Faltam três meses para o Alemanha-Escócia que dará o pontapé de saída no Euro 2024 em Munique, a 14 de junho. Ainda há decisões em aberto, os últimos três apurados só serão conhecidos a 26 de março, com a conclusão dos play-offs. Mas já é possível antecipar uma competição que promete muito. Onde Portugal entra como favorito, a tentar revalidar o título de 2016 e de volta a um lugar onde foi feliz há 18 anos, quando chegou à meia-final do Mundial 2006.

Depois de um Euro 2020 itinerante, espalhado pelo continente e ainda condicionado pela pandemia, a competição volta ao formato de anfitrião único. A Alemanha promete estar mais uma vez à altura, com 10 estádios já bem testados – nove deles foram utilizados no Mundial 2006, a exceção é Dusseldorf – e todas as infraestruturas necessárias. Os estádios voltarão a estar cheios. As duas fases de vendas de bilhetes já terminaram, com a procura muito acima da oferta – só para a final de Berlim houve 2.2 milhões de pedidos. Nesta altura decorre uma última fase de revenda de bilhetes.

Uma organização rodada, com foco também na segurança, em tempos instáveis como os que se vivem internacionalmente. O presidente da UEFA manifestou-se particularmente preocupado com a segurança e a organização alemã garante que essa é «prioridade máxima». A eventual qualificação de Israel ou da Ucrânia poderão trazer exigências adicionais nesse aspeto.

Do ponto de vista desportivo, estarão na Alemanha as grandes seleções do continente, apesar de algumas ausências de vulto. Como Haaland e Odegaard, que falharam o apuramento com a Noruega, tal como falhou a Suécia do sportinguista Viktor Gyojkeres.

Para já não há seleções estreantes, mas ainda poderá haver novidades quando se conhecerem as três últimas equipas presentes, entre elas um dos adversários de Portugal no Grupo F. As decisões dos play-offs acontecem na próxima semana.

Calendário dos play-offs:

21 março – Meias-finais

Caminho A: Polónia-Estónia, Gales-Finlândia

Caminho B: Israel-Islândia, Bósnia-Ucrânia

Caminho C: Geórgia-Luxemburgo, Grécia-Cazaquistão

26 março - Finais

Todas as outras seleções aproveitarão esta janela para os últimos jogos de preparação antes das convocatórias finais. Tempo para tirar dúvidas e acertar agulhas para a grande festa do verão, 51 jogos aos longo de 31 dias de futebol. Com início em Munique e final em Berlim, tal como em 2006.

A assinalar os três meses que faltam para o Euro 2024, o Maisfutebol antecipa o que esperar da competição, entre favoritos, certezas e dúvidas, com um ponto de situação grupo a grupo, no formato que se repete, apurando-se os dois primeiros e os quatro melhores terceiros. O que deixa apenas oito seleções de fora depois da fase de grupos.

Veja aqui o calendário completo do Euro 2024

Grupo A

Alemanha, Escócia, Hungria e Suíça

A Alemanha a jogar em casa nunca pode ficar fora das apostas, mas a Mannschaft aproxima-se do seu Europeu sobre brasas. O fracasso no Mundial 2022 e os resultados medíocres que se seguiram levaram à saída de Hansi Flick, mas o sucessor não tem tido vida fácil. As derrotas com Turquia e Áustria a fechar 2023 acentuaram as dúvidas em torno da equipa agora orientada por Julian Nagelsmann. Há muito talento, mas também há questões em torno de alguns veteranos. Por outro lado, um deles está de volta – Toni Kroos, que tinha renunciado à seleção em 2021, está de novo disponível. Nesta paragem de março vêm aí testes muito a sério com França e Países Baixos, que darão uma ideia mais clara sobre que Alemanha teremos no Euro. Depois há o resto do grupo. A Escócia chega ao Europeu com muita confiança, depois de garantir tranquilamente a segunda qualificação seguida e assente numa das suas melhores gerações em muitos anos. Começará a testar as expectativas logo no jogo de abertura frente à Alemanha. Há ainda que contar com a experiência da Suíça, com jogadores de topo e estabilidade no banco, apesar da imagem penosa deixada na despedida do Mundial 2022, quando foi cilindrada por Portugal. Quanto à Hungria, fez uma qualificação sem derrotas, terminando em primeiro lugar do grupo à frente da Sérvia e vai para a terceira presença seguida em Campeonatos da Europa, com a ambição de passar a fase de grupos.

A não perder: Alemanha-Escócia, 14 de junho em Munique

Grupo B

Espanha, Croácia, Itália e Albânia

A expressão grupo da morte banalizou-se, mas se há circunstância em que se aplica é esta. Uma luta com três galos e um outsider, ainda que sobrem dúvidas em torno dos principais candidatos. A Espanha atravessa uma fase de renovação, desde logo no banco, mas o selecionador Luis de La Fuente, depois de se ver envolvido na polémica em torno do ex-presidente federativo, chega aqui reforçado, após uma campanha sólida de apuramento e a conquista da Liga das Nações no verão passado, ganha na final precisamente frente à Itália. A baixa de Gavi, a que se somam dúvidas sobre a condição de Pedri, são dores de cabeça sérias para a Roja, que ainda procura fixar opções enquanto explora talento para o futuro, como o de Lamine Yamal. Depois há a Croácia, naquela que poderá ser a última grande competição de alguns dos jogadores da sua geração de ouro, liderados por Luka Modric, sempre ultracompetitiva e à procura de replicar finalmente num Europeu as grandes prestações dos últimos Mundiais. Quanto à Itália, a campeã da Europa em título voltou a complicar a sua própria vida no apuramento, com a mudança de selecionador a meio caminho. Garantiu o objetivo, mas caiu para o último pote do sorteio e ficou à mercê deste grupo. As ausências dos dois últimos Mundiais, as várias interrogações em torno das opções de Luciano Spalletti e a baixa por lesão do experiente Berardi são sombras nas expectativas italianas, mas ninguém se atreve a vaticinar que a Azzurra não será capaz de voltar a dar cartas. Por fim, a Albânia pode ser o patinho feio do grupo, mas a equipa orientada por Sylvinho, o ex-jogador que foi adjunto de Tite no Brasil, vem acumulando experiência e está pela segunda vez no Europeu depois de ter sido primeira na qualificação, à frente da Chéquia e da Polónia.

A não perder: Espanha-Itália, 20 junho em Gelsenkirchen

Grupo C

Inglaterra, Dinamarca, Sérvia e Eslovénia

O Grupo C tem a Inglaterra como clara favorita, uma perceção alimentada pelo grande momento de jogadores como Jude Bellingham, Harry Kane, Phil Foden ou Bukayo Saka. A Inglaterra tem talento para dar e vender a grande questão é se Gareth Southgate conseguirá finalmente potenciar toda essa qualidade e chegar a um grande título pela primeira vez desde 1966. A eliminação nos quartos de final do Mundial soube a pouco para os finalistas vencidos do Euro 2020 e a pressão é grande para este verão. Mas há mais motivos de interesse no grupo. Desde logo dois regressos balcânicos. A Sérvia e a Eslovénia não jogavam uma fase final desde o Euro 2000, há 24 anos. Agora vão tentar lutar por um lugar de qualificação, com expectativa especial em torno do que poderá fazer a Sérvia, liderada em campo pelo agora «saudita» Mitrovic. Depois há a Dinamarca, do sportinguista Hjulmand e do benfiquista Bah, à procura de deixar melhor imagem do que no Mundial 2022, quando caiu na primeira fase. Para já, os campeões europeus de 1992 saíram por cima do seu grupo de qualificação, embora em igualdade pontual com a Eslovénia, com a curiosidade de as duas seleções voltarem agora a defrontar-se na fase final.

A não perder: Dinamarca-Inglaterra, 20 de junho em Frankfurt

Grupo D

França, Países Baixos, Áustria e Vencedor Play-off A

Um grupo forte, vale a pena ver no que dará. Com a França como favorita, ainda e sempre, uma convicção reforçada pela campanha dos Bleus até à final do Mundial 2022 ou pela qualificação quase imaculada para o Europeu. Há dúvidas quanto à forma física de vários jogadores, de Coman a Kanté, depois da sua mudança para a Arábia Saudita, mas a França também tinha muitas baixas no Qatar e a verdade é que há uma base aparentemente inesgotável de qualidade nas academias de formação gaulesas. Mesmo a indefinição em torno do futuro da estrela Mbappé não abala a convicção do potencial da França no Europeu. Na qualificação, a França terminou precisamente à frente dos Países Baixos, que volta a defrontar na fase final. Agora sob o comando de Ronald Koeman, a Laranja é outra das seleções a procurar transformar muito talento em algumas posições numa equipa homogénea, capaz de competir até ao fim. A Áustria fez uma campanha de qualificação muito forte, taco a taco com a Bélgica, e ganhou nova dose de confiança com a vitória sobre a Alemanha a fechar 2023, mas chegará ao Europeu com uma baixa de peso, sem o capitão David Alaba, lesionado. A quarta seleção do grupo sairá do caminho A do play-off, onde estão Polónia, Estónia, Gales e Finlândia.

A não perder: Países Baixos-França, 21 de junho em Leipzig

Grupo E

Bélgica, Eslováquia, Roménia e Vencedor Play-off B

Domenico Tedesco, o sucessor de Roberto Martínez no banco da Bélgica, conseguiu manter a boa folha de serviço em qualificações, apurando-se em primeiro lugar do grupo, sem derrotas. Os Diabos Vermelhos ainda atravessam o difícil processo de renovação, com o progressivo ocaso da sua geração de ouro e sinais de problemas internos, como a renúncia de Courtois com críticas ao selecionador. Mas uma seleção que continua a ter De Bruyne ou Lukaku em grande forma, melhor marcador da qualificação, não pode deixar de ser tida em conta. Parte, antes de mais, como clara favorita num dos grupos mais low profile. A Eslováquia, no seu terceiro Europeu seguido depois do segundo lugar no grupo de Portugal, é forte candidata ao apuramento, enquanto a Roménia mostrou credenciais com o primeiro lugar no grupo de qualificação. A incógnita aqui vem do play-off, onde estão a Ucrânia, Bósnia, Islândia e Israel.

A não perder: Bélgica-Eslováquia, 17 de junho em Frankfurt

Grupo F

Portugal, Turquia, Chéquia e Vencedor Play-off C 

Portugal está forte e é o favorito do grupo, seja qual for o ângulo. O desafio de Roberto Martínez é confirmar as expectativas, depois da campanha perfeita de apuramento, dez vitórias em dez jogos, e com uma seleção cheia de talento individual e ainda e sempre com Cristiano Ronaldo a dominar atenções, ele que se prepara para um recorde de seis presenças em Europeus. Depois do título em 2016 e da eliminação frustrante no Euro 2020, precisamente às mãos da Bélgica de Martínez, a seleção nacional parte entre o lote restrito de favoritos e sem grandes contratempos para já – a principal dúvida é a condição de Diogo Jota. O facto de ter calhado no último grupo também dá a Portugal, como reconheceu Roberto Martínez, uma potencial almofada adicional na gestão do tempo de recuperação. Portugal, que terá quartel-general em Marienfeld, no mesmo local onde se fixou no Mundial 2006, terá pela frente dois adversários familiares. A Turquia do benfiquista Kokçu e companhia fez uma qualificação forte, terminando em primeiro lugar no grupo de Croácia e Gales, depois da troca de selecionador em setembro e da chegada de Vincenzo Montella. A vitória sobre a Alemanha em novembro também contribuiu para alimentar expectativas e em cima disso é de esperar apoio massivo da numerosa comunidade turca na Alemanha. Mais dúvidas em relação à Chéquia, mais ainda face à troca de selecionador já depois de terminada a qualificação - o antigo internacional Ivan Hasek só assumiu o cargo em janeiro. Resta saber quem vem do play-off e se haverá um reencontro de Portugal com a Grécia, 20 anos depois do Euro 2004. Geórgia, Luxemburgo e Cazaquistão são as outras seleções a lutar pelo último bilhete para o Europeu.

A não perder: Turquia-Portugal, 22 de junho em Frankfurt