Enorme trambolhão do F.C. Porto em casa e uma enorme interrogação sobre as reais capacidades de uma equipa que com a bola nos pés é comparável às melhores, mas que a defender entra na lista das piores. Enorme contra-senso que resulta em duas derrotas em dois jogos da Liga dos Campeões e consequente questionamento sobre as possibilidades de passagem à próxima eliminatória. Perder com o Inter no Dragão na próxima jornada será absolutamente fatal.
Co Adriaanse tem de compreender, uma vez por todas, que não pode construir uma equipa da frente para trás, mas de trás para a frente. Basta falar no exemplo de José Mourinho, que sempre privilegiou a atitude pragmática de não deixar o adversário marcar golos e, se possível, vencer, nem que seja por 1-0. O holandês do F.C. Porto gosta do espectáculo, é capaz de construir uma equipa fantástica com posso de bola, mas corre o risco de falhar rotundamente um dos objectivos da temporada (pelo menos a passagem à próxima fase da Liga dos Campeões), porque não conseguiu incutir na equipa uma verdadeira postura defensiva que a transforme numa força conquistadora.
Todos os testes sérios da temporada têm tido maus resultados: Braga (0-0), Rangers (2-3) e Artmedia (2-3). E em dois destes casos o F.C. Porto revelou gigantescas debilidades defensivas que não se quedam no quarteto de trás, mas que terão de ser explicadas também pela falta de postura defensiva, ou melhor, um exagero ofensivo que leva os jogadores a deslumbrarem-se com o estilo de jogo mais lírico do que terra-a-terra. Sim, é bonito ver esta equipa jogar, em certas alturas, mas com certeza que se perguntarem a um adepto portista se trocaria a primeira parte brilhante (até aos 44 minutos) por uma vitória a resposta é mais do que óbvia.
Show Diego não bastou
Ante um Artmedia que justificou o rótulo de «grande equipa» colocado por Adriaanse, o F.C. Porto demorou meia-hora para quebrar o gelo e partir para o que ameaçava ser uma grande exibição. Diego queria a bola e transformava-a num instrumento mágico, mas demorou algum tempo até conseguir encontrar o caminho da baliza. Os eslovacos, porém, cedo perceberam as debilidades do adversário e passaram a explorar intensamente as costas de César Peixoto (mas o problema até nem iria residir neste aspecto).
O marcador foi inaugurado aos 32 minutos, por Lucho González, que, após uma das inúmeras jogadas de insistência do ataque, aproveitou um cruzamento de Quaresma para cabecear bem no coração da área para o fundo da baliza. A lata parecia aberta e só era preciso começar a comer. Assim pareceu, dado que sete minutos depois Diego, num ataque rápido, passou fácil pela defesa e fez o 2-0. O estádio agradecia e agraciava-o como fez no passado com Deco. Mas sabiam os 38 mil que o espectáculo, para eles, tinha terminado ali.
Vitória com Art(e)
Devidamente instruídos sobre o adversário, os eslovacos nunca desistiram e começaram a explorar o filão Ricardo Costa no último minuto do primeiro tempo, com Petras a aproveitar uma tentativa de corte extemporâneo do «capitão», entrando na área facilmente e rematando para o fundo da baliza. No final a estatística diria tudo: o Artmedia fez quatro remates e marcou nas três vezes que acertou na baliza, enquanto o F.C. Porto fez 28 e marcou dois. Falta de eficácia atroz.
Com McCarthy desinspirado, o Porto não conseguia materializar o domínio de jogo (65% de posse de bola) e começava ceder. Aos 54, o médio Kozak aproveita uma enorme abertura do lado direito e foi até ao lado esquerdo fazer o empate com a maior das tranquilidades. Sem reacção, Adriaanse tirou Diego e tentou induzir objectividade no ataque com Hugo Almeida e Alan, mas só conseguiu mais chuveirinho e remates sem nexo. Aos 74, a estocada final, com um cruzamento banal para a área, Ricardo Costa «defende» as costas de Borbely e permite que o «trinco» faça o 2-3 em plena pequena área. O peso da derrota justifica a culpabilizazão de Adriaanse.