A experiência foi construída ao lado dos melhores. Bruno Oliveira tem 26 anos, mas já soma no currículo o precioso tempo que passou ao lado de Sven-Goran Eriksson e José Mourinho. Formado na Faculdade de Educação Física do Porto, com a especialização em alto rendimento em futebol, é um dos brilhantes alunos daquela instituição e um aspirante a treinador da nova vaga.
Formado há três anos com 20 valores em metodologia do futebol, obteve o mesmo resultado na tese de final de curso, que serviu para apontar críticas ao futebol italiano. Neste sentido, aproveitou a ajuda dada pelos dois anos passados em Itália, na Lázio de Eriksson, por intermédio de Fernando Couto. Esteve, ainda, uma semana com Queiroz no Real Madrid e outra no Manchester United. No Chelsea foram quinze dias. À espera de propostas interessantes, depois de ter recusado algumas da Liga de Honra e da II Divisão B, vai cumprindo o curso de treinadores na Escócia, em Edimburgo, seguindo as pisadas do «mestre» Mourinho, para além de dar aulas.
Observador atento do futebol, faz um diagnóstico completo do que poderá estar a suceder no F.C. Porto. Victor Fernández tudo mudou, mas ainda não se percebe em que sentido. «Com Mourinho havia uma filosofia de jogo instituída, que era cumprida à risca, com princípios de jogo perfeitamente definidos, com orientações de organização de jogo bem definidas, em que cada jogador sabia quais as funções base que tinham de cumprir e quais as funções base dos colegas. Portanto, havia quase como que uma cumplicidade em campo entre todos», frisa.
«Com Fernández, não sei se devido ao período conturbado de Del Neri, nota-se que esses princípios estão a desaparecer. No início, notou-se logo uma diferença, mas agora é gritante. O Porto não consegue ter a posse de bola durante cinco minutos seguidos, não consegue impor-se no jogo como se impunha no ano passado. Isso, na minha óptica, tem a ver com as diferenças no trabalho, no tipo de treino. Parece-me que falta um plano, uma filosofia de jogo válida», critica, entendendo que o novo técnico dos dragões «terá a sua filosofia de treino, mas a qualidade dessa filosofia, a qualidade dessa concepção de jogo é que se calhar não é a melhor».
O treino, enorme problema
O véu vai sendo levantado. «Penso que o tipo de treino diário é diferente do ano passado. Fernández é nitidamente um treinador de treino integrado, enquanto que Mourinho adoptava a periodização táctica, ou seja, as grandes diferenças é que neste último caso dá-se privilégio à organização de jogo, à forma de jogar da equipa, enquanto que no treino integrado o privilégio é para a integração de factores, físicos, psicológicos, tácticos e técnicos», aponta, reconhecendo que «Fernández também pretende dar identidade à equipa, mas nitidamente não está a conseguir implementar o modelo de jogo que quer».
O caso de Quaresma é paradigmático: «Quando ele está a jogar na linha e perde a bola, desliga completamente do jogo. Parece-me que isso poderia ser evitado, treinando de outra forma. Mas é um conjunto de factores que permite que isso aconteça». A dúvida, enfim, permanece. «Não sei se ele pretende adoptar um sistema de jogo, ou dois. Anda sempre a experimentar e não está a conseguir».
Uma das chaves também poderá estar na construção do plantel. «Mourinho não escolheu os jogadores ao acaso, mas porque sabia que tinham as características indicadas para o modelo de jogo dele ou que pelo menos os poderia moldar a ter as características para esse modelo. Com Fernandez é diferente. Temos que ver que ele perdeu pedras-chave, como Deco e outros, mas também foi buscar grandes jogadores, que Mourinho não teve hipótese de o fazer quando esteve no F.C. Porto. Mourinho não foi buscar estrelas, enquanto Fernández contratou jogadores brasileiros que já eram referências, portanto tem muito a ver com a maneira de treinar. Mas tenho a certeza que tudo isto resolve com o treino».