O FC Porto anunciou ter realizado «o maior negócio de sempre da história do desporto nacional» e no domingo de madrugada anunciou-o em comunicado enviado à CMVM: o acordo alcançado com a Portugal Telecom, proprietária da Meo, ascende a um valor total de 457,5 milhões de euros por 10 anos de direitos televisivos dos jogos da equipa principal (a partir de 2018/19), contemplando ainda 12 anos e meio de exclusividade do Porto Canal, mas não só.

O acordo é semelhante ao que o Benfica fez com a NOS, vendendo direitos dos jogos em casa e o exclusivo da BTV por 400 milhões em dez anos, mas que acrescenta à PT o estatuto de patrocinadora principal das camisolas para os próximos sete anos e meio, bem como a exploração comercial de alguns espaços publicitários no Estádio do Dragão.

A verba é astronómica para os padrões nacionais. De tal forma que resolvemos trocar por miúdos.

Quanto valem afinal 457,5 milhões de euros?

Para começar, é desde logo verba suficiente para limpar todo o passivo do grupo FC Porto, que segundo o último relatório e contas ascende a 276 milhões de euros, com a inclusão da sociedade EuroAntas nas contas da SAD.

Por falar nisso, se fosse necessário um novo estádio do Dragão, esta verba daria para construir quatro, mas se o investimento fosse no plantel principal, talvez desse para contratar o trio MSN do Barcelona: bem negociado, talvez os catalães deixassem sair Messi, Suárez e Neymar a troco de quase 450 milhões…

Considerando a transferência de Cristiano de Manchester para Madrid o acordo PT/FC Porto chegaria para contratar cinco CR7, desde que o pagamento fosse feito em prestações suaves.

Caso os 457,5 milhões fossem investidos em reforços mais realistas a verba daria para pagar mais de uma centena de Danilos Pereiras ou, na pior das hipóteses, mais de vinte Imbulas (que, recorde-se é a contratação mais cara de sempre dos dragões: 20 milhões de euros).
 
Negócio vale mais do que vendas de jogadores entre 2011 e 2015
Mais a sério: este valor chega para cobrir o orçamento para esta época de todos os clubes do futebol nacional nesta temporada e quase que compraria todos os jogadores dos plantéis dos três grandes, segundo a estimativa feita pelo site alemão Transfermarkt, especializado na avaliação do mercado futebolístico: com base nestes valores, os plantéis de FC Porto (178 milhões), Benfica (158) e Sporting (170,5) chegam aos 506 milhões.

Ao longo dos últimos anos, a principal fonte de receitas dos portistas têm sido as vendas de algumas das suas principais estrelas.

Para chegar a valores próximos dos alcançados com este contrato, o FC Porto teria de somar as receitas brutas neste particular nos cinco últimos defesos.

Mesmo batendo recordes no mercado europeu, as vendas desde 2011/12 até 2015/16 (num total de 437 milhões) não chegariam para cobrir o valor acordado com a PT. E aqui estão incluídas as vendas de craques como Radamel Falcao, Hulk, James Rodríguez, João Moutinho, Mangala, Jackson Martínez, Danilo, Alex Sandro… e mais algumas dezenas de jogadores transferidos em quase meia década.

Tudo somado, 457,5 milhões de euros é, de facto, muito dinheiro… mas sempre tendo em conta, naturalmente, a realidade nacional.

Basta atravessar a fronteira para verificar que, apesar da maior equidade imposta pela centralização dos direitos televisivos na Liga Espanhola, esta verba chegaria para a partir da próxima época pagar pouco mais do que uma temporada de direitos televisivos de Real Madrid (373 milhões) ou Barcelona (369 milhões).

Juntos, os dois colossos do futebol espanhol ficam com uma fatia de mais de um terço do bolo de 1 900 milhões que são distribuídos a cada época pelos clubes do primeiro escalão através do recente acordo alcançado para o triénio 2016-2019.

O que equivale a dizer que, apesar das verbas astronómicas que FC Porto e Benfica alcançaram com a PT e com a NOS, respetivamente, considerando apenas a venda dos direitos televisivos, por temporada estes dois grandes do futebol português não têm neste capítulo uma receita superior aos mais pequenos clubes da Liga Espanhola: detalhando por ano, Almeria e Córdoba (ambos com 39 milhões/época), Rayo Vallecano (36 milhões/época) ou Eibar (34 milhões/época) batem-se com FC Porto e Benfica…

Ainda assim, comparações à parte, um negócio de 400 milhões ou mais num país pequeno e em crise não deixa de causar espanto a qualquer adepto de futebol.