*Enviado-especial ao Euro 2016

«Quero que os críticos continuem a dizer a mesma coisa. Quero que continuem a dizer que Portugal jogou mal e ganhou sem merecer. Iria todo contente para casa», atirou Fernando Santos, na conferência de imprensa realizada este sábado no Stade de France, de antevisão à final do Euro 2016.

O selecionador lembrou que «nunca houve uma final Portugal-França» para contrapor aos duelos perdidos nas meias-finais com o adversário de amanhã. E acrescenta: «Acredito que Portugal vai marcar a história desta final e a história do futebol.»

O técnico deixou uma mensagem a todos os portugueses: «Quero que acreditem tanto como eu, os jogadores, o staff e o presidente, que apostou em mim quando era uma aposta de risco. Há um grupo unido que tudo vai fazer para dar alegrias aos que estão cá e lá a apoiar-nos. Tudo vai fazer para dar-lhes a maior alegria de sempre no contexto do futebol.»

Santos rejeita que a equipa esteja agora mais confiante, com o percurso nos jogos a eliminar, porque acredita que esta «sempre esteve confiante e essa confiança mantém-se». No entanto, entende que um melhor «entrosamento leva a questões importantes que fazem com que a equipa se sinta melhor».

A Seleção vai tentar ganhar por si e pelo país, não por qualquer sentimento de vingança. «Portugal não vai jogar contra a França, contra a história ou a tradição. Vai defrontar a França, que tem um grupo fantástico. Temos um enorme respeito pelo nosso adversário, procurámos estudá-lo. Procuramos sempre na nossa equipa em primeiro lugar, conhecendo o nosso adversário. Vamos tentar montar uma estratégia para vencer o jogo.»

Fernando Santos lembra que, tal como Portugal, também os Bleus cresceram durante o torneio: «A própria França sofreu algumas transformações desde que se iniciou o torneio, mudou a sua forma de estar. Iniciou com um 1x2 no meio-campo e agora, nos últimos dois jogos, apresenta-se num 2x1, com Griezmann nas costas do ponta de lança. Fez um jogo muito próprio com a Alemanha. Estudou muito bem o seu adversário, preparou-se. Depois, com a enorme qualidade que tem, respeitou a Alemanha para depois vencer o jogo. Não acredito que vá jogar amanhã da mesma forma. Vai tentar entrar forte e pressionar Portugal, e nós vamos tentar responder bem.»

No que diz respeito a Portugal, reconhece que o comportamento da equipa seria «natural que fosse ascendente». E explica porquê. «O que era a base, o pulmão, o que foi durante um ano e meio o meio-campo desta Seleção não está na sua maior parte aqui,  infelizmente para eles e para todos nós. Temos a felicidade de com a formação, com jogadores que chegaram à final do Europeu de sub-21, colmatar essas baixas. Chegámos ao Euro com meio-campo completamente novo, embora se mantenham o William e o João Moutinho. Havia um natural entrosamento que faltava e não se consegue dar com os treinos. Só os jogos o dão. É natural que esta Seleção venha a crescer ainda mais, e o futuro é seguramente risonho.»

O responsável desvaloriza ainda o facto de ter jogadores com mais títulos conquistados ao seu dispor do que Didier Deschamps, uma vez que «são apenas números, estatísticas, que nada trazem nada ao jogo» e ainda as recentes derrotas em particulares frente aos gauleses: «Foram dois jogos diferentes, particulares. É verdade que a França ganhou os dois jogos, não vamos camuflá-lo, mas foram dois jogos de características diferentes. Aqui as duas equipas apresentaram-se em 4x4x2 losango, houve algumas experiências e o nosso adversário tinha jogadores que não estão aqui. No encontro de Portugal o autor do golo [Valbuena] também não faz parte da equipa francesa que aqui está. Não havia pontos, nada em disputa, apenas o prestígio. Claro que quero sempre ganhar, mesmo esses encontros, mas amanhã é uma final. Vamos tentar vencê-la com humildade e o nosso talento.»

Sobre a nomeação do árbitro inglês Mark Clattenburg pouco quis dizer. «Por princípio não tenho receio do que quer que seja. São três grandes equipas, duas que vão lutar pelo troféu e outra que vai tomar decisões. É um árbitro conceituadíssimo, que vai tentar fazer o seu melhor, como nós, ser isento a ajudar a que seja um grande espetáculo», concluiu.