*Enviado-especial ao Euro 2016

A FIGURA

Rui Patrício

Melhor em campo, sem dúvida alguma. E, se me permitem, melhor guarda-redes de todo o torneio, batendo ao sprint o outro concorrente, o francês Hugo Lloris. Foi posto à prova por Griezmann, Giroud e Sissoko, entre outros. Mostrou-se atento pelo ar, a meia altura, pelo chão e respondeu sempre com enorme segurança. Será preciso recuar até ao jogo com a Croácia para nos recordarmos de um erro numa saída a um cruzamento, mas para aqui isso não interessa nada, uma vez que até nesse capítulo se mostrou impassível. Um grande jogo, num ambiente adverso, que nunca o fez tremer, e sim um grande torneio. Um dos maiores responsáveis pelo primeiro grande título sénior do país.

Cristiano Ronaldo

Oito minutos, sim. No entanto, é incontornável que faça parte destes destaques a partir do momento em que voltou a coxear, muito provavelmente porque se forçou e forçou os outros a isso, para o banco. Assumiu finalmente toda a plenitude do seu papel de capitão e, coincidência ou não, no momento em que o fez, não foi o melhor marcador de uma competição, mas a Seleção conseguiu uma vitória épica. Que a lesão não seja grave, faz muita falta e ainda por muito tempo.

Éder

Incrível. Um momento de confiança inabalável em si próprio, em que arrancou para a baliza francesa. Pode não ter nada a ver, e provavelmente não tem, mas a mim faz-me lembrar o golo de Nuno Gomes a Barthez, também do meio de nada, no Euro 2000. E não foi apenas o remate. Importantíssimo na luta com os centrais gauleses, segurando-os atrás, ganhando bolas e permitindo à equipa subir em campo. Quem diria? Portugal campeão da Europa com um golo de Éder? In your dreams...

Pepe e Fonte

Mais um jogo enorme dos dois centrais portugueses, que formaram, a partir dos problemas físicos de Ricardo Carvalho a meio do torneio, uma dupla extremamente coesa. Sempre disponíveis, sempre concentrados, aguentaram o vendável francês. Giroud não é um jogador fácil de controlar no jogo aéreo, mas foi controlado. Já Griezmann teve duas oportunidades, uma a meio da grande área, mas estava lá Patrício, e outra aí sim, sem marcação, valendo o pouco acerto do avançado do Atletico Madrid. Pepe ainda consentiu o remate de Gignac ao poste. Mas todas as outras decisões acertadas anulam esses poucos momentos menos perfeitos.

Sissoko

Poder físico incrível, o melhor de longe na equipa francesa. Provocou inúmeras dificuldades a Raphäel Guerreiro sobre a ala, e depois a William, Adrien e Renato Sanches, quando aparecia por terrenos mais interiores. Testou Rui Patrício várias vezes e o guarda-redes português soube sempre responder. Inconformado, saiu para o assalto francês em desespero à baliza portuguesa, trocando com Martial.

Nani

Cresceu com Éder em campo, depois de ter tido um papel ingrato durante a maior parte do tempo, em que ficou isolado na frente, com a saída, por lesão, de Cristiano Ronaldo. Foi uma noite de muito trabalho. Ao descer no terreno teve mais espaço para sair em drible, e ameaçou várias vezes Lloris, a última num cruzamento-remate que o guarda-redes foi obrigado a defender para o lado. Quaresma, depois, não conseguiu aproveitar.

Cédric e Raphäel

Não foi uma noite fácil para os dois laterais, mas ambos têm o mérito de não se terem afundado nas movimentações de jogadores como Sissoko, Payet e, depois Coman. Lutaram, mantiveram a serenidade e acabaram por contribuir e muito para uma defesa estável durante a maior parte dos 120 minutos.

O apoio português

Oito ou dez mil contra 70 mil e nem se notou. Uma verdadeira claque, incansável, a gritar, a cantar o hino, a dar finalmente força, ou se quiserem, a completar uma Seleção que sempre teve talento, embora jogue de uma forma diferente. Será que este triunfo épico vai fortalecer finalmente esse elo? Esperemos que sim!