Cerco espanhol à muralha otomana, tortura psicológica e porta arrombada por um aríete chamado Alvaro Morata. Dois golos do ponta de lança, homem certo no lugar certo: o momento final do pensamento de Andrés Iniesta.

Iniesta, pois. O código genético da La Roja está depositado nos pés e no cérebro do bom do Andrés. Neurónios, caros senhores, inteligência anormal e talento, tanto talento.

O génio de Albacete descodifica, transforma e simplifica o processo de jogar futebol. Recebe, passa, organiza, comunica. Lento? Iniesta arranca e deixa turcos para trás; frágil? Iniesta recupera bolas e sabe explorar as costas, momentos de fraqueza e precipitação do oponente. 

A esta hora estará o estimado leitor a pensar: então, Morata faz dois golos, Nolito marca um e oferece outro, e o MaisFutebol vem elogiar Iniesta?

FICHA DE JOGO E ESTATÍSTICAS DO ESPANHA-TURQUIA

A dúvida, discordância até, é pertinente. Se nos focarmos no lado mais visível do jogo, o tal elo derradeiro do plano mental de Iniesta, Álvaro Morata e Nolito teriam de ser os melhores em campo e alvo dos mais entusiasmados louvores. 

Mas Iniesta é o homem que comanda atrás da cortina, tantas vezes discreto e alérgico às lâmpadas dos holofotes da manchete. É o maestro da orquestra, o homem que vira as costas ao público, não por rudeza ou deficiente educação, mas sim por convicção de funções. É assim que tem de ser, assim será.

A orquestra ajuda, por certo. Basta analisar o ocorrido no terceiro golo, da lavra de Morata. A bola passou por todos os espanhóis em campo, com exceção de Gerard Piqué, e acabou no fundo da baliza do impotente Babacan. 

Aos 48 minutos a Espanha tinha a qualificação resolvida e o jogo ganho.

Desta vez, nuestros hermanos não tiveram de suportar ponta de sofrimento. É verdade que a Turquia ainda incomodou nos primeiros 20/25 minutos, mas sempre com elevadas doses emocionais e reduzida lucidez.

A Espanha montou o cerco, rodeou as muralhas, não abdicou de ser paciente e altiva. Rodou, tocou, seguiu as indicações do comandante Andrés e entre os 34 e os 37 minutos arrombou a frágil redoma turca.

Com as graças de Mehmet Topal, o central que não vai querer ver as fotografias do primeiro e segundo golos espanhóis.

Desmontado o acampamento otomano, a hora foi de deleite e entretenimento. Estava Andrés Iniesta em campo, o génio de Albacete. Que os deuses da bola o livrem e guardem por muitos anos. Amén.