Geómetra obsessivo, ardiloso, capaz de desfazer paredes graníticas e fileiras cerradas. Três passes divinos, imprevisíveis, a atravessarem forças contrárias e a colocarem dragões na linha de tiro. Antes do período de fausto, sustentado em quatro golos, foi Moutinho a amparar a equipa e a indicar-lhe o caminho da salvação. Substituído por Defour aos 80 minutos, aplaudido por todo o estádio. Já joga de olhos fechados com Lucho. A inteligência simplifica, a lucidez contagia.
O Momento: golo de Marc Janko
67 minutos, instante desbloqueador de um jogo enregelado. Marc Janko volta a fazer das suas. Dois jogos, dois golos, números de bom ponta-de-lança. Palmilha cada centímetro da área com a confiança de um veterano de muitas guerras. Tanto assim é que reage com uma naturalidade gélida a um, dois, três golos desperdiçados. Sabe que a história lhe dará oportunidades de regeneração, é paciente, sabedor. O golo marcado é primário, básico, foi só encostar. Antes, tivera duas oportunidades para celebrar. Uma delas é quase imperdoável. Adiou a felicidade até ao limite da tolerância. Valeu a pena.
A Desilusão: José Shaffer
Foi expulso e hipotecou as hipóteses da sua equipa. O argentino até estava a fazer um jogo muito interessante. Se não houve rigor excessivo da equipa de arbitragem é o principal responsável pelo desmoronar de uma estratégia que prometia dar frutos.
A CRÓNICA DO JOGO
Lucho Gonzalez
Tanta classe, tanta delicadeza no trato da bola, tanta afeição. Pormenor delicioso, já perto do fim, a fazer a recepção e a lançar Fernando num excelso toque de calcanhar. Onda de influência crescente na organização azul e branca. «El Comandante» pede, organiza, exige, acalma, motiva. Vitor Pereira já não concebe a equipa sem o mestre argentino. Tanto assim é que foi João Moutinho a dar o lugar a Steven Defour para a recta final da partida.
Hulk
Viciado na adrenalina, no afrontamento. Capaz de romper linhas robustas, à direita e à esquerda, para depois cruzar em busca da finalização ansiada. Primeira parte francamente boa, segunda mais irregular. Foi, largos minutos, o único a demonstrar capacidade de incomodar a derradeira barreira dos homens do Lis. A paragem por lesão não lhe roubou fôlego nem talento. Quinta-feira, diante do Manchester City, deverá voltar a ser o ponta-de-lança (Janko não pode alinhar na Liga Europa).
James Rodríguez
30 minutos em campo a confirmar o que se sabe: o seu lugar não é o banco de suplentes. Oferece um manancial técnico à equipa que Varela, nesta altura, não está em condições de oferecer. Talento inato, genialidade certificada. Não é fácil, de facto, perceber a opção de Vitor Pereira ao deixá-lo tanto tempo de fora.
Jan Oblak
Noite de luxo, a revelar um menino de 19 anos capaz de vir a ser um tremendo guarda-redes. Voo extraordinário aos 15 minutos, a desviar um pontapé de Moutinho; saída temerária aos pés de Janko, aos 39, a roubar um golo fácil ao austríaco; intervenção por instinto, aos 72, a colocar o pé entre a baliza e a bola disparada de Alvaro Pereira. Três momentos grandes na actuação do atleta cedido pelo Benfica.
Maximilian Haas
Central rude, pouco dado a artifícios desnecessários, toques de embelezamento e afins. Regra lapidar: bola na área do Leiria é bola para despachar. Jogo certíssimo a comandar um quinteto (tantas vezes sexteto) defensivo bastante acertado. Passou várias épocas na equipa B do Bayern Munique e tem todo o ar de vir a ser dono e senhor do lugar.
RELACIONADOS
James: «Só penso em jogar, o treinador decide»
Cajuda (sem perguntas): «Leiria vive grande, grande dificuldade»
Vítor Pereira: «Nunca vi ninguém como o Hulk»
Vítor Pereira: «O primeiro golo desbloqueou o jogo»
Ivo Pinto: «Onze contra onze já era difícil...»
Vítor Pereira diz que o jogo pedia James, Cajuda «morre de pé»
Janko: «Podemos fazer melhor do que até aqui»
FC Porto-U. Leiria, 4-0 (resultado final)