O que une Sérgio Conceição e Simone Inzaghi, que se defrontam esta quarta-feira nos bancos de FC Porto e Inter, é uma equipa e um «scudetto». Lazio, 1999/2000. Uma equipa que reuniu um conjunto incrível de talento em campo. E que daria ao futebol mundial uma quantidade ainda mais incrível de treinadores.

No total são 14 os jogadores daquele plantel que seguiram o percurso de treinador. Alguns deles atingiram o topo, como Roberto Mancini ou Diego Simeone. Mas há muitos mais. Como Sinisa Mihaljovic, o técnico que nos deixou em dezembro, depois de um longo combate contra uma leucemia. Alguns dos elementos daquela equipa viriam também a trabalhar juntos. Mancini e Mihajlovic chamaram para junto de si vários antigos companheiros. Veja aqui ou na galeria associada ao artigo todos os jogadores da Lazio de 1999/00 que se tornaram treinadores.

E outros não optaram pelos bancos, mas assumiram papéis de liderança no futebol. Juan Sebástian Verón foi durante muitos anos presidente do Estudiantes, onde ocupa agora o cargo de vice-presidente. Pavel Nedved assumiu vários cargos na direção da Juventus e o chileno Marcelo Salas voltou a casa, para liderar o Deportivo de Temuco, o clube da cidade onde nasceu.

Quando passaram 20 anos sobre a conquista daquele «scudetto», Sérgio Conceição evocou o momento, recordando as 18h04 daquele 14 de maio de 2000. Era a última jornada e, depois da vitória por 3-0 sobre a Reggina, com golos de Simone Inzaghi, Juan Sebástian Véron e Simeone, o Olímpico ficou em suspenso à espera do resultado da Juventus em Perugia. Um golo de Calori ditou a derrota da Vecchia Signora e abriu caminho à festa daquele que foi apenas o segundo campeonato da Lazio, o último até hoje. A Juventus ficou a um ponto de distância no final de um campeonato louco, em que chegou a ter nove pontos de vantagem a oito jornadas do fim.

Quatro dias depois da conquista do «Scudetto», a Lazio fez a dobradinha, conquistando também a Taça de Itália, frente ao Inter.

Muitos daqueles jogadores já tinham festejado na época anterior a conquista da Taça das Taças. Entre eles Fernando Couto e Sérgio Conceição, que tinha chegado no verão de 1998. E que aliás marcou logo um mês mais tarde o golo da vitória na Supertaça de Itália, no início de uma história de amor com o clube que o tempo não apaga.

«Uma equipa de treinadores em campo»

Naquele tempo Itália tinha o melhor campeonato da Europa, aquele com maior capacidade de atrair os grandes jogadores e alicerçado numa riqueza tática cultivada pelos melhores treinadores. No banco da Lazio estava Sven-Goran Eriksson, o treinador sueco que tinha marcado o futebol português anos antes, nas duas passagens pelo Benfica. Em campo uma equipa de estrelas, com personalidades fortes. Eriksson diz que aquela conquista deveu muito àquela combinação rara de talento e caráter.

«Os meus jogadores eram todos vencedores. Queriam vencer, odiavam perder», afirmou o treinador em 2020 à revista Undici. «De vez em quando podia haver algum desentendimento, mas de modo geral respeitavam-se. Sabiam que se fizessem bem o seu trabalho seríamos uma grande equipa. Sentiam que podíamos vencer tudo.»

Para quem viveu naquele balneário, não surpreende que muitos dos campeões italianos de 2000, além do percurso de elite como jogadores, estejam a fazer carreira como treinadores ao mais alto nível. O defesa Paolo Negro, um dos mais utilizados naquela época e também ele com um percurso no banco, ainda que discreto, resumiu assim este fenómeno, numa entrevista ao Guérin Sportivo: «Aquela era uma equipa de treinadores em campo, todos jogadores de uma inteligência fora do comum.»

Reencontro em 2003/04 com... Mancini no banco

A Lazio construiu naqueles anos uma equipa de sonho. Continuou a investir, mas não repetiu o sucesso daquela temporada. Sérgio Conceição saiu logo no final da época, rumo ao Parma, envolvido na transferência de Hernán Crespo. Depois rumou ao Inter, o adversário que reencontra agora, à espera de prosseguir o seu percurso vencedor frente a adversários italianos: como treinador do FC Porto já eliminou a Roma e a Juventus nos oitavos de final da Liga dos Campeões e na época passada relegou o Milan para o último lugar do grupo, antes de sair vencedor do reencontro com a Lazio, no play-off da Liga Europa.

Quando Conceição voltou à Lazio em 2003/04, para meia época que antecedeu o regresso ao FC Porto, Roberto Mancini já era o treinador, a orientar vários antigos companheiros daquela temporada do «scudetto», como Inzaghi, Mihajlovic, Couto ou Stankovic.

Daquela equipa ficaram ligações fortes. Sérgio Conceição recordou recentemente, por exemplo, que continua a falar regularmente com Mancini, «a voz de Eriksson em campo». Na antevisão ao Inter-FC Porto, os dois treinadores falaram sobre o «prazer» do reencontro e sobre a forma como cada um conhece bem o rival, enquanto o treinador do FC Porto recordou também o muito que havia para aprender em Itália naquele tempo. Em dezembro, todos se uniram na dor na despedida de Mihajlovic