Terceira época consecutiva sem vencer o campeonato, futebol medíocre, resultados frustrantes face ao investimento realizado, queda a pique das assistências nos jogos, divórcio entre a equipa (treinador incluído) e os adeptos e de uma parte substancial destes com a direção... Em suma, «bater no fundo» é isto.

O FC Porto assume-o, desde logo pelas palavras do próprio presidente Pinto da Costa, e de forma mais ou menos velada vai evocando através dos seus canais de comunicação a época de 2001/02 para recordar como deu a volta por cima e arrancou para a década mais triunfal na história de um clube português – nove campeonatos e quatro títulos internacionais entre 2003 e 2013.

O início do ciclo de vitórias coincidiu com a chegada ao comando técnico de José Mourinho, que montou uma equipa em torno do génio de Deco. E foi junto do «mágico» do Dragão que o Maisfutebol tentou fazer um ponto de situação sobre a crise portista.

Quando perguntado sobre se faz sentido a comparação desta época com 2001/02, o primeiro impacto é defensivo – coisa que o Deco não era em campo, apesar da inteligência tática: «É difícil de responder. Agora, não estou por dentro do clube. Sou um mero espectador dos jogos. Porém, num clube que se habituou a ganhar é normal que haja contestação dos adeptos quando se perde. Sobretudo coincidindo com uma sequência de vitórias do grande rival.»

Está dado o mote. Daqui, Deco arranca sem driblar as questões. A bola agora é dele para a explicação do momento atual, que começa desde logo pela falta de identidade de um dragão assustado ao ver-se confrontado com o reflexo da sua depressão.

«Um dos grandes problemas tem que ver com o FC Porto não ter sabido manter ano após ano uma base de jogadores que conhecem bem o clube. O Benfica soube organizar-se e tem vendido, mas sempre conseguindo manter algumas referências, gente que está há várias épocas na equipa. Assim, as hipóteses de ganhar são maiores. Não sei as prioridades de cada clube, mas se um clube mantém jogadores importantes e as coisas funcionam parece-me evidente que esse é o caminho certo», argumenta Deco.

 O grande ídolo azul e branco não fica por aqui e começa detalhar motivos que ajudam a perceber uma fase conturbada como há muito não se via nos 34 anos de presidência de Pinto da Costa.

Falta qualidade ao plantel ou capacidade de suportar a pressão? Pesam mais as chuteiras ou aquela camisola?

«No futebol há várias formas de ganhar, mas é fundamental haver sempre um equilíbrio entre qualidade, trabalho e organização. Se uma equipa tiver só jogadores de qualidade e não houver trabalho, dedicação e também um grande treinador, não se ganha… Se existir isso tudo e não houver grandes jogadores também é difícil. E nos últimos anos o FC Porto não tem encontrado esse equilíbrio. Houve muitas mudanças de treinadores e sobretudo de jogadores. Às vezes, quando se acaba um ciclo, é difícil encontrar o caminho para começar outro.»

«Otávio pode ajudar bastante o FC Porto»

Deco evita falar de casos concretos. Na verdade, importa sublinhar que o encontro do Maisfutebol com o antigo médio internacional português é fortuito, durante um Rio Ave-V. Guimarães.

É uma entrevista curta e improvisada sobre um momento particular do FC Porto, embora Deco preferisse falar sobre o jogo que encerrou a 29.ª jornada. Desde que em 2013 pendurou as chuteiras que ele é empresário de jogadores. E por obrigação ou por gosto Deco aparece em alguns jogos sempre que está em Portugal, onde tem casa e vive parte do ano.

Falamos sobre o jogo? OK. Falemos sobre Otávio, que na derrota justa do Vitória de Guimarães em Vila do Conde era o único dos vimaranenses a remar contra a maré do Rio Ave.

Otávio, médio-ofensivo brasileiro de 21 anos, um virtuoso com a bola nos pés. Com as devidas ressalvas, faz lembrar alguém?

«É um jogador de que eu gosto. Chegou ao Porto vindo do Brasil e é normal passar por um processo de adaptação. Tem-se destacado no V. Guimarães, está num grande clube e a jogar bem. É um jogador diferente, que, nota-se, está um pouco acima dos outros. É um jovem talentoso, que tenta, que arrisca e tem qualidade. Para o ano, pode ajudar bastante o FC Porto.»

 Otávio, que em janeiro não foi resgatado pelos dragões, apesar da falta de criativos no meio-campo, é agora apresentado como reforço para a próxima época.

Pinto da Costa garantiu-o publicamente.

O presidente, que Deco bem conhece, vai ser eleito no próximo domingo para o 14.º mandato.

Aos 78 anos, o homem que levou o FC Porto aos píncaros ainda é a pessoa que mais tem condições para dar a volta à crise atual?

«Quando estou com ele, vejo-o bem. Só isso.»