Dominador do futebol dinamarquês na última década, o Copenhaga está de regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões após duas épocas de ausência. Regressa também a Portugal para um encontro da principal prova europeia de clubes, depois de ter defrontado o Benfica nas épocas 2006/07 e 2007/08 (aqui na terceira pré-eliminatória). Esta será a quarta participação da formação escandinava na fase de grupos da Liga milionária, sendo que o melhor resultado foi alcançado na época 2010/11, tendo sido afastados pelo Chelsea nos oitavos de final da competição.

Nascido da fusão entre dois clubes históricos da cidade de Copenhaga, o KB e o Boldklubben 1903, num 1992 de boas memórias para o futebol dinamarquês (triunfo no Europeu), o FC Copenhaga cresceu de forma imparável nas últimas duas décadas e meia, ao ponto de ter conquistado 11 títulos de campeão nacional e sete taças do país. A última temporada foi de «dobradinha» para os comandados de Stale Solbakken, técnico norueguês que passa pela terceira experiência no clube da capital dinamarquesa (depois de ter terminado a carreira de jogador no clube em 2000/01, assumiu o banco em 2006, saiu em 2011 e regressou ao clube para ficar em 2013).

As expectativas para a presente temporada estão em alta: o período preparatório foi positivo e mesmo condicionado pelo arranque madrugador de temporada com alguns jogadores a viver a «ressaca» do Europeu, o Copenhaga começou em grande, despachando a modesta formação do Crusaders da Irlanda do Norte (com um 9-0, no conjunto das duas mãos), na 2ª pré-eliminatória da Champions e averbando três triunfos consecutivos no arranque do campeonato. Na 3ª ronda preliminar, os campeões dinamarqueses afastaram os romenos do Astra (4-1 no conjunto das duas partidas) e no play-off levaram de vencida o APOEL do Chipre, com um triunfo tangencial de 2-1 no conjunto das duas mãos. Entretanto, no campeonato, a equipa somou duas vitórias e três empates (frente a SønderjyskE, Aalborg e Brøndby), encontrando-se atualmente na segunda posição, com 18 pontos, os mesmos do líder, o grande rival Brøndby.

No mercado de verão, produziram-se alguns negócios bem interessantes, nomeadamente em termos desportivos, mas também em termos financeiros. Para a baliza, contratou em definitivo ao PAOK o ágil Robin Olsen, que já havia estado emprestado ao clube na última temporada. Para o setor defensivo, foram recrutados os internacionais dinamarqueses Peter Ankersen, lateral-direito que esteve cedido ao Copenhaga pelo Red Bull Salzburgo na última época, Joris Okore, central ex-Aston Villa, e Nicolai Boilesen, lateral-esquerdo cujo contrato com o Ajax expirou.

Na zona intermediária, há a registar a chegada do internacional eslovaco Ján Greguš, proveniente dos checos do FK Jablonec e do ala dinamarquês Rasmus Falk, contratado ao Odense BK. Para o ataque, chegou Andrija Pavlović, jovem internacional sérvio, autor de 18 golos na última edição da liga sérvia, ao serviço do Cukaricki e cujo passe custou cerca de dois milhões de euros.

Do lado das saídas, produziram-se menos abandonos de unidades importantes, apesar do retorno financeiro ter sido interessante. O goleador Nicolai Jørgensen foi vendido por três milhões e meio de euros para o Feyenoord e o lateral-direito suplente Christoffer Remmer saiu para os noruegueses do Molde por 500 mil euros. Ficou ainda delineada a venda de Thomas Delaney, o capitão de equipa, para o Werder Bremen, em janeiro, por dois milhões de euros.

1-4-4-2 inegociável e no qual os laterais têm um papel fundamental

ONZE-TIPO:

Stale Solbakken, treinador do Copenhaga, mantém-se fiel ao 1-4-4-2, esquema tático que lhe tem garantido sucessos e que parece ser o mais adequado às características dos próprios jogadores.

Na baliza, estará, à partida, o guarda-redes Robin Olsen, guardião seguro entre os postes, ágil, embora desconfortável em terrenos mais difíceis e algo propenso a saídas arriscadas da baliza. O quarteto defensivo deverá ser composto por Peter Ankersen, à direita, dupla de centrais bastante física com Matthias Jorgensen, mais conhecido por Zanka, e Eric Johansson e Ludwig Augustinsson na lateral esquerda.

De destacar a propensão ofensiva de ambos os laterais. Esta é, aliás, uma das bases do jogo ofensivo, tanto em ataque organizado como em transição rápida. Tanto Ankersen como Augustinsson, projetam-se bem no ataque, emprestando largura, profundidade e uma extrema acutilância no cruzamento e último passe. As incursões de ambos pelo espaço ofensivo são uma constante, bem como as assistências: em conjunto, somam 12 (!) nas 14 partidas oficias disputadas pelo Copenhaga neste arranque de época, fora os cruzamentos que Augustinsson lança em pontapés de canto e livres laterais e que acabam por resultar em golo após um segundo toque.

Já os centrais revelam bom controlo dos espaços e da profundidade e bom jogo aéreo. Zanka peca em certas situações por excesso de confiança em tentativas de antecipação e abordagens no um-para-um, apesar de ter bom desarme. Ambos os elementos da zona central parecem, porém, vacilar perante pressão intensa dos atacantes contrários, algo que o FC Porto de Nuno Espírito Santo, exímio nos momentos de subida do bloco e pressão mais adiantada, pode aproveitar.

Já o meio-campo é constituído por uma dupla que já criou raiz naquela posição (Kvist-Delaney), acompanhado por alas que vão variando consoante o momento e as características do adversário e que procuram muitas vezes o espaço interior no momento ofensivo, de forma a deixar os corredores livres para as subidas dos laterais. Num jogo de características bem diferentes de todos aqueles que o Copenhaga teve até aqui, os dois médios-centro vão ter uma ação extremamente importante e difícil perante o meio-campo portista. Ambos revelam atributos ao nível do desarme, consistência tática e qualidade no passe, sendo que Delaney parece demonstrar, até pela idade, ter mais frescura física que o companheiro Kvist. Aliás, não é raro vermos o internacional dinamarquês de origem norte-americana fazer incursões até à segunda linha, aparecendo pronto a dar um último passe ou a aproveitar uma segunda bola.

Nas alas, há várias opções de qualidade, mas tendo em conta as escolhas nos jogos mais recentes, é de prever que Solbakken lance no «onze» Benjamin Verbic, a partir do corredor direito, e Youssef Toutouh na ala esquerda. Verbic, internacional esloveno de 23 anos, pode jogar a toda a largura da segunda linha do meio-campo. Móvel, rápido, demonstra habilidade e capacidade de remate com ambos os pés. Taticamente, tem progredido de forma considerável desde que chegou do Celje, da Eslovénia, em julho do ano passado. Quanto a Toutouh, não partiu para a época como sendo um indiscutível, mas é sempre uma alternativa a ter em conta. Pode jogar nos três corredores, embora parta habitualmente da esquerda, tentando explorar as diagonais e os envolvimentos com os companheiros das zonas interiores. Possui um bom remate desde a entrada da área, de pé direito.

Como alternativas, surgem o veloz e técnico Rasmus Falk, autor de um arranque de temporada sensacional, o internacional dinamarquês Kasper Kusk, habitualmente utilizado a partir da direita, jogador com boa técnica e capaz de aparecer em zona de finalização e ainda Danny Amankwaa, jogador com duplo passaporte (dinamarquês e ganês) e poucos minutos até aqui nesta temporada.

Para a frente de ataque, saltam à vista três opções: Andreas Cornelius (dinamarquês), Federico Santander, (paraguaio), e Andrija Pavlović (sérvio). Todos internacionais pelos respetivos países e todos donos de um físico imponente, em particular os dois primeiros, prováveis titulares para a partida do Dragão.

Com eles em campo, o Copenhaga recorre várias vezes a um jogo de passes longos, em profundidade, sendo que se revelam exímios a ganhar bolas de cabeça em lances aéreos de um-para-um. No entanto, não se pense que são jogadores de movimentos limitados. Apesar de não possuírem uma técnica notável, caem muitas vezes na faixa, para ganhar o esférico ou procurar dar largura à equipa.

Os três somam, em conjunto, neste início de época, 14 golos. Santander apenas marcou na Champions (três), na qual tem demonstrado um papel fundamental, ganhando vários lances por alto, segurando a bola perante apertada marcação e rodando para descobrir uma linha de passe ou tentar o remate e pressionando os centrais contrários. Já Cornelius e Pavlović parecem mais elegantes mas são igualmente esforçados e fisicamente possantes. O dinamarquês é um exímio cabeceador e tem um bom pé esquerdo, enquanto o sérvio deve ainda melhorar no remate de pé direito, com o qual ainda denota dificuldades em atirar à baliza contrária (é canhoto).

O normal será o Copenhaga apresentar-se no Porto num bloco médio-baixo, juntando as linhas defensiva e intermediária e procurando limitar ao máximo os espaços entrelinhas aos criativos azuis-e-brancos. O segredo para desmontar a organização defensiva dinamarquesa não é difícil de explicar: uma boa dose de paciência, uma circulação rápida entre setores, variações de flanco e sobretudo jogadas de entendimento e toque a tentar a progressão entrelinhas (como, por exemplo, fez tão bem a técnica equipa do Brøndby no dérbi do mês passado). Depois, é procurar condicionar ao máximo as subidas, certamente mais contidas e esporádicas, dos laterais, as diagonais dos alas e o jogo aéreo dos atacantes. Sim, não esquecendo a questão das bolas paradas, sobretudo em pontapés de canto: eles são bons nisso, procurando os bloqueios na pequena área e os desvios ao primeiro poste para um remate no centro da área ou ao segundo poste.

A FIGURA

Ludwig Augustinsson: Impressionante como nenhum clube de um campeonato do top-5 decidiu avançar por este internacional sueco de apenas 22 anos, consagrado em 2015 como campeão da Europa de sub-21, numa final frente a Portugal. Autor de 11 assistências na liga dinamarquesa na última temporada, já leva cinco só neste defeso, entre campeonato e Liga dos Campeões. É o responsável pela marcação dos pontapés de canto, tanto à esquerda, como à direita e bate ainda livres, sobretudo os livres laterais. Rápido e extremamente acutilante do ponto de vista ofensivo, sobe bem pelo corredor esquerdo, cruzando com grande qualidade para a área contrária. Empresta largura e profundidade à equipa no momento ofensivo e recupera bem defensivamente, jogando em antecipação (algumas vezes, até de cabeça) e mostrando ser raçudo e agressivo nos desarmes. Pode melhorar ainda na forma como fecha o espaço interior. Apenas falhou uma partida esta temporada, o que prova que é um dos fiéis da balança do treinador. Um dos laterais-esquerdos com maior margem de progressão no continente europeu, seguramente.