Cazaquistão. A última fronteira para o futebol lusitano. Até surgir por lá Fausto Lourenço, o pioneiro. O antigo jogador da formação do F.C. Porto e da Académica é o primeiro português a jogar na I divisão da ex-república soviética, no FK Atyrau. Depois de passagens pela Bulgária, Chipre e Suíça, o desafio agora é maior, mas também mais aliciante.

«É sempre especial. Como todas as experiências, esta é mais uma, enriquecedora. Por ser o primeiro, é um motivo de orgulho. Espero que corra bem e possa, quem sabe, abrir a porta a muitos mais», conta o extremo ao Maisfutebol, antes de falar mais em profundidade dessa nação misteriosa:

«Em termos de língua é complicado, porque tanto o russo como o cazaque não são nada fáceis de aprender. O povo é fechado, parece triste, mas, se calhar, estou enganado. É um país de extremos. Quem é rico, vive mesmo bem, quem não tem... mas há cidades fantásticas, modernas, como a capital, Almaty, e outras.»

O Cazaquistão tem a particularidade de ser um país transcontinental, situado entre a Europa e a Ásia. Atyrau, onde vive Fausto Lourenço, fica no extremo ocidental do território e a fronteira fica aí mesmo. «A parte europeia está muito mais desenvolvida. Nota-se bastante em termos de construções, das ruas...»

Não se paga para ir à bola...

Já o futebol, constata, é universal. «Os métodos são semelhantes e qualidade há em todo o lado. Talvez se jogue de forma mais dura e agressiva, num estilo direto, com menos técnica, mas nada de mais. Para mim, que sou rápido e jogo na frente, até me favorece», conclui, depois de ter disputado dois jogos com a nova equipa.

Apesar de ter apanhado a época em andamento no Cazaquistão e estar, por isso, a cumprir um programa especial para não sentir tanto os impactos da férias interrompidas abruptamente, o avançado de 25 anos está a corresponder bem e agradavelmente surpreendido com as condições que encontrou:

«O estádio tem capacidade para cerca de nove mil pessoas e costuma preencher mais de metade da lotação. Não se paga bilhete para assistir aos jogos. Penso que tem a ver com o investimento que as câmaras locais fazem nos principais clubes, talvez até como forma de divulgar as respetivas regiões.»

Quando chegou a Atyrau, o treinador era Filipovic, o que facilitou bastante na adaptação. Entretanto, o antigo jogador do Benfica foi substituído por um técnico local e também havia dois brasileiros que saíram, mas Fausto Lourenço já está habituadíssimo a novas experiências.

«Fui internacional por 35 vezes, dos sub-16 aos sub-19. Joguei com alguns atletas bem conhecidos, como o Rui Patrício, Hélder Barbosa ou Bruno Gama», relembra, ele que tem sempre a «companhia» de Cristiano Ronaldo, Nani ou Mourinho¿ quando diz que é português.

... e o gasóleo custa 50 cêntimos

O nível de vida por terras cazaques é bem diferente, mas a abundância de certas matérias-primas contribuem para uma economia mais desafogada. «Não é um país que atravesse dificuldades graças às reservas de petróleo e de urânio. Não se fala de ordenados em atraso por aqui, mas, se for preciso, podem pagar-me em gasóleo», ri-se, atirando com o preço do litro nas bombas: 50 cêntimos!

A diáspora lusitana, que agora toca cada vez mais o universo do futebol, tem gerado estes autênticos saltimbancos. A última época, no Leixões, não permitiu a Fausto Lourenço assentar de novo em Portugal, já depois dos anos passados ao serviço de Lokomotiv Mezdra, Onisilos e Neuchatel Xamax.

«É evidente que preferia estar em Portugal, perto da minha família e amigos, mas devido ao momento do nosso futebol, e do país em geral, resolvi sair. Deixa-me alguma mágoa, mas espero que isto tudo passe rápidamente.»

«O jogador português está um pouco na moda. Temos muita qualidade, boa formação, e fazemos sempre boas campanhas nos Europeus e Mundiais. Daí a facilidade em entrarmos nos mais variados campeonatos, mas nunca na vida pensei jogar no Cazaquistão», confessa, a terminar.