«O André é um jogador inteligente a procurar espaços. Não é muito rápido. É um excelente segundo avançado, faz mais o movimento de aproximação ao meio campo, para depois lançar nas diagonais. Foi até o que aconteceu no último golo do FC Porto na Taça. É isso que ele pode dar no FC Porto, uma mais-valia na criação de espaços na frente».

Momento decisivo da última sexta-feira. E raio-X feito, em detalhe, à mais recente aposta na equipa principal do FC Porto. Fala Rogério Torres, seu treinador nos iniciados dos Leixões.

André Pereira, avançado, 22 anos. Alguém «positivo, alegre, com sonhos no futebol». Fez a estreia nos dragões na última sexta-feira, ante o Portimonense: 21 minutos e uma assistência para o golo decisivo de Brahimi. Um piscar de olho aos grandes palcos.

O Maisfutebol pega na mais recente aposta de Conceição e vai à procura das raízes do jovem de Matosinhos, que voou por outros postos até aterrar na área contrária. De médio a extremo, a história. O volte-face de alguém que foi dispensado dos dragões em 2009.

Concelho da Maia, Inter de Milheirós. Aos sete anos, ali nascia André, a médio centro, para o mundo da bola. Três épocas e meia até ao FC Porto, em 2005, após o emblema maiato ter sido campeão distrital nas escolinhas.

André nasceu para o futebol na Maia, no Inter de Milheirós (Foto cedida por Vital Cunha)

«A qualidade do André acabou por sobressair e surgiu o interesse do FC Porto. Mais dois atletas do Inter também interessaram na altura. Após alguns treinos, o André foi o único que quis continuar. O interesse [do FC Porto] foi comunicado por fax ao Inter de Milheirós», recorda Vasco Sousa, capitão e fiel companheiro no clube de Milheirós. 

«Talvez não fosse dos mais dotados»

Em 2005, juntava-se o interesse do FC Porto à vontade do jogador. E uma primeira paragem no atual clube, interrompida em 2009. «Cruzámo-nos no primeiro ano de iniciados. Acabou por ser dispensado, talvez não fosse dos mais dotados e outros demonstravam mais capacidades, mas é um exemplo de que o trabalho e a força de vontade podem levar a cumprir objetivos», lembra Zé Fernandes, guardião que se cruzou com André em 2008/09, a última época na formação do FC Porto de um avançado que, aí, ainda não jogava como tal.

«Veio para o Leixões, para o segundo ano de iniciado, num grupo de jogadores dispensado pelo FC Porto», prossegue Rogério, recordando um jogador com «dificuldades» de adaptação no emblema do Mar, apesar da «qualidade técnica acima da média», do «pé esquerdo fabuloso» e da «grande visão» de jogo.

André Pereira na equipa de iniciados do Leixões, em 2009/10 (Foto cedida por Rogério Torres)

«A sua intensidade não era elevada na altura, provavelmente foi o que levou a ser dispensado do FC Porto. Quando chega ao Leixões, vem referenciado como médio. Sentiu dificuldades porque jogava nessa posição», detalha Rogério, que nele viu aposta metros mais à frente.

«A meio da época, foi adaptado a avançado e as coisas começaram a acontecer. Nós jogávamos em 4x3x3 e tínhamos um avançado muito rápido, só que não era o típico ponta de lança», continua o ex-técnico dos iniciados do Leixões. Por isso, e aproveitando o trabalho no «espaço entre a linha média e a avançada» feito por André, Rogério adaptou o 4x4x2 e lançou-o às defesas contrárias.

O pijama por baixo do fato de treino e a alcunha «cheese»

Um miúdo «introvertido». Nada de exageros. E um «excelente amigo», classifica Vasco. «Éramos como irmãos. Depois de jogarmos ao sábado de manhã, praticamente todos os fins de semana, ele vinha para minha casa, ou eu ia para a dele», recua o antigo companheiro em Milheirós, a meias com um caricato episódio.

«No ano em que fomos campeões de série, num dos jogos de apuramento de campeão, ele estava super ansioso. Tanto que ele quis ir para o jogo com o pijama por baixo do fato de treino. Porquê? Não sei», atira.

Apesar de não ter privado muito com André, Zé Fernandes recorda a alcunha pela qual tratavam o colega: «cheese» [queijo, em português]. «Ainda hoje não sei porquê», responde. «Não sei de onde veio, não o tratavam por André», completa Rogério, que não vê surpresa no atual momento de carreira do avançado.

André Pereira estreou-se na sexta-feira pela equipa principal do FC Porto 

De Milheirós, uma voz de orgulho pelo percurso do companheiro, com quem ainda mantém amizade. «Para felicidade minha e de muita gente associada ao clube, estreou-se pela equipa A do FC Porto. E ainda espero defrontá-lo um dia», perspetiva Vasco, hoje nos bês do Leixões.

Rogério Torres destaca um rapaz «humilde», que nunca desistiu de um lugar no Leixões após a dispensa do FC Porto. «Tem uma personalidade positiva, acho que o vai ajudar no futuro». Depois do Leixões, juniores e bês do Varzim e Sp. Espinho, os oito golos em 18 jogos pela Sanjoanense despertaram um velho namoro para a equipa B.

Hoje, uma certeza após pisar o palco do Dragão. «Acreditar no potencial e ir à luta. Vai ter de trabalhar imenso para agarrar a oportunidade». Palavra de ex-treinador.

Recorde o golo da vitória do FC Porto, com assistência de André Pereira na estreia:

artigo atualizado: hora original 23h59 19.11.2017