Em 2008 a redação do Maisfutebol, em parceria com o cartoonista Ricardo Galvão, publicou na Prime Books o livro «Doze Euros no Bolso», que passava em revista, de forma bem-humorada, os momentos mais marcantes da história dos Campeonatos da Europa. São alguns desses textos, adaptados e atualizados, que recuperamos agora, para intervalar a atualidade do Euro 2016 com as memórias que ajudam a fazer a lenda da segunda maior competição internacional de seleções.

O puzzle jugoslavo (Suécia 1992)

Os primeiros golos da Jugoslávia para 1992 foram do macedónio Pancev e do croata Prosinecki. No jogo seguinte também marcou p esloveno Katanec. E, ao terceiro, o bósnio Bazdarevic. Quando a seleção chegou ao final em primeiro no grupo, a bandeira deles já era outra.

O país desintegrou-se ao longo daquela campanha e transformou-se num cenário de guerra. Perante as sanções da ONU ao regime sérvio, a UEFA excluiu a Jugoslávia e substitui-a pela equipa que tinha segunda na qualificação.

Faltavam dez dias para começar o europeu e a notícia chegou por telefone a uns tipos altos, na maioria loiros, que andavam tranquilos nas suas vidas. Começava aí a louca aventura da Dinamarca.

Com os ventos da mudança a varrer o Velho Continente, a lista de países para o Euro 92 fez-se à custa de muita borracha e corretor. No Grupo 5 de qualificação começaram por estar a RFA e a RDA, depois o Muro de Berlim caiu e foi a Alemanha unificada que garantiu o apuramento. As datas atribuídas à RDA foram apagadas do calendário.

A União Soviética fez a campanha de qualificação, mas foi substituída na fase final do Europeu perla provisória Comunidade de Estados Independentes (CEI), designação de transição entre o fim da URSS e o aparecimento das novas repúblicas.

Para a Jugoslávia, já em estágio na Suécia quando chegou a sentença da UEFA, foi mesmo o fim da linha. Mas o talento da seleção sobrou para proezas notáveis dos países que lhe sucederam. A Croácia chegou aos quartos de final do Euro 96 e foi terceira no Mundial 98 e a pequena Eslovénia ainda chegou à fase final do Euro 2000.

Na corrida ao Euro 92 também ficaram pelo caminho, mas apenas por incompetência, seleções de topo como a Itália e a Espanha. Os países latinos faltaram à chamada e estenderam o tapete a um Europeu nórdico como nunca e a uma competição aberta como poucas. Na Suécia, a festa foi da Dinamarca.

A contar da esquerda, Suker é o 2º da fila de cima (ao lado do montenegrino Savicevic), Prosinecki é o 3º e Boban é o 2º da fila de baixo da Jugoslávia campeã do mundo sub-20. 

E é contra um país daquela extinta Jugoslávia que Portugal tem encontro marcado nos oitavos de final deste Euro 2016: com a Croácia, aquela que tem sido a seleção daquele antigo país com melhores resultados em Campeonatos da Europa.

A Jugoslávia ainda participou no Euro 2000 com essa designação quando a formação de novos países nos Balcãs ainda deixou Sérvia e Montenegro unidos desportivamente. Esta Jugoslávia chegou aos quartos e final depois de passar a fase de grupos onde também esteve em estreia nos Europeus a nova nação Eslovénia (e que ficou por essa primeira fase).

De resto, entre ex-jugoslavos, a presença em Campeonatos da Europa tem sido dominada pelos croatas. A seleção dos «Vatreni» («Labaredas») está na quinta presença em Europeus tendo chegado aos quartos de final em 1996 e em 2008 (ficando pelas fases de grupos em 2004 e 2012).

Foi precisamente na estreia em Euros que a Croácia e Portugal se cruzaram pela primeira e, até agora, única vez em jogos oficiais. Nos dois jogos particulares posteriores, a seleção portuguesa ganhou sempre (2-0 em 2005 e 1-0 em 2013). No jogo a contar para o Euro 96, também: Portugal venceu 3-0.

E a seleção nacional passou em primeiro de um grupo onde estava também a campeã europeia em título, a Dinamarca. Dinamarqueses e croatas acabaram por decidir entre si quem seguia em segundo lugar para os quartos de final. Venceram os croatas numa noite mágica de Davor Suker, que recordamos aqui..

Suker remata a faena (Inglaterra 1996)

Os adeptos faziam a festa, como sempre. O estatuto de campeão europeu estava lá, intacto. O talento também, ainda mais do que quatro anos antes. Desta vez havia Michael Laudrup, o melhor dinamarquês que alguma vez calçou chuteiras, a juntar esforços com o irmão Brian. , na baliza, estava o indiscutível número 1 da Europa, Peter Schmeichel. Havia tudo isso e, no entanto, nada corria como o previsto.

A história já começara mal no lisonjeiro empate de estreia, com Portugal. Agora eram os croatas a perder o respeito á coroa dinamarquesa. Era como se a desinibição de 1992 tivesse mudado de mãos: aquela Croácia, em estreia nos grandes palcos, herdara muito do atrevimento que tinha ajudado a Dinamarca a chegar ao título.

Não lhe faltava talento também. Além de Jarni, Prosinecki e Boban hava aquele insaciável Suker, que tinha aberto o marcador aos 54 minutos, de penálti.

Schmeichel era o mais revoltado com a derrota iminente, especialmente depois de Boban ter feito o 2-0 para a Croácia a dez minutos do fim. Tudo parecia perdido. Em busca do milagre, o irascível guarda-redes passou a aventurar-se na área croata de cada vez que havia um canto ou um livre.

Suker, que parecia jogar sempre com um sorriso trocista nos lábios, tentou castiga-lo uma primeira vez, com um chapéu do meio-campo. Schmeichel, rápido a recuar, deteve a bola sobre a linha e fez um aceno irónico ao seu adversário, agradecendo-lhe o passe. E no canto seguinte, já nos descontos, voltou a subir à área.

Mas o canto resultou numa perda de bola e Suker ficou sozinho na ponta esquerda, enquanto Schmeichel recuava a toda a velocidade, ocupando a posição na baliza. O croata sentiu chegado o momento da glória: quando o «Grand Danois» deu um passo em frente, encurtando o ângulo, picou-lhe a bola por cima, num chapéu vistoso e humilhante.

Scmeichel tombou a direito, como uma tábua, enquanto Suker arrancava campo fora, de braços abertos, detendo-se para recolher os aplausos com uma vénia de toureiro. Não era para menos: o seu pé esquerdo tinha rematado a faena com um golo em forma de «Olé!».

Aqui fica o momento, o segundo golo neste «top» a seguir apresentado, a partir dos 3:29 minutos.