«Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá». 26 de Novembro de 2005. Última jornada da Série B. Estádio dos Aflitos, no Recife. Dez minutos para o fim, Náutico e Grémio empatados a zero. Para a formação de Porto Alegre o resultado basta para subir de divisão, para a equipa da casa não, para a equipa da casa só a vitória significa a promoção à Série A. O árbitro assinala penalty contra o Grémio e expulsa mais um jogador, o quarto da equipa. De repente ficam sete contra onze, com um penalty contra pelo meio.
«Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá». O que sobra até ao apito final é um momento histórico. A polícia entra em campo para proteger o árbitro, o guarda-redes Galato defende o penalty e o miúdo Anderson arranca pelo campo fora, passa por toda a gente e marca o golo da vitória. O gigante Grémio faz o impensável, vira o jogo do avesso e escreve uma página única na história do clube. Uma página guardada para sempre pela sétima arte.
«Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá». Chama-se Inacreditável - A batalha dos aflitos, é um documentário de noventa minutos em jeito de longa metragem. Não é apenas um filme sobre uma equipa, nem é apenas um filme sobre um jogo de futebol, é um filme sobre luta, sobre sofrimento, sobre paixão. Por exemplo a paixão de quatro adeptos do Grémio, todos eles ligados à arte, que se lembraram de eternizar para sempre a história numa película.
«Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá». A ideia partiu do produtor Gustavo Ioschpe. «Umas semanas depois do jogo com o Náutico viajava de avião para Porto Alegre, sentei-me ao lado de alguém que não conhecia e começámos a falar do Grémio. Ele perguntou-me se já tinha visto a homenagem do consulado de Santa Maria, uma cidade pequena do interior. Então ele enviou-ma por mail e eu fiquei emocionado». Aí surgiu a ideia. «Era uma colagem de sons da caminhada do Grémio para o título com músicas tradicionais da região. Eu ouvia aquilo umas quinze vezes por dia. Entrei em contracto com o Beto Yurquenitch, que foi o produtor-executivo, e com o Eduardo Bueno, que é um dos grandes escritores brasileiros, ambos gremistas, para fazermos o filme».
«Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá». A longa metragem ficou terminada em seis meses. «Foi um tratamento para filme. O Beto Souza, um realizador muito conhecido no Brasil e também adepto do Grémio, realizou como se fosse um filme, o Eduardo tratou do argumento, por isso não é apenas uma colecção dos melhores momentos. É mesmo um filme». Inicialmente editada em DVD, a película de imediato atingiu o sucesso. 32 mil exemplares vendidos depois, chegou ao cinema. Desde Março está em exibição nas salas de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, de S. Paulo e de Brasília. É, portanto, um filme que ultrapassou as fronteiras dos adeptos do Grémio. O portista Anderson é a figura central da história. «Ele é o grande herói», diz Gustavo Ioschpe. «É o único facho de luz e de esperança em quase todo o filme. O destaque da equipa, a promessa de futuro».
«Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá». A participação fez-se através de várias imagens do jovem e com um depoimento. «Nós contactamo-lo, ele foi super solícito. Aproveitou uma folga do F.C. Porto e veio ao Brasil gravar o depoimento. É uma participação divertida e essencial para o sucesso do filme». Na memória fica uma frase em que o portista diz que se o árbitro não marcasse penalty morria no fim do jogo. Pelo meio há também um depoimento de Scolari, um adepto confesso do Grémio, em que diz que se estivesse no estádio no jogo com o Náutico não deixava bater o segundo penalty. Uma frase carregada de emoção. Como todo filme. Como a carreira do Grémio. Como as palavras do presidente Paulo Odone. «Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá».