Joeano diz que tem dois momentos altos na já longa carreira. O «bis» que permitiu à Académica chegar ao empate (2-2) com o Marítimo, na época 2005/06, e assim conseguir a manutenção na última jornada, e esta subida de divisão com o Arouca.

«Ainda hoje me pergunto se é verdade. Como foi possível numa vila tão pequena? A beleza do futebol é isto. É de todos, grandes e pequenos», constata em conversa com o Maisfutebol o máximo goleador da II Liga, com 24 golos (27 no total), aos 33 anos.

«Como faço? Carro novo só dura se o conservares bem. Eu não bebo, não fumo, tomo cuidado com a minha alimentação ou o descanso. Claro que, de vez em quando, jogo as minhas partidas de sueca, às vezes até tarde», graceja.

Apesar de ser o mais velho do plantel, o brasileiro sente-se como um jovem. «O mister lembrou-se, a certa altura, de fazer uma mini-pré-época, com um percurso bastante exigente. Havia miúdos de 20 anos a vomitar, enquanto eu estive sempre na frente do pelotão», conta.

Até quando? A resposta veio em jeito de pergunta: «Qual é o número da minha camisola? Pois é, 40. Espero ter sorte com as lesões, mas acredito sinceramente que ainda vou jogar muito tempo.» Quem tanto marca, não pode pensar em parar tão cedo. «Foram 46 golos em duas épocas», enumera.

«Tenho muita confiança em mim. Eu amadureci muito tarde para o futebol. Se já a tivesse há cinco anos, teria feito coisas muito boas», assegura, recordando ainda o interesse do Sporting justamente no final daquela época em que «ofereceu» a manutenção à Briosa.

Ao Arouca, presenteou-o com muitos dos golos que valeram a subida, tornando-se no ídolo-maior dos adeptos. Em jeito de brincadeira, já lhe prometeram uma estátua. O assunto fá-lo desatar a rir, mas também revela o quão se mantém humilde.

«Não sou merecedor disto. Se quiserem fazer, façam do presidente, ele sim é quem deve ser distinguido. Ou então o plantel todo. De mim, que façam uma de papelão, assim o vento pode levá-la, e é mais fácil de destruir quando se chatearem comigo», atira, sem conter as gargalhadas.

Quando Jorge Mendes lhe lavou o cérebro

Uma das grandes virtudes de Joeano sempre foi conhecer-se bem e saber os seus limites. «Todos temos talento. Temos é de saber aperfeiçoar o que temos de bom e driblar as dificuldades. Nunca fui evoluído tecnicamente, alto, ou bom de cabeça, mas a intimidade com a baliza. Para quem vive do golo, é algo inexplicável», revela.

Ao fim de 15 anos em Portugal, das raízes familiares criadas em Coimbra, e de uma carreira feita desses momentos mágicos que temperam o futebol, Joeano consegue olhar para trás com total desassombro.

Lembra como Jorge Mendes o procurou, ainda militava nos escalões secundários, e de como o convenceu, por exemplo, a deixar de lado a ideia de ir para o Celta de Vigo de Mostovoi e companhia, e, em vez disso, rumar ao Salamanca. «Fez-me tal lavagem cerebral que, passado umas horas, eu já dizia: pronto, vamos lá, quando é que eu assino?», recorda.

«Ele é o homem. Capaz de surpreender a cada instante. Quando pensei que ia ganhar uma coisa no Salamanca, afinal, ao assinar, vi que era quatro vezes mais», desfia, sem esquecer, todavia, aquele que fez a ponte entre ambos. «O Silva, de Castelo de Paiva, uma pessoa por quem tenho um carinho especial.»

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