A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Emeka Enyadike 
Parceiro oficial na Nigéria: SuperSport
Revisão: Vítor Hugo Alvarenga

Stephen Keshi é uma figura histórica com claras ligações às últimas décadas do futebol nigeriano. Como jogador e treinador, Keshi tem estado ligado à seleção desde há 34 anos, tendo jogado pelas Águias Verdes (como a Nigéria era conhecida na altura) até ao final da sua carreira em 1998.

O atual selecionador principal começou por orientar os sub-20, passando depois a adjunto de Shuabu Amodu no Campeonato do Mundo de 2002.

Se há um estilo de jogo tipicamente nigeriano, Keshi conhece-o como ninguém. O técnico implementou o futebol arrojado e direto que era utilizado pela geração de ouro que garantiu o apuramento para o Mundial de 1994 com Keshi como capitão e o holandês Clemens Westerhof no comando técnico.

Tal como nesse Campeonato do Mundo, a Nigéria atual assenta o seu jogo num 4-3-3. Vincent Enyeama chega ao seu terceiro mundial como guarda-redes e capitão. Em 2010, o seu duelo com Lionel Messi na derrota frente à Argentina (0-1) ficou para a história do torneio.

Efe Ambrose, defesa-central no Celtic, ocupa o posto de lateral direito na seleção. Do outro lado, Elderson Echiejile (AS Mónaco) era a primeira opção mas foi riscado da lista neste sábado devido a lesão. O veterano Joseph Yobo está na convocatória mas ficará no banco, já que o selecionador prefere a dupla formada por Godfrey Oboabona e Kenneth Omeruo. Omeruo, de 20 anos, quer atrair a atenção de outros clubes para evitar novo empréstimo do Chelsea. O seu desempenho no Middlesbrough, na época passada, provou que ele está pronto para se assumir em outros clubes.

Omeruo e Oboabona demonstraram um grande entendimento na CAN de 2013 mas este último lesionou-se na época passada e abriu caminho para a entrada de Azubuike Egwuekwe, mas o gigante é muito mais lento que os «dois Os».

No setor intermediário, Obi Mikel é o elo de ligação mas não ocupa a mesma posição que no Chelsea. Na seleção, é uma força criativa, com Ogenyi Onazi (Lazio) na posição mais defensiva e Victor Moses a atuar mais em profundidade, embora haja uma possibilidade de Moses ser encarado apenas como uma alternativa.

Victor Moses, extremo dos quadros do Chelsea, tem sido o elo de ligação entre o meio-campo e o ataque mas vem de uma cedência pouco produtiva ao Liverpool, onde passou grande parte do tempo no banco. Face a esse cenário, Keshi pode optar por um médio convencional, seja ele o talentoso jovem Ramon Azeez (Almería) ou Nosa Igiebor do Bétis de Sevilha.

No jogo decisivo contra a Bósnia, Obi Mikel pode recuar um pouco no terreno. De qualquer forma, a Nigéria não vai abdicar do seu 4-3-3 porque a sua grande força está no ataque. O regresso de Peter Odemwingie foi importante e o avançado surge num belo momento de forma após cinco meses de excelente nível no Stoke City.

Na frente estará ainda Emmanuel Emenike (Fenerbahçe), enquanto Brown Ideye ficou fora da lista. Odemwingie e Emenike podem ter a companhia de um veloz extremo: Ahmed Musa do CSKA Moscow. Musa tem jogado pelo centro do ataque no CSKA, mas na seleção deve surgir num flanco para aproveitar a sua devastadora mudança de velocidade.

Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?
Peter Odemwingie é um dos jogadores com maior experiência na Nigéria mas não joga na seleção desde que foi afastado da CAN 2013. A equipa conseguiu muita coisa sem ele mas todos sabem que, se Odemwingie estive bem mentalmente, pode ser imparável. O avançado daria maturidade e capacidade finalizadora à equipa, embora o seu registo de 9 golos em 55 jogos pela Nigéria não seja brilhante. Aos 32 anos, este deve ser o seu último Mundial. Ao marcar seis golos na reta final da temporada no Stoke City, Odemwingie provou estar num grande momento de forma.

E que jogador pode desiludir as pessoas no torneio?
Efe Ambrose acumulou experiência na Liga dos Campeões como defesa-central e exibiu-se a bom nível na CAN2013. Porém, desta vez é o Mundial e o jogador – que atua como lateral direito na seleção - não pode ser apanhado fora da posição, como costuma acontecer quando se aventura no ataque. Foi isso que vimos na Taça das Confederações.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
As equipas de África nunca chegaram às meias-finais do Mundial. O melhor que a Nigéria conseguiu foi passar a fase de grupos nos Mundiais de 1994 e 1998. Desta vez, os adeptos esperam que a seleção chegue aos quartos-de-final. Porém, convém recordar que a Nigéria não vence um jogo em Mundiais há 16 anos, desde o triunfo frente à Bulgária no França98. Se passar a fase de grupos, a seleção será muito difícil de bater e pode ir mais longe que os melhores registos de equipas africanas na prova. 

 
Curiosidades e segredos da seleção

Azubuike Egwuekwe
O defesa dos Warri Wolves poderia ser negociante de madeira na Nigéria, caso não tivesse seguido a carreira de jogador profissional. Ele chegou a ser um aprendiz da loja de madeira do seu pai mas entretanto decidiu seguir outro caminho e entrou para o Nasarawa United em 2006. «Eu era bom no negócio da madeira e bastante lucro para o meu pai.»

Ogenyi Onazi 
O jogador está em foco depois de uma reportagem polémica do Sunday Sun. O jornal apanhou um misterioso empresário, chamado Henry Chukwuma Okoroji, a dizer que teria condições para influenciar os resultados da Nigéria no Mundial. O empresário garantiu que ter o controlo sobre dois jogadores (um deles seria Onazi) e uma ligação muito próxima com um alto responsável da federação nigeriana. «Não tenho qualquer ligação com indivíduos ou grupos relacionados com corrupção ou manipulação de resultados. Nunca aceitaria desvirtuar resultados», reagiu o jogador.

Vincent Enyeama
O guarda-redes da Nigéria fez uma grande época no Lille. Fora dos relvados, porém, é uma figura completamente diferente. Os seus companheiros de seleção chamam-lhe Pastor já que ele gosta de liderar os momentos de oração antes das refeições, treinos e jogos. «Vincent podia abrir uma igreja», brinca o selecionador Stephen Keshi. Enyeama disputou o Mundial de 2002 e tem sido a primeira escolha da Nigéria desde então. Porém, só saiu do seu país depois de terminar o curso de Bioquímica na Universidade de Uyo.

Stephen Keshi
Shuaibu Amodu era o treinador principal da Nigéria em 2002 e Keshi era o seu adjunto. A dupla garantiu a qualificação da seleção para o Mundial mas foi despedida antes do torneio. Quatro anos mais tarde, Keshi apurou o Togo para o Campeonato do Mundo de 2006 mas também saiu do cargo antes da prova. Em 2010, foi Amodu a apurar a Nigéria para o Mundial mas o sueco Lars Lagerback tomou conta da equipa a três meses do arranque do torneio. Desta vez, porém, Keshi e Amodu resistiram às pressões externas. Shuaibu Amodu é o diretor-técnico do da Federação nigeriana e Stephen Keshi subsiste como selecionador após tentativas de contratação de um «conselheiro técnico» estrangeiro. Desta vez, chega mesmo ao banco no Mundial.

Perfil de uma figura da seleção: Ogenyi Onazi
 
Ogenyi Onazi era apenas um nome desconhecido nos mares profundos do sistema do futebol da Nigéria, mas tudo mudou no outono de 2009. A Nigéria recebeu o Campeonato do Mundo de sub-17 mas a sua preparação foi afetada por vários casos de jogadores que não cumpriram os requisitos da FIFA.

À pressa, o técnico John Obu foi obrigado a chamar vários substitutos e dois deles vieram de uma equipa patrocinada por uma igreja. A My People tinha sido fundada pelo profeta TB Joshua e tinha um par de jovens promissores: Sani Emmanuel e Ogenyi Onazi.

Sani Emmanuel, avançado, marcou cinco golos no torneio e foi eleito o melhor jogador do Mundial, embora a Nigéria tenha perdido na final com a Suíça (0-1). Os olheiros concentravam atenções em Sani mas a Lazio de Roma acabou por contratar os dois jogadores em 2011.

Em Itália, o avançado sentiu dificuldades mas Ogenyi Onazi evoluiu como um valor a ter em conta no setor intermediário. Com 19 anos, o médio foi integrado na equipa principal da Lazio e fez a sua estreia na Serie A, frente à Atalanta.

Ogenyi Onazi reforçou a sua influência na época seguinte e chegou com naturalidade à seleção da Nigéria. O seu primeiro jogo pelas Super Eagles foi frente à Libéria no apuramento para a CAN 2013. O jogador viria a ser convocado para o torneio. No primeiro encontro, esteve no banco, mas integrou logo depois o onze titular e não mais saiu.

O médio distingue-se pela sua capacidade para destruir jogo do adversário. Devido a esse espírito de missão, costuma acumular cartões amarelos. Ogenyi Onazi falhou a Taça das Confederações de 2013 devido a lesão e isso poderá explicar a incapacidade da seleção em passar a fase de grupos na prova.

Em novembro do ano passado, a Nigéria empatou a dois golos com a Itália e o jogador fez uma grande exibição. «Muitas pessoas questionavam a minha confiança neste jogador, mas ele está sempre a evoluir, sempre a procurer a bola e a proteger os companheiros de equipa», salientou o técnico Stephen Keshi.