A 30 de Novembro de 2000, o Famalicão tombava nos quartos-de-final da Taça frente ao Sporting (1-3). Daniel Simões estava na bancada, como anónimo adepto dos locais. 11 anos depois, surgirá no relvado para se vingar do leão.

Daniel, também conhecido por China, aplaude o destino.



«É curioso, lembro-me de tudo sobre esse jogo. O Famalicão marcou e o jogo esteve em aberto até ao minuto 75. O Sporting teve muitas dificuldades. Marcou dois golos já na recta final e seguiu em frente», recorda o jogador, em conversa com o Maisfutebol.



China, sólido defesa do Famalicão, agradece a oportunidade para mudar a história. «Esse jogo serve de inspiração mas também de exemplo para fazermos ainda melhor. Sou de Famalicão, fiz a minha formação neste clube e esta é uma grande oportunidade para fazermos história.»



Tem 27 anos. Na anterior visita do Sporting, era um adolescente. Um mero adepto. Estava na bancada, a torcer por fora. Agora estará lá dentro.

«Esperamos muito apoio. O Famalicão tem uma massa adepta muito especial, com muita energia. Serão muitos mais que os adeptos do Sporting».



Economista patrocinado pelo futebol



China nunca parou de jogar futebol mas encara o futuro com a Economia como retaguarda. Aliás, a formação profissional permite-lhe ter um projecto de vida para lá da carreira como jogador. Se tivesse de escolher, nem hesitaria: pendurava as chuteiras.



«O dinheiro que se ganha nestas divisões (II Divisão, Zona Norte) não chega para ser profissional. Tenho de pensar no futuro. Se tivesse de escolher, escolhia o meu emprego, sem dúvida. Como costumo dizer, a minha esperança de vida como jogador está a diminuir a cada dia que passa», brinca.



Tirou o curso de Economia com o patrocínio do futebol. Hoje em dia, trabalha na Santa Casa da Misericórdia de Famalicão

«O futebol ajudou-me a financiar os meus estudos. Felizmente, faço duas coisas que gosto. Trato de questões de gestão e da mesa administrativa na Santa Clara. Ao final da tarde e aos fins-de-semana, jogo futebol.»



Doze horas para satisfazer dois prazeres



China nos relvados, Daniel Simões na vida comum. Uma roda vida. Conciliar as duas profissões dá trabalho, rouba horas de sono, os momentos de lazer e o contacto com a família.

«É cansativo, mesmo sentindo-me um privilegiado. Costumo sair de casa às 8h45 e voltar às 20h45, entre o emprego e o Famalicão.»



«Por vezes, há jogos-treino a meio da tarde e tenho de perder parte do dia na Santa Casa. Por isso, sinto obrigação de compensar as horas. Chego um pouco mais cedo, corto a hora do almoço ao mínimo, etc. Tem de ser, porque o meu futuro passa pelo meu emprego», explica o defesa.



Esta semana não é excepção. Aliás, China corria o risco de trabalhar sábado de manhã e enfrentar o Sporting ao início da noite. À partida, isso não vai acontecer.

«Estou a trabalhar até mais tarde para adiantar serviço e ver se não tenho de cá vir no sábado. Ao menos nesse dia, quero concentrar-me apenas no jogo.»



Uns acreditam, outros facilitam



Não há receitas milagrosas ou incentivos extraordinários para defrontar o Sporting. Se há prémio do clube ou de privados, China não sabe. A motivação basta.

«O Famalicão tem história e é sempre bom ter este tipo de jogos nesta terra. Devia haver mais visibilidade para este escalão, porque há jogadores de grande qualidade por aqui.»



«A Taça de Portugal faz sentido assim, com os mais pequenos a receber os grandes. Daqui é que saem as grandes histórias, os jogadores que brilham e dão o salto. O Sporting está muito forte mas temos de aproveitar o factor motivacional. Temos de nos transcender e pode ser que o Sporting encare este jogo com maior facilitismo. É possível», remata o defesa do Famalicão.