Parecia simples, não era? A «besta negra» do Dragão voltou a incomodar o F.C. Porto e roubou dois pontos num jogo em que veio, de novo, ao de cima a incapacidade portista para resolver as partidas antes de as tentar controlar. E se, em outras alturas, o final foi o desejado, desta feita a liderança fica presa por um ponto após uma igualdade que só começou a parecer possível minutos antes de acontecer mesmo.

Antes dos golos, que surgiram ambos na segunda parte, esteve quase tudo no sítio certo. O F.C. Porto atacou mais, como se previa. O Nacional mostrou-se em bloco baixíssimo, como se esperava.

Com estes ingredientes não seria difícil adivinhar o resultado final: F.C. Porto a massacrar, Nacional a defender como podia. Mas não foi nada disso. Nem o F.C. Porto massacrou, pese a esmagadora possa de bola, sobretudo até ao intervalo, nem o Nacional se viu muito aflito. Quase sempre bastou ser competente.

Miguel Rodrigues foi tremendo, Gottadi foi decisivo, mas analisar este encontro é, essencialmente, perceber o que não fez o F.C. Porto.

É verdade que na primeira parte, essencialmente, o meio campo portista, não fosse a noite gélida, seria palco de luxo para qualquer piquenique. Quem lá assentasse arraiais não seria muito incomodado.

Mas também é certo que o domínio portista foi totalmente consentido e, em largos minutos, inconsequente. No primeiro tempo, exceto um lance em que Gottardi nega o golo a Jackson, isolado, e três ou quatro tentativas de meia distância, o F.C. Porto pouco fez que se visse.

O esquema de Paulo Fonseca tem uma nuance claramente vísivel a olho nu: Josué nem sequer se preocupa em ser extremo. Surge no papel como falso ala, mas nunca o é: é mais um médio. Coloca-se no centro, atrás de Lucho e Jackson e o F.C. Porto fica coxo.

Assim, a equipa ou ataca pelo centro, facilitando a vida ao adversário, ou aposta em Varela, que viveu noite pouco inspirada, ou, em último caso, vai cruzando de muito longe, pelos laterais, a quem falta, muitas vezes, apoio para chegar mais perto da área. E, aí, uma defesa concentrada, como o Nacional teve sempre, vai chegando para resolver.

Curiosamente até seria (quase) assim que o F.C. Porto chegaria ao golo, já no segundo tempo, mas, no primeiro, foi mais transpiração do que outra coisa qualquer. Querer massacrar e não ter arte.

Problemas? Varela claramente em noite não, como se disse, Lucho pouco em jogo e Josué, mesmo que pelo centro, só durou 45 minutos. A somar a isto, Paulo Fonseca parece ter mexido tarde na equipa. Fez a primeira substituição numa altura em que Manuel Machado já havia esgotado as dele.

É verdade que o jogo ficou bem diferente depois de Jackson abrir o ativo, num cabeceamento perfeito, após centro de Danilo. Mas, pese os avisos de um encontro cada vez mais partido, o técnico portista, apostou na mesma toada. A equipa não resolvia o jogo e o Nacional, num contra-ataque empatou.

Mateus trabalhou bem na esquerda, Otamendi evitou o golo sobre a linha mas Rondon, solto, fez um golo fácil. Faltavam menos de dez minutos e o F.C. Porto percebeu que seria obrigado a trabalhos forçados.

Nem quinze minutos antes parecia impensável o Nacional incomodar tanto o F.C. Porto, mas o golo, quando surgiu, já nem foi surpresa assim tão grande.

Depois de marcar o Nacional voltou à ideia inicial e Paulo Fonseca atirou a equipa para a frente com Ricardo em vez de Herrera. Antes, já Quintero e Licá tinham sido lançados.

Nos descontos, Lucho isolou Jackson que teve tudo para vestir, mais uma vez, a pele de salvador, mas Gottardi foi gigante e fechou-lhe a baliza. Se não foi ali, não seria mais. E não foi.

Apito final pouco depois, assobios e dois pontos a voar. Quatro em duas jornadas, pese o intervalo de três semanas entre os dois jogos. Este F.C. Porto já esteve bem mais confortável na Liga.