Destinos trocados. Nem sempre as equipas portuguesas têm motivos para chorar. Por vezes são os outros a temer-nos, a tremer quando ouvem nomes como F.C. Porto. Assim acontece com Lou Macari, velha glória do Manchester United, que já provou o sabor amargo da derrota imposta pelos dragões, precisamente em 77, quando era um dos jogadores mais influentes no ataque dos «red devils». Para além disso, o simpático senhor é escocês e adepto do Celtic. Ou seja, Porto é sinónimo de desgosto e desilusão.

Embora não tenha jogado naquela segunda mão em Old Trafford no final dos anos loucos de 70, esteve presente na humilhação sentida nas Antas, onde perdeu por 4-0. «É claro que me lembro bem do primeiro jogo, porque foi especial e o Porto, aliás como o faz sempre em casa, foi uma equipa muito boa. Acho que tem sido sempre assim no futebol europeu, é muito difícil de bater, como o Manchester United percebeu há duas semanas», salientou em conversa com o Maisfutebol.

«Lembro-me que, quando estamos com quatro golos de atraso, pensamos que está tudo perdido, mas quase conseguimos provar que, apesar dessa enorme diferença, é possível tentar dar a volta à eliminatória. É por isso que esta terça-feira, com apenas um golo de desvantagem, o Manchester pode recuperar», abordou, fazendo sempre o paralelismo entre o passado e o presente. O discurso articulado surge pela experiência recente de comentador de televisão, mais propriamente na Manchester United TV e na Sky.

Lou Macari começou a sua carreira no Celtic Glasgow, onde jogou seis anos, e assinou pelo Manchester United em 1973. Aí jogou até 84, tendo cumprido 387 partidas e marcado 97 golos. Terminada a carreira como jogador, assumiu um novo trajecto como treinador, tendo passado pelo Swindon Town, Celtic e Huddersfield Town. Este ano fez uma pausa e tornou-se comentador, marcando presença em todos os jogos dos «red devils».

Observando o que sucedeu na primeira mão, considera que «o Porto mereceu ganhar, porque foi a melhor equipa, e já foi muito bom o Manchester ter conseguido marcar um golo fora, pois dá-lhe uma esperança para resolver o jogo em Old Trafford». Vai ser, de qualquer forma, uma noite muito complicada para os da casa: «No sábado ganharam, mas não foi fantástico. Depois do jogo, no programa, recebemos chamadas dos adeptos e a maior parte deles considerou que a equipa não jogou bem e que, se continuar assim, não teria hipótese de bater o Porto. Foi esta a opinião de quase toda a gente, mas eu lembrei que no passado, mesmo que não tenham jogado bem, numa noite europeia a equipa conseguiu sempre ter uma boa exibição e alcançou o resultado necessário».

Atmosfera especial

Na perspectiva do ex-jogador, de facto, nem tudo tem corrido bem ao United e o problema parece estar mesmo na defesa. «O mês de Fevereiro foi mau para eles e acho que não conseguiram fazer um único jogo sem sofrer golos. Todas as equipas conseguiram marcar. A defesa não está muito bem, devido a várias lesões e alterações na equipa, o que a torna mais fraca, mas penso que quando chega um grande jogo, como o desta terça-feira à noite, os dois ou três jogos anteriores não costumam dar grandes indicações sobre o que a equipa poderá fazer», apontou, desejando que o seu prognóstico seja feliz: «Numa noite europeia, o Old Trafford é capaz de ganhar, frente a qualquer um».

Macari acredita, então, nesse monstro que já se tornou mítico. O «Teatro dos Sonhos» deverá fazer a diferença. «No futebol europeu, num jogo a meio da semana, vejamos o caso do jogo com o Real Madrid no ano passado [ndr.: após derrota por 3-1 no Santiago Bernabéu, vitória em casa por 4-3 e eliminação nos quartos-de-final da Liga dos Campeões]. A defesa esteve mal, mas a equipa esteve fantástica. Acho que agora o Porto também vai ver um Manchester United muito diferente», realçou.

Este é o desejo lançado por uma muito simpática figura do futebol, que vê o Porto como um adversário temível, nem que seja pelo sofrimento que lhe causou no final da temporada passada, quando ultrapassou o «seu» Celtic na final da Taça UEFA: «Em Sevilha fiquei desapontado, por isso o Porto não é equipa que me agrade muito neste momento», gracejou.