo Daníelsson pede contenção. «Talvez seja bom começar contra Portugal. É favorito, e será um jogo de bónus. Se conseguirmos o empate será fantástico. Os dois encontros seguintes serão mais importantes para garantir pontos. Podemos chegar ao segundo lugar. É difícil prever, também já derrotámos grandes equipas como a Holanda e a República, e se houver alguma altura em que podemos derrotar Portugal será agora…»

O «boom» com os «indoor boys»

A Islândia começou a revolucionar o seu futebol quando percebeu que era necessário combater o duro e estender a competição por bem mais meses do ano. Só a partir desse momento começou a criar talento. «Agora, é muito diferente do meu tempo. Hoje, todas as cidades têm um sintético indoor. Quando jogava lá parávamos no Inverno, só jogávamos futsal ou andebol, hoje as novas gerações jogam todo o ano e com boas condições. Temos talvez também a nossa melhor geração. Tecnicamente são muito melhores, e por serem tão bons quando era mais novos saíram muito cedo para outros países na Europa. Para a Holanda, alguns para Inglaterra. O Gylfi [Sigurdsson], o nosso melhor jogador, saiu muito novo para Inglaterra. Com 16, 17 anos, muitos já jogavam em clubes profissionais, isso também foi muito importante.»

Potenciada pela melhoria nas infraestruturas, a Islândia apresenta-se igualmente com a sua melhor equipa de sempre. «Não quero pensar que foi apenas sorte reunir esta qualidade toda numa geração», avança Daníelsson, que aponta os resultados da formação como prova que contraria esta ideia: «Os melhores são todos mais ou menos com a mesma idade, num país tão pequeno. Mas acho que não. Mesmo as seleções mais jovens são muito melhores agora do que no meu tempo. A atitude também é diferente, os nossos jogadores querem sair para as grandes ligas e dão tudo por tudo. Acredito que tudo tenha começado quando melhoraram as infraestruturas.»

O impulso dado por Lars Lagerback, o selecionador, foi naturalmente importante. A Islândia começou finalmente a olhar para o jogo de forma profissional. O selecionador foi fundamental, claro. Foi uma grande mudança, esteve na seleção sueca com muito sucesso e é respeitado por todos. Além disso, tornou a federação muito mais profissional. Mais treinadores, mais treinos, mais jogos. Todos os jogadores o conheciam, e teve desde logo o seu respeito. Antes dele andávamos aos altos e baixos, umas vezes melhor outras vezes pior. Hoje estamos mais estáveis. Trabalhamos um plano de jogo há cinco anos, houve uma grande mudança. Toda a gente na Islândia o adora pelo que fez pelo país.»

Um plantel curto, sobretudo lá atrás

Lagerback assentou todas as suas ideias e o seu 4x4x2 num 11 ideal muito consolidado, no qual poucos tiveram oportunidade de entrar. Apenas 16 jogadores foram titulares na fase de qualificação, um deles o guarda-redes suplente Kristinsson, que se estreou no último encontro. «O treinador tem tido alguma sorte, conseguiu jogar com a sua equipa favorita, sobretudo na defesa, em praticamente todos os jogos da qualificação. No entanto, na lista final, alguns dos jogadores mais velhos ficaram de fora e entraram outros bem mais novos, e muito promissores. Jogaram menos no apuramento, mas estão na convocatória. Se tivermos uma ou duas lesões, sobretudo na defesa, podemos ter problemas, porque apesar de muito promissores são inexperientes. Os portugueses terão sempre jogadores se acontecer alguma coisa, jogam nas melhores equipa e trocar um ou outro não será complicado. O mesmo não se passará com a Islândia. Se isso acontecer será difícil para nós. Mas o nosso 11 é muito forte, e os 16 jogadores que contribuíram na qualificação fizeram um muito bom trabalho.»

Portugal e os outros

Helgi Daníelsson coloca Portugal acima das outras equipas do grupo, e acredita que a Islândia pode bater-se de igual para igual com austríacos e húngaros. «Não vi muitos jogos completos da Áustria. Jogámos um amigável contra eles aqui há uns anos, e tinha um nível semelhante à nossa seleção. Não tem grandes estrelas, tem uns dois ou três melhores jogadores e não um leque enorme de opções. O mesmo acontece com a Hungria que fez um apuramento muito bom. Mas estamos confiantes, e podemos batê-los», analisou.

O antigo médio defensivo tem poucas dúvidas na hora de escolher a maior qualidade da sua seleção e o seu melhor jogador. «Conseguimos ser organizados. Jogamos há muito no mesmo sistema, toda a gente o conhece e saber o que tem a fazer. Depois, há Gylfi Sigurdsson, que já ganhou alguns jogos para nós e poderá continuar a fazê-lo. Se Ronaldo pode jogar muitos jogos por Portugal, Gylfi pode também ajudar-nos. Depois, há união e um ambiente muito bom. Não há discussões, todos trabalham em conjunto.»

Em França, perspetiva uma Islândia cautelosa. Ou, pelo menos, acha que essa seria a melhor estratégia para poder lutar pelos oitavos de final. «Fizemos bons jogos e praticámos um bom futebol. Temos jogadores para isso. No entanto, acho que temos de ter cuidado. Claro que temos jogadores para criar e avançados para marcar golos, mas não podemos deixar que os nervos tomem conta de nós. É o ponto mais alto de todos os jogadores islandeses que vão estar no Euro. Os portugueses vão estar em mais uma fase final, mas os islandeses sonharam muito com isto. Temos de ir devagar, organizados e quando estivermos relaxados tentar tirar alguma coisa do jogo. Temos de não sofrer golos estúpidos e depois lutar pelo resultado.»

Na hora de olhar para a equipa portuguesa há um nome que vem sempre à conversa: Cristiano Ronaldo. Não há volta a dar. «Portugal também está entre gerações. Claro que há sempre Ronaldo, que quer sempre correr para a baliza e marcar golos, e os portugueses gostam de guardar a bola e conseguem criar coisas a partir do nada. Defrontei Portugal algumas vezes e sofri alguns golos, desses Ronaldo marcou alguns. Mas temos de acreditar que podemos seguir em frente», elogiou.

Se tivesse de apostar…

Quem vai vencer o Euro? Para o islandês a Roja repetirá o feito de 2008. «Os favoritos são os mesmos de sempre: Espanha, Alemanha. É difícil… Estão a aparecer pequenos países com mais força, que seria interessante ver se chegam longe. Se tivesse de apostar o meu dinheiro, e apesar de não ser a minha seleção favorita, apostaria na Espanha. Gostaria que Portugal ganhasse e a Islândia chegasse longe, claro. Tenho aqui muitos amigos», concluiu.