José Peseiro não revelou a solução para o enigma maior da visita do FC Porto a Dortmund, deixando, então, para a hora do jogo a descoberta: quem joga ao lado de Martins Indi no centro da defesa?

Ivan Marcano já está clinicamente apto, mas o técnico alimentou a dúvida: «Só irá jogar se tivermos a convicção de que pode jogar ao seu nível e que não irá agravar o problema que tem.»

Assim sendo, caso o espanhol não dê garantias suficientes, Peseiro será obrigado a improvisar no centro da defesa, para além da lateral, onde não há Maxi Pereira, castigado, tal como o médio Danilo Pereira. Seriam, assim, duas as principais mudanças sendo que uma parece óbvia: Miguel Layún passa para a lateral direita e Jose Ángel entra no onze para o flanco contrário. Indi tem também lugar assegurado e a questão final passa, então, pela possibilidade de Marcano recuperar a tempo. Diogo Verdasca é a solução mais forte caso se confirme a ausência do espanhol.

Ora, mudar duas peças na defesa num confronto europeu não é habitual, claro, mas também está longe de ser inédito na história recente do FC Porto. A confirmar-se, será a sexta vez no século XXI que os portista têm de improvisar duplamente, por obrigação, na linha defensiva.

E a principal diferença para outras ocasiões está, acima de tudo, nas alternativas. Ou na falta delas. Um problema que tem vindo a adensar-se nos últimos anos, embora este seja, de facto, o expoente máximo.

Para esta situação contribuíram vários fatores. A escassez de jogadores formados no clube ou localmente limita as vagas e obriga a tomar decisões. A somar a isso, o empréstimo de Maicon para o São Paulo, associado à falta de uma alternativa adquirida no mercado de Inverno, quando o clube emprestou Igor Lichnovsky ao Sp. Gijón (já havia emprestado Diego Reyes à Real Sociedad no verão), obrigaram a recorrer à equipa B.

Mesmo aqui, o FC Porto não pode usar as primeiras escolhas. Chidozie e Maurício formaram a dupla de centrais na maioria dos jogos da primeira volta da II Liga. Mas o nigeriano não tem anos suficientes no clube (precisa de duas temporadas completas) para ser inscrito na lista B e o brasileiro foi, até, emprestado ao Marítimo.

A solução teve de recair na habitual terceira escolha para o lugar: Diogo Verdasca, internacional sub-19.

Os números de Diogo Verdasca:

II Liga: 12 jogos a titular e 2 como suplente utilizado

Youth League: 4 jogos a titular

International Premier League Cup: 4 jogos a titular

O central português, campeão de juniores na temporada passada, até começou a época a titular. Fez dupla com Chidozie nas duas primeiras jornadas e com Maurício nas quatro seguintes. No último jogo dessa série, em Famalicão, foi expulso por acumulação de amarelos e cumpriu castigo na ronda seguinte, altura em que Luís Castro testou a dupla Chidozie-Maurício, que pegou de estaca.

Quando as alternativas eram Aloísio, Ricardo Carvalho ou Mangala

Como se disse, a questão que se coloca não é propriamente a ausência de dois titulares, uma vez que é algo recorrente, mas sim a falta de alternativas.

No século XXI, a primeira vez que o FC Porto se viu privado de dois jogadores na defesa para um jogo Europeu foi na Taça UEFA de 2000/01, era Fernando Santos o técnico portista. O adversário era o Liverpool, nos quartos de final. Habitualmente, o quarteto defensivo dos dragões nessa temporada era formado por Secretário, Jorge Costa, Jorge Andrade e Esquerdinha.

Na altura, por lesão, Esquerdinha nem sequer integrou a convocatória. Jorge Costa viajou com a equipa mas não recuperou a tempo. O central foi substituído por Ricardo Sila, enquanto Nelson foi chamado para o lado esquerdo da defesa. E a confirmar que eram outros tempos, Fernando Santos ainda ficou com alguém com o estatuto de Aloísio no banco de suplentes.

Apesar disso, o FC Porto, que tinha empatado sem golos nas Antas, perdeu 2-0 e foi eliminado da prova.

Duas temporadas mais tarde, situação idêntica em novo jogo decisivo e novamente nos quartos de final. A missão era ainda mais espinhosa. O FC Porto de José Mourinho tinha perdido nas Antas com o Panathinaikos por 1-0 e tinha de dar a volta à eliminatória na capital grega, como viria a conseguir.

Novamente por lesão, dois habituais titulares não viajaram: Pedro Emanuel e Nuno Valente. Para o lugar do central entrou Ricardo Carvalho que já começava a reclamar mais minutos. Mário Silva foi, também, uma alternativa lógica para o lugar de Nuno Valente. Paulo Ferreira e Jorge Costa completaram o quarteto que venceu o jogo por 2-0, com bis de Derlei, após prolongamento.

Apenas dez anos mais tarde, na época 2012/13, os dragões voltaram a abordar um jogo europeu sem dois defesas habitualmente titulares. E, mesmo inserido numa fase de grupos, foi também um duelo decisivo.

O FC Porto jogava em Kiev, frente ao Dínamo, sabendo que o apuramento estava à distância de um ponto. Mas não havia Maicon nem Alex Sandro (além de Fernando, no miolo), obrigando Vítor Pereira a lançar Abdoulaye, que fez dupla com Otamendi no centro e a puxar Mangala para a esquerda da defesa. Resultou: empate sem golos e apuramento para os oitavos de final garantido.

Nápoles e Munique anunciam crise de opções

Os dois casos mais recentes tiveram desfechos distintos, mas o mesmo foco importante: as alternativas não estavam à altura dos titulares.

Na época 2013/14, o FC Porto de Luís Castro bateu o Nápoles em casa por 1-0, mas perdeu Maicon, por lesão, e Alex Sandro, por castigo, para a segunda mão. O terceiro central do grupo era Abdoulaye, que não estava inscrito, sendo o técnico obrigado a lançar Diego Reyes, que, até então só jogara na Taça de Portugal e na equipa B para o centro da defesa. O lado esquerdo obrigou a improvisar com Ricardo Pereira que também tinha poucos minutos na equipa principal do FC Porto e nenhuns como lateral esquerdo.

O jogo foi de sofrimento, o FC Porto começou a perder, mas deu a volta e, mesmo tendo sofrido o empate nos descontos, festejou o apuramento para os quartos de final.

Ricardo em ação frente ao Nápoles

O outro exemplo volta a envolver Ricardo e Reyes, é mais recente e correu muito pior. Falamos, claro está, do descalabro de Munique, na época passada.

O FC Porto de Julen Lopetegui surpreendera o mundo do futebol na primeira mão, ao bater o gigante Bayern por 3-1. Mas, finda a festa, chegara a hora de pensar nas más notícias: Danilo e Alex Sandro, os laterais titulares estavam castigados. À esquerda, a solução parecia simples e passava por desviar Martins Indi para o corredor. Do outro lado a opção mais óbvia seria Ricardo, novamente a viver um ano na sombra de Danilo e com poucos minutos.

O técnico espanhol preferiu Diego Reyes e entrou em campo com quatro centrais. Acabou da forma que se sabe, sendo que, a meio da primeira parte e já a perder 3-0, Lopetegui ainda trocou o mexicano por Ricardo, mas o mal já estava feito…

Diego Reyes no dia do descalabro de Munique

Aubameyang é o perigo número 1

Jogue quem jogar, uma coisa é certa: o foco maior de atenção estará em Pierre Aubameyang.

O ponta de lança gabonês está a viver e melhor temporada da carreira, terndo já pulverizado os números de todas as temporadas anteriores. Aliás, a média é quase de um golo por jogo. Somando todas as competições, Aubameyang leva 30 golos em 31 jogos.

Os números da carreira de Aubameyang:

2008/98- Dijon: 39 jogos, 10 golos

2009/10- Lille: 34 jogos, 2 golos

2010/11- Mónaco: 23 jogos, 2 golos; Saint Etienne: 14 jogos, 2 golos

2011/12- Saint-Etienne: 38 jogos, 18 golos

2012/13- Saint-Etienne: 45 jogos, 21 golos

2013/14- Borussia Dortmund: 38 jogos, 16 golos

2014/15- Borussia Dortmund: 46 jogos, 25 golos

2015/16- Borussia Dortmund: 31 jogos, 30 golos

Esta época, Aubameyang já fez dois hat-tricks e, curiosamente, num espaço de três dias. Marcou três golos ao FK Qabala a 22 de outubro, a contar para a fase de grupos da Liga Europa, e outros três ao Augsburgo, no dia 25, para a 10ª jornada da Liga.

Bisou, ainda, em cinco ocasiões e, dos 31 jogos que soma, ficou em branco em dez, sendo que, em dois desses, foi apenas suplente utilizado.