Ubaldo Fillol. 69 anos, campeão do mundo em 1978. 58 jogos pela seleção da Argentina.

Nery Pumpido. 62 anos, campeão do mundo em 1986. 38 jogos pela seleção da Argentina.

Sergio Goycochea. 55 anos, vice-campeão do mundo em 1990. 44 jogos pela seleção da Argentina.

O painel de jurados é de excelência e delibera sobre Agustín Marchesín, o novo guarda-redes do FC Porto.

Do alto de um palmarés autoritário, três dos melhores arqueros de sempre do futebol argentino analisam, em exclusivo ao Maisfutebol, as qualidades e os defeitos de Marche.

A poucas horas do primeiro jogo oficial do FC Porto, e da possível estreia absoluta do seu compatriota, Fillol, Pumpido e Goycochea expressam a sentença à boa maneira sul-americana: sem meias palavras.

Todos consideram Marchesín um atleta de grande nível, com capacidade para jogar num dos grandes da Europa como é o FC Porto, e todos elogiam o gosto por comunicar e liderar a equipa a partir da baliza.

A partir daqui, as opiniões variam. Curiosamente, Fillol diz que Marchesín é muito parecido com Pumpido, Pumpido hesita e afirma que vê mais semelhanças com Goycochea, ao passo que Goycochea agradece e concorda com a comparação.

Acima deles, nas balizas da Argentina, há poucos ou nenhuns.

Ubaldo Fillol, Nery Pumpido e Sergio Goycochea em discurso direto. O alvo das palavras é Agustín Marchesín.

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. PERFIL EMOCIONAL

Ubaldo Fillol:

«Conheço o Agustín perfeitamente. Eu era selecionador da Argentina de Sub17 e convoquei-o para os nossos trabalhos em 2005. Ele jogava numa equipa pequenina [Huracán de Tres Arroyos] e lembro-me que os meus auxiliares criticaram a minha opção. Mas não tive dúvidas. Vi aquele rapaz de 17 anos na baliza e pareceu-me um perro de guardia [cão de guarda]. Não se calava um minuto, falava aos berros com os colegas, era mandão. Além de ter uma personalidade rara, muito vincada, é um chico que adora treinar e vive o futebol com muita emoção. É um líder, um pouco louco e cheio de coragem. Pressão de suceder ao Iker Casillas? É mais um desafio e o Marchesín adora desafios. Não o imagino a ceder à pressão.»

Nery Pumpido:

«Não tive o privilégio de trabalhar com ele, mas acompanhei muito de perto a passagem do Marchesín pelo Lanús. Eu também joguei lá e gosto do clube, é um clube de grande exigência. Pareceu-me sempre um tipo que dá a cara nos momentos maus, não se importa de aparecer e falar sobre o que correu mal. Tem uma personalidade vincada, percebe-se facilmente isso. E há outro aspeto curioso sobre ele: expressa-se sem dificuldades, tem um discurso muito rico em relação ao que consideramos o nível médio dos futebolistas.»

Sergio Goycochea:

«Parece-me um guarda-redes muito competitivo, que detesta perder. Sou comentador na Fox Sports e disse precisamente isso, antes da Copa América. Senti que o guarda-redes em melhor forma era o Esteban Andrada, mas via também o Marchesín como uma excelente aposta. Aliás, o Andrada foi suplente do Marchesín no Lanús e isso prova a qualidade do guarda-redes que o FC Porto contratou.»

. AVALIAÇÃO TÉCNICA

Ubaldo Fillol:


«Além de viver intensamente o jogo, o Marchesín é um guarda-redes corajoso. Não tem medo de sair da baliza aos cruzamentos ou de ir de cabeça aos pés de um avançado. É um rapaz com nível de seleção argentina e isso não é para qualquer um. Adorei vê-lo no Lanús, mas acho que cresceu ainda mais nestes dois anos no México. Tem condições supremas para a baliza. Ensinei-lhe muitas coisas na seleção de Sub17, mas o grande mérito é dele porque é obcecado com a arte de ser guarda-redes. Se é parecido com alguém? Olho para ele e vejo muito do meu amigo Pumpido.»

Nery Pumpido:

«O ‘Pato’ Fillol diz que o Marchesín é parecido comigo? Em algumas coisas, sim, concordo. Tal como eu, o Marchesín é um guarda-redes mais posicional, não tão espetacular como outros, mas até vejo mais semelhanças dele com o Goycochea. Prefere estar bem colocado, ter os pés bem assentes no relvado e reagir com segurança. Possui condições físicas notáveis e acerta quase sempre bem no tempo de saída aos cruzamentos. Gosto muito de vê-lo a jogar com os pés. Sabe o que faz com a bola. Se calhar, às vezes até arrisca demasiado.»

Sergio Goycochea:

«O que mais me impressiona no Marchesín é a forma como coloca a bola à distância, com o pé direito. Se a bola cai nas costas da defesa adversária, cria sempre problemas. É um tipo positivo, que leva bom ambiente ao plantel também. É muito forte entre os postes, é um excelentíssimo guarda-redes, claramente acima da média. Sim, há algo de Goycochea nele, até porque também já o vi a parar muitos penáltis.»

. SELEÇÃO DA ARGENTINA

Ubaldo Fillol:


«O Franco Armani [River] e o Esteban Andrada [Boca] têm aparecido num nível altíssimo, mas diria que o Agustín Marchesín aparece logo a seguir. Para se ser titular na baliza da Argentina, como eu fui durante oito anos seguidos, é preciso mostrar qualidade em todos os jogos. Ele foi muito seguido pelo staff da seleção nos dois anos em que jogou no Club América e vai continuar a ser assim no FC Porto. Se for titular em Portugal, como acredito, pode perfeitamente continuar a estar entre os guarda-redes convocados para a seleção. Mundial de 2022? Ainda faltam três anos, pode acontecer tanta coisa.»

Nery Pumpido:

«Não tem havido continuidade. Houve o ciclo do Fillol, houve o meu ciclo e, mais recentemente, o ciclo do Romero. Os selecionadores têm mudado muito. Para mim, o Agustín Marchesín está no top-5 de guarda-redes argentinos: Armani [River], Andrada [Boca], Rulli [Real Sociedad], Guzmán [Tigres] e Marchesín. Depois, claro, depende muito dos momentos de forma, da grandeza dos clubes, dos gostos dos selecionadores. O FC Porto é um clube importante na Europa e isso pode beneficiar o Marchesín, apesar de o Club América ser um emblema gigante também.»

Sergio Goycochea:

«Nesta altura creio que o Franco Armani e o Esteban Andrada estão mais perto da titularidade. O Andrada estava num grande momento de forma, antes de se lesionar e perder a Copa América. Mas as coisas mudam e mudam rapidamente. Vejam bem o meu exemplo. Em 1990 fui para o Mundial com o estatuto de terceiro guarda-redes, atrás do Nery Pumpido e do Luis Islas. O Islas chateou-se com o selecionador e abdicou de ir ao Mundial, o Pumpido lesionou-se no segundo jogo e, de repente, lá estava eu. O Marchesín tem de acreditar que a vez dele vai chegar. Só tem quatro internacionalizações, mas valor para muito mais.»