DESTINO: 80's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

PINGO:
SP. ESPINHO, 1987-89, 91-93; FC PORTO, 1989/90; SP. BRAGA, 1990/91

As oficinas das Antas vivem uma agitação anormal no verão de 1989. A perda do título para o Benfica impõe uma revolução no balneário. Desportiva e espiritual. Artur Jorge é o comandante supremo de uma limpeza que atira o intocável Fernando Gomes para o Sporting.

Entre as 11 caras novas, duas provocam especial entusiasmo: Stéphane Demol, conceituado defesa central belga, e Pingo, 29 anos de talento e intimidade com a bola.

PINGO: saudades e pedidos de ajuda de um campeão do FC Porto


No Sp. Espinho, em três épocas, Pingo fizera 94 jogos e 28 golos. No FC Porto as expetativas não são confirmadas. Quatro presenças no campeonato nacional, mais uma na Taça de Portugal e a saída antecipada para Braga, dois anos antes do final do contrato.

«Foi estranho ter jogado poucas vezes. Fiz um bom jogo contra o Marítimo e outro frente ao Sp. Braga», diz ao Maisfutebol, antes de o desafiarmos a desfiar as razões do insucesso nos dragões.

Golaço de Pingo ao Benfica (1m20s)



«Posso contar tudo? Bem, antes de mais, é importante dizer que infelizmente tive de mentir aos meus amigos no Espinho. Assinei pelo FC Porto ainda a meio da época, mas tive de jurar silêncio. Ou seja, o Espinho queria renovar e eu estava proibido de dizer a verdade».

Por esses dias, Pingo é pretendido pelos três grandes de Portugal. Quinito e Carlos Garcia potenciam um maravilhoso pé direito, de origem carioca, e todos anseiam tê-lo.

«À noite, no Domingo Desportivo, lá estava eu. Nos resumos eu aparecia sempre. O melhor golo foi contra o Benfica, de livre direto. Empatámos 2-2 e na baliza estava o Silvino. O Benfica era fortíssimo: tinha Valdo, Chalana, Mozer…»


No FC Porto a pré-época é prometedora. Pingo entra várias vezes nas opções de Artur Jorge, até desaparecer por completo a meio da temporada.

«O treinador Artur Jorge explicou-me que eu só queria atacar e atacar, não podia ser assim. Tentei corrigir isso, mas ele passou a colocar-me só nos jogos em casa»
, lamenta, sempre sem mágoa e com palavras conciliatórias.

«Ele é que mandava. Como era a nossa relação? Bem, eu era tímido e ele muito distante. Não é difícil imaginar, não é? Era bom dia no início e boa tarde no fim. Pouco mais do que isso. A comunicação era toda feita pelo Otávio Machado».

Jogada de Pingo contra o FC Porto (1m50s)



Ao falar de Quinito, Pingo recupera toda a alegria num fôlego. «Era o meu paizão. Foi ele que me colocou uma alcunha em cima da minha alcunha. Passei de Pingo a Pingolé (risos). Nunca esquecerei as preleções dele no balneário do Sp. Espinho».

Quinito, ele próprio uma grande personagem, nutre uma especial afeição por Pingo. «O mau paizão português exigia que a bola me fosse passada. Passem ao Pingolé, o Pingolé decide (risos). Assim até ficava fácil jogar bem», recorda o antigo médio brasileiro.

Pingo tem 54 anos e vive no Brasil. Trabalha com jovens futebolistas, sempre na esperança de receber um bom convite para trabalhar em Portugal. Continua a ver e a adorar futebol, principalmente agora que há Campeonato do Mundo.

Na seleção do Brasil, diz-nos, encontra um sósia: «eu acho que o Paulinho [jogador do Tottenham] tem muitas semelhanças comigo a jogar. Mas eu era um pouquinho melhor, nasci com um dom [risos]».

Números de Pingo em Portugal:

. 1986/87: Sp. Espinho, 29 jogos/10 golos (II Liga)
. 1987/88: Sp. Espinho, 33 jogos/10 golos
. 1988/89: Sp. Espinho, 32 jogos/8 golos
. 1989/90: FC Porto, 4 jogos/0 golos
. 1990/91: Sp. Braga, 27 jogos/6 golos
. 1991/92: Desp. Aves, 31 jogos/3 golos (II Liga)
. 1992/93: Sp. Espinho, 15 jogos/1 golo